Estabilidade financeira global: A nova vítima do tarifaço do Trump?

As reviravoltas e a arbitrariedade nos aumentos de tarifas promovidos por Donald Trump têm gerado forte desconfiança dos investidores globais em relação ao dólar. Caso esse cenário persista, o sistema financeiro internacional poderá enfrentar uma crise de desvalorização de ativos ainda mais grave do que a do subprime, em 2008.

Após suspender temporariamente tarifas para dezenas de países e elevar a taxa de importação da China em até 245%, os Estados Unidos agora propõem dividir os prejuízos com seus aliados. Trump tem pressionado outras nações a adotarem postura semelhante frente à China — um recado claro à Europa, Reino Unido e Japão.

Caso sigam o exemplo americano, esses aliados enfrentarão um cenário desafiador, ou até uma recessão. O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, prevê para os EUA um aumento da inflação e do desemprego, queda na renda e desaceleração econômica devido ao excesso de tarifas comerciais.

As futuras decisões desses países podem agravar a turbulência tarifária já em curso, contaminando ainda mais os mercados financeiros globais. Moedas como o iene japonês, o euro e a libra esterlina, que vêm se valorizando com o enfraquecimento do dólar, podem perder o status de porto seguro.

Essa instabilidade pode se espalhar para os mercados da Europa, Japão e Reino Unido, elevando a volatilidade cambial e aumentando o risco de uma nova crise financeira global. Títulos soberanos desses países também correm risco, com possíveis quedas bruscas de preço e deterioração nas classificações de crédito soberano.

Nas últimas semanas, o mercado de títulos do Tesouro dos EUA deu sinais de alerta. Em vez de buscar segurança nesses papéis, investidores globais passaram a vendê-los. O resultado foi uma queda de 15% nos preços e uma disparada na taxa de rendimento de 3,9% para 4,5%.

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Suspeita-se que Japão e China, principais detentores de títulos americanos, estariam por trás do movimento. Embora possam ter feito ajustes em suas carteiras, o volume do mercado supera suas reservas, tornando improvável que tenham sido os únicos responsáveis.

Com o aumento dos rendimentos dos títulos americanos, o preço de ativos reais também cai, devido à elevação das taxas de desconto aplicadas no mercado.

A estabilidade financeira global pode ser duramente testada nessa nova fase de tarifaços, marcada por desconfiança em relação ao dólar e pela tentativa dos EUA de socializar perdas comerciais. Para agravar a situação, o embate político entre Trump e Powell eleva ainda mais as incertezas quanto à estabilidade da moeda americana e o uso de ferramentas como a FIMA Repo Facility e a gestão do eurodólar.

Enquanto os EUA rompem com a ordem global de comércio para favorecer seus próprios interesses, a China busca manter a abertura e a globalização. A economia chinesa mostra resiliência: o PIB cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, impulsionado pela indústria (5,9%) e pelos serviços (5,3%). A expansão do uso global do renminbi, com a abertura do mercado interno, reforça esse movimento.

Para reduzir o risco sistêmico, países e investidores podem adotar estratégias como: diversificação das relações comerciais com outros blocos regionais; uso de moedas alternativas ao dólar; troca de títulos de longo prazo por instrumentos de curto prazo; e a diversificação de reservas internacionais com ativos descorrelacionados, como ouro e renminbi.

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

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