A versão caótica da moda Y2K é a tendência divertida dos últimos tempo

A exaustão causada pela overdose de minimalismo, composições impecáveis e afins resultou em um retorno ao maximalismo. Uma sede por autenticidade que se desdobra de diversas formas, como na tendência apelidada de chaotic Y2K, ou clashion. Como o nome já anuncia, caos e virada do milênio ditam o mood. Livre, descomplicado e propositalmente não polido, pense em um mix de indie sleaze, tonalidades neon, o guarda-roupa da Britney de 98 a 2003, bolsa com pelúcia e camiseta “J’adore Dior”, mas com um twist moderno.

Se a moda Y2K nos anos 2000 celebrava o futurismo pop e a estética da MTV, sua versão caótica atual é mais suja, descompromissada e orgulhosamente estranha. Nos últimos tempos, os melhores exemplos são Timothée Chalamet, na turnê de divulgação de seu filme Um Completo Desconhecido, em que interpreta Bob Dylan, e o comportamento das maiores popstars de hoje, como Chappell Roan e Charli XCX, que combinam roupas maximalistas com uma atitude espontânea, desbocada e deliciosamente fora do script.

Fugindo do comportamento usual para estrelas do seu porte, Chalamet adotou uma estratégia atípica para promover seu último longa: apareceu em podcasts populares que normalmente não recebem celebridades hollywoodianas, chegou a uma première de bicicleta, comentou jogo de futebol americano na ESPN e até reproduziu — com direito a peruca loira de franjinha — um look usado por Bob Dylan nos anos 90. Tudo em nome da divulgação. Cumprindo seu compromisso profissional, mas se divertindo, e muito,  no processo. Visualmente, a vibe acompanhou: muitas marcas queridinhas da época Y2K como True Religion, produções em couro total, cartela de cores vivas, streetwear com bolsa da Chanel e por aí vai.

As popstars da vez, carregam essa mesma energia, que vai além do look. A atitude é onde tudo começa: coragem de falar o que pensam, comportamento espontâneo, rejeição total ao script engessado da celebridade treinada por equipes de relações públicas. As roupas viram extensão direta desse mindset. Billie Eilish, Charli XCX, Chappell Roan, Doechii, Reneé Rapp e tantas outras vem incorporando a postura com gosto. 

Casaco de pele volumoso e bolsa branca com detalhes, remetendo à moda Y2K.

Foto: Héloïse Salessy (Reprodução/Instagram)

Mas e como a tendência é traduzida na prática? A filosofia do “tudo ao mesmo tempo agora” se aplica perfeitamente: bolsas com charms, bonés estampados, peças texturizadas, muito jeans.

Pessoa vestindo jaqueta rosa e shorts, estilo inspirado na moda Y2K, andando em espaço urbano.

Foto: Addison Rae (Reprodução/Instagram)

A casualidade impera, esqueça qualquer ideia de polidez. A bagunça é ingrediente fundamental, mesmo que seja cuidadosamente planejada.

Addison Rae é outro exemplo de popstar que encapsula o estilo como ninguém. Na checklist,  lingerie à mostra, muitas peças de athleisure com detalhes de zíper e capuz, bolsas maxi e acessórios girly não podem faltar.

Jeans de cintura baixa e boca levemente aberta são apostas, bônus se contarem com algum tipo de bordado ou bolsos trabalhados. Camisetas coloridas e com frases divertidas, meias-calças vibrantes com mini saias, cintos no quadril… são vários truques de styling que dão forma ao caos.

Nos acessórios, os chapéus são obrigatórios: dos caricatos cowboy a bonés e gorros de lã, algum modelo precisa estar no repertório. Descombinar é a ordem com criatividade de sobra para usar o que der vontade sem restrições.

A nostalgia também tem contornos lúdicos, vide a mania de charms pendurados nas bolsas. Já popular há algumas temporadas, a tendência ganhou um novo fôlego com a adição de bonecos de pelúcia, como os Labubus da Popmart. O acessório funciona como um lembrete afetuoso de uma época mais ingênua, proporcionando escapismo através do humor.

Alguns itens vem ganhando revival nos últimos tempos e se encaixam perfeitamente na vibe, como o icônico lenço de caveira de Alexander McQueen e a camiseta “J’adore Dior”, lançada na época de John Galliano na maison — e que acaba de ser relançada por Maria Grazia Chiuri no desfile de Inverno 25. 

Falando em passarela, a temporada mais recente contou com várias leituras do clima caótico. Sandy Liang subverteu o estilo lady-like ao trazer um toque de comédias românticas e uma boa dose de ironia.

Já na Collina Strada, silhuetas oversized, influência grunge e estampas tie dye se fundem em um remix energético de referências.

Na Coach, sobreposições maximalistas e bolsas carregadas de penduricalhos traduziram esse mesmo espírito. Referências vintage com toques inesperados de brilho entregando um equilíbrio interessante entre glamour e desleixo. Tipo alguém que se vestiu correndo, mas com propósito.

As interpretações diversas têm pelo menos uma coisa em comum: o incentivo a não se levar tão a sério, refletido em uma maneira de se vestir sem seguir regras. Às vezes um tanto over, mas que carrega uma leveza quase infantil e, acima de tudo, autenticidade. Provavelmente uma resposta emocional ao excesso de curadoria e controle que vemos nas redes sociais, a moda Y2K caótica rejeita a perfeição e permite experimentação sem medo de errar. A ideia é se divertir com a própria imagem, celebrando nossas (múltiplas e ricas) personalidades em tempos ditados por algoritmos.

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