China amplia restrições à exportação de terras raras e ameaça cadeia global de chips

A China impôs uma nova rodada de restrições às exportações de minerais estratégicos, afetando diretamente a indústria de semicondutores e armazenamento de dados. A partir de agora, produtos que contenham elementos como Escândio e Disprósio — vitais para aplicações em rádiofrequência e dispositivos de memória — exigirão uma licença especial para serem exportados, segundo determinação do Ministério da Economia chinês.

O impacto dessas medidas atinge gigantes como Broadcom, Qualcomm, TSMC, Samsung, Seagate e Western Digital, aumentando a pressão sobre a cadeia global de produção de chips.

Onde são usados o Escândio e o Disprósio?

O Escândio é um componente fundamental em módulos de RF (radiofrequência), utilizados em smartphones, estações base 5G e dispositivos Wi-Fi 6 e 7. Sua aplicação ocorre na forma de nitreto de alumínio com escândio (ScAlN), que melhora a eficiência de filtros acústicos essenciais para comunicação de alta frequência.

Apesar de necessário em pequenas quantidades por wafer, sua ausência pode comprometer todo o processo de fabricação.

o Disprósio é indispensável na produção de HDs e veículos elétricos. Ele é adicionado a ímãs de neodímio-ferro-boro para aumentar a resistência térmica, uma característica crítica em motores e bobinas de leitura de discos rígidos.

O elemento também é utilizado em memórias MRAM, dispositivos resistentes à radiação e até reatores nucleares.

A escassez de escândio e disprósio não se limita à indústria de chips, mas ameaça setores estratégicos como telecomunicações, defesa e energia

Reprodução/SMIC

Nova camada de restrições

Essa é a terceira etapa de um plano mais amplo de Pequim para controlar sua influência sobre a cadeia global de alta tecnologia. As rodadas anteriores já haviam restringido elementos como gálio, germânio, tungstênio, índio e antimônio, todos com aplicações na produção de chips avançados.

No caso do Germânio, por exemplo, sua utilização em silício tensionado é crítica para a fabricação de chips de alto desempenho, como os produzidos por Intel e TSMC. Já o Gálio é vital para dispositivos de radar, sensores infravermelhos e comunicação por satélite.

A atual ampliação atinge também gadolínio, térbio, itérbio, lutécio e samário – todos com aplicações específicas e difíceis de substituir sem impactos em custos ou desempenho.

Reprodução/Micro

Uma vantagem construída

Apesar de seu nome, as “terras raras” são relativamente abundantes na crosta terrestre. A supremacia chinesa nesse mercado, na verdade, vem da capacidade industrial de extrair, processar e refinar esses minerais de forma econômica e eficiente. Há indícios de que o governo chinês subsidie esse setor, tornando inviável a concorrência em outras partes do mundo.

Com o uso estratégico das restrições, Pequim pode estar abrindo espaço para novos players entrarem no mercado, em especial empresas fora da China que agora enxergam uma oportunidade lucrativa em suprir essa lacuna global.

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O que pode acontecer?

Neste moment, a comunidade internacional observa atentamente os próximos movimentos da China. A política de escalada controlada sugere que novas rodadas de restrição devem surgir, mirando materiais cada vez mais específicos e cruciais.

Ao mesmo tempo, há um entendimento de que o governo chinês não deseja colapsar toda a cadeia de produção global, da qual também depende.

Enquanto isso, empresas em outros países devem acelerar projetos de exploração, mineração e refinamento de terras raras, buscando reduzir sua vulnerabilidade diante das decisões de Pequim.

Fonte: Ministério do Comércio da República Popular da China

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