Ditadura e lutas sociais: o legado de Dom Angélico, 1º bispo da Diocese de Blumenau

Dom Angélico, 1º bispo da Diocese de Blumenau

Dom Angélico, 1º bispo da Diocese de Blumenau, morreu no final da tarde desta terça-feira (15), em São Paulo – Foto: Reprodução/ND

Morreu na tarde desta terça-feira (15) o bispo emérito de Blumenau, Dom Angélico Sândalo Bernardino, aos 92 anos, em São Paulo. O religioso marcou a história da Igreja no Brasil, mas também ficou conhecido pelo legado de defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.

Quem foi Dom Angélico?

Dom Angélico nasceu em Saltinho, no interior de São Paulo, em 1933. Ele iniciou estudando filosofia no Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo, e teologia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, no Rio Grande do Sul. Depois estudou jornalismo e foi nomeado sacerdote em 1959.

Dom Angélico foi padre da Igreja Católica em Ribeirão Preto, em São Paulo, entre 1959 e 1974 e bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Paulo entre 1975 e 2000. Mais tarde, nos anos 2000, os caminhos do religioso o guiaram para Santa Catarina. Em 19 de abril daquele ano, ele foi nomeado como o primeiro bispo da Diocese de Blumenau.

Ainda em Santa Catarina, ele foi presidente do regional Sul-4 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ele morou em Blumenau até 2009 e em 18 de fevereiro teve a sua renúncia aceita por limite de idade. Depois disso, o bispo voltou para São Paulo.

Lula e Dom Angélico eram “amigos de longa data”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva era “amigo de longa data” de Dom Angélico. No início de abril, Lula e a primeira-dama Janja fizeram uma visita ao bispo em São Paulo.

O presidente e bispo se conheceram e se tornaram amigos durante as greves dos metalúrgicos do ABC, nos anos 70 e 80. O bispo também celebrou o casamento de Lula e Janja, oficializou a união dos filhos do presidente e batizou os netos de Lula.

presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dom Angélico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dom Angélico eram amigos de longa data – Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert/ND

Em 7 de abril de 2018, foi à sede do Sindicato dos Metalúrgico, em São Bernardo do Campo, para celebrar um ato ecumênico em memória da ex-primeira-dama Marisa Letícia, a pedido de Lula.

O legado de Dom Angélico

Dom Angélico foi um dos principais representantes do setor progressista da Igreja durante a ditadura militar. Engajado em movimentos sociais, como a luta por moradia e saúde na Zona Leste, o bispo atuou como coordenador da Pastoral Operária, representando pela demandas dos trabalhadores.

O bispo ainda teve um papel fundamental na campanha por Eleições Diretas, em 1984, e a descoberta de uma vala clandestina no Cemitério Municipal Dom Bosco, em 1990. A ditadura teria ocultado mais de mil ossadas humanas no local. Dom Angélico celebrou a tradicional missa do Dia de Finados no cemitério, acolhendo familiares das vítimas.

Dom Angélico, 1º bispo da Diocese de Blumenau

Dom Angélico foi o 1º Bispo da Diocese de Blumenau. Foto: Divulgação/Diocese de Blumenau/ND 

Bispo estava internado há quase seis meses

Desde novembro de 2024, Dom Angélico estava internado e foi submetido a cirurgias no Hospital Santa Catarina, em São Paulo. Após receber alta, ele continuou recebendo cuidados domiciliares na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zat, na Arquidiocese de São Paulo.

Velório

O velório terá início na quarta-feira, 16 de abril, às 8h, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zat, em São Paulo.

A Santa Missa de corpo presente será celebrada às 15h, presidida por Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo. Após a celebração, o corpo seguirá para Blumenau.

A chegada à Catedral de Blumenau está prevista para as 10h da quinta-feira, 17 de abril. Na Catedral, será celebrada a Santa Missa às 14h, seguida do sepultamento na cripta da própria Catedral blumenauense.

Políticos lamentam a morte de Dom Angélico

A morte de dom Angélico repercutiu nas redes sociais. O presidente Lula lamentou, em nota divulgada nas redes sociais, a morte do bispo emérito Dom Angélico.

“Guardo as lembranças do grande amigo que fez da ternura e da bondade os princípios que guiaram sua vida. “Amai-vos e não armai-vos” era sua lição para todos nós”, disse.

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