Espiões da Coreia do Norte driblaram sanções dos EUA para atacar profissionais de criptomoedas

Espiões cibernéticos norte-coreanos criaram duas empresas nos Estados Unidos, violando sanções do Tesouro norte-americano, para infectar com software malicioso desenvolvedores que trabalham no setor de criptomoedas, de acordo com pesquisadores de cibersegurança e documentos analisados pela Reuters.

As empresas — Blocknovas e Softglide — foram criadas nos estados do Novo México e de Nova York por meio do uso de identidades e endereços falsos, disseram à Reuters pesquisadores da Silent Push, uma empresa norte-americana de segurança cibernética. Uma terceira empresa, a Angeloper Agency, está vinculada à iniciativa, mas não parece estar registrada nos Estados Unidos.

“Este é um raro exemplo de hackers norte-coreanos conseguindo, de fato, estabelecer entidades corporativas legais nos EUA para criar frentes empresariais usadas para atacar candidatos a emprego desavisados”, disse Kasey Best, diretor de inteligência de ameaças da Silent Push.

Os hackers buscavam infectar candidatos a empregos falsos com pelo menos três tipos de malware conhecidos, vinculados a operações cibernéticas da Coreia do Norte. O malware pode ser usado para roubar informações, facilitar o acesso a redes e carregar outras formas de malware.

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Elite de hackers

Os hackers fazem parte de um subgrupo dentro do Lazarus Group, uma equipe de elite de hackers norte-coreanos ligada ao Reconnaissance General Bureau, a principal agência de inteligência estrangeira de Pyongyang, disse a Silent Push.

O FBI se recusou a comentar especificamente sobre o Blocknovas ou o Softglide. Mas, nesta quinta-feira (24), um aviso do FBI publicado no site do Blocknovas afirmava que o domínio havia sido apreendido “como parte de uma ação policial contra cibercriminosos norte-coreanos que utilizavam este domínio para enganar indivíduos com anúncios de emprego falsos e distribuir malware”.

Antes da apreensão, autoridades do FBI disseram à Reuters que o departamento continua “a se concentrar em impor riscos e consequências, não apenas aos próprios atores da RPDC (Coreia do Norte), mas a qualquer um que esteja facilitando sua capacidade de conduzir esses esquemas”.

Um funcionário do FBI disse que as operações cibernéticas norte-coreanas são “talvez uma das ameaças persistentes mais avançadas” enfrentadas pelos EUA.

A missão da Coreia do Norte nas Nações Unidas em Nova York não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

“Esses ataques utilizam personas falsas oferecendo entrevistas de emprego, o que leva à implantação de malware sofisticado para comprometer as carteiras de criptomoedas dos desenvolvedores. Eles também têm como alvo as senhas e credenciais dos desenvolvedores, que podem ser usadas para ataques posteriores a empresas legítimas”, disse Best.

A Silent Push conseguiu confirmar diversas vítimas, “especificamente por meio da Blocknovas, que é de longe a mais ativa das três empresas de fachada”, disseram os pesquisadores em um relatório compartilhado com a Reuters antes da publicação.

Sanções

A Reuters analisou os documentos da Blocknovas e da Softglide registrados no Novo México e em Nova York, respectivamente. A agência não conseguiu localizar as pessoas nomeadas nos documentos.

O registro da Blocknovas listava um endereço físico em Warrenville, Carolina do Sul, que aparece no Google Maps como um terreno baldio. Já a Softglide parece ter sido registrada por um pequeno escritório de contabilidade em Buffalo, Nova York.

A atividade representa a evolução contínua nos esforços da Coreia do Norte para atingir os setores de criptomoedas, em uma tentativa de captar recursos para o governo norte-coreano.

Além de roubar moeda estrangeira por meio de hacks, a Coreia do Norte enviou milhares de profissionais de TI ao exterior para trazer milhões para financiar o programa de mísseis nucleares de Pyongyang, de acordo com os Estados Unidos, a Coreia do Sul e as Nações Unidas.

A presença de uma empresa controlada pela Coreia do Norte nos Estados Unidos constitui uma violação das sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês). O Ofac faz parte do Departamento do Tesouro. A presença também viola as sanções das Nações Unidas que proíbem atividades comerciais norte-coreanas destinadas a auxiliar o governo ou as forças armadas do país.

O Departamento de Estado de Nova York informou à Reuters que não comenta sobre empresas registradas no estado. O gabinete do secretário de Estado do Novo México informou à Reuters, por e-mail nesta quinta-feira, que a empresa estava registrada no sistema online de empresas de responsabilidade limitada domésticas do estado. “O registro foi feito em conformidade com a lei estadual, utilizando um agente registrado, e não haveria como nosso escritório saber de sua conexão com a Coreia do Norte”, disse um representante do escritório.

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