Um bate-papo sobre beleza, viagens e estilo com Mari Becker

Quem, assim como eu, ama a Fórmula 1 e acorda de madrugada para acompanhar o GP da China ou da Austrália, sabe muito bem quem são os narradores dos finais de semana de cada grande prêmio. Inclusive, sabe quem é Mari Becker — jornalista, natural de Porto Alegre e responsável por cobrir quase todos os finais de semana de corridas, de Shanghai ao Brasil. 

Recentemente, tive o prazer de conversar com a Mari pela primeira vez. Senti como se estivesse trocando ideia com uma amiga que já viveu mil vidas e, mesmo assim, segue curiosa sobre a beleza do mundo. Aliás, não só a Mari, mas o Alfredo também apareceu para dar um oi especial — caso você não o conheça, Alfredo é a gaivota que já virou quase um inquilino na janela do apartamento da Mari. 

Conversamos sobre tudo (não eu e o Alfredo, mas teria sido interessante): um pouco de beleza, um pouco de estilo pessoal e um tiquinho de Fórmula 1 — afinal, não resisti e tive que puxar um papo sobre. Abaixo, você confere como foi essa conversa.

Mari Becker, vestindo camisa listrada, bebe chimarrão ao ar livre.

Foto: Mariana Becker (Reprodução)

Logo no começo da nossa conversa, desejei feliz aniversário adiantado, estávamos a um dia do seu aniversário de 54 anos, e já lancei a pergunta que daria o tom do papo: como a relação dela com moda e beleza foi se formando ao longo dos anos? A resposta veio com a honestidade de quem não está interessada em performar nada, e eu amei isso. Mari me contou que cresceu em uma casa onde aparência nunca foi, exatamente, uma prioridade. A beleza, embora percebida, não era glorificada. “Na minha casa, a gente admirava mais quem era interessante, charmoso, culto… estar impecável nunca foi o foco”, ela me disse. 

Mesmo assim, existia ali uma convivência com o refinamento. A avó, italiana, era dona de um gosto apuradíssimo. Costurava vestidos de baile para a mãe da Mari nos anos 50 e 60, vestidos cheios de estrutura, feitos em tafetá, cortados no olho e finalizados no mesmo dia. “É uma arte”, ela lembra, com admiração nos olhos. Apesar do olhar sensível, Mariana nunca deixou que moda ou beleza decidissem os rumos da vida dela. “Não é uma coisa que me guia. Eu gosto, eu reparo, mas nunca gastaria fortunas com isso. Meus maiores gastos são com viagens, com experiências, com tempo.”

Quando ela me contou que tem uma amiga que chegou a voltar para casa porque o capacete de moto tinha amassado o cabelo, ela riu. “Isso nunca me afetaria. Eu sou conhecida como a descabelada do paddock — e tô em paz com isso.” Foi nesse momento que eu percebi que estávamos bem alinhadas: ambas em busca de conforto, significado e momentos reais.

[Moda] não é uma coisa que me guia. Eu gosto, eu reparo, mas nunca gastaria fortunas com isso. Meus maiores gastos são com viagens, com experiências, com tempo.”

Quando a conversa virou para consumo consciente, comentei dos meus próprios dilemas. Como alguém que trabalha com o mundo da moda e da beleza, eu preciso estar por dentro de tudo: os virais do TikTok, os lançamentos de skincare, os batons sensação. Mas, aos poucos, venho priorizando outras coisas. Uma viagem com uma amiga, por exemplo. Ficar num hostel (o que nunca fiz, mas estou animada pra tentar). E Mari me acolheu nisso também. Ela não condena o consumo — pelo contrário, acha que alguns objetos são verdadeiras obras de arte. Mas sempre pondera: “Vale mais essa bolsa ou mais cinco dias em Kyoto?” E quando ela escolhe comprar algo, é sempre pensando se aquilo vai proporcionar prazer por muito tempo.

Ela me contou de um casaco de camurça que a mãe dela comprou há quase 20 anos e que até hoje é um dos favoritos. Ou de uma descoberta recente no Japão: uma lojinha escondida cheia de peças tradicionais, como kimonos e obis. Ela escolheu a parte de cima de um kimono preto com desenhos dourados de outono. “Eu sei que vou guardar isso pra sempre”, disse. 

Mari Becker em close com expressão contemplativa, cabelos loiros ao vento, sob a luz suave do sol.

Foto: Mariana Becker (Reprodução)

Com tantas viagens e mudanças de clima extremas — de um fim de semana gelado no Canadá a um calorão seco em Abu Dhabi —, quis saber como a Mari cuida da pele em meio à rotina corrida de uma jornalista de Fórmula 1. A resposta foi bem sincera, e eu amei isso: “eu queria muito ser regrada, mas não sou. Já comprei cinco produtos depois de ouvir vendedora de loja dizendo ‘olha o que isso faz na tua pele!’, usei uma ou duas vezes e… larguei. Nem é por mal, mas sei que não vou manter.” Entre tentativas e abandonos, ela reconhece que o tempo também ensina a parar de gastar com o que não faz sentido. Hoje, se mantém fiel apenas ao básico: um bom hidratante e protetor solar — este último, inclusive, ela mesma admite esquecer com frequência. “Eu sou culpada disso também”, confessei, e a gente riu juntas do pequeno desleixo cúmplice.

Mari ainda compartilhou que, por já ter surfado bastante, sente que o sol deixou suas marcas. No dia da entrevista, aliás, ela tinha nadado e ainda não tinha lavado os fios: “Olha aqui, tá seco de sal, mas eu cuido, viu? Pesquiso bons shampoos, vejo o que ajuda cabelo com reflexo, que vai ficando muito fininho…”. Skincare mesmo, daqueles de rotina organizada e com marcas queridinhas, não é muito sua praia.

No nécessaire, Mari é prática. “Tem sempre um gloss, um batom vermelho ou carmim bem forte, um rímel e um… como é o nome? Disfarçador de olheira? Corretivo!”, riu. A marca? Ela mesma não lembrava na hora — “acho que é Givenchy ou Guerlain” —, e fez questão de levantar pra checar e conferiu. Era um Givenchy.

Pessoa com expressão serena ao pôr do sol, apoiada em cerca de madeira com taça ao fundo. Mari Becker.

Foto: Mariana Becker (Reprodução)

Não cheguei a comentar, mas, antes de começarmos nosso bate-papo, Mari havia se dado uma massagem de presente de aniversário. Pequenas regalias do autocuidado, que ela prefere se presentear no lugar de uma penteadeira lotada de produtos. Em casa, cultiva pequenos prazeres como montar uma mesa bonita, usar roupas confortáveis e cheias de afeto — como seu yukata de algodão. Esses momentos são seus verdadeiros luxos.

Ela ainda compartilha sua rotina matinal: acorda cedo, medita e vai nadar no mar antes mesmo de o sol nascer por completo. Nadar, seja inverno ou verão, é um dos seus maiores rituais de conexão com o corpo, a natureza e ela mesma. Porém, quando está pulando de avião em avião, a rotina é outra — mais corrida, literalmente. “Eu acordo, olho o WhatsApp pra ver se tem algo urgente, mas se não tiver, só depois de escovar os dentes, tomar um café… aí sim eu começo a estudar”, explica.

Pessoa sendo entrevistada em frente à garagem da equipe de corridas de Gabriel Bortoleto.

Foto: Mariana Becker (Reprodução/Lucas Brito)

Sou capaz de usar um clássico e de sair com os sapatos que as pessoas me apontam na rua.”

E quando o assunto é estilo pessoal, Mari faz questão de frisar o conforto e a autenticidade como princípios inegociáveis. “Eu uso coisas que são confortáveis, mais soltinhas, mas com um corte legal, uma estampa diferente”, conta. Peças com referências orientais, como calças amplas ou camisetas japonesas com estampas únicas, fazem parte do seu guarda-roupa — muitas trazidas de viagens. “Eu agora, por exemplo, quando fui pro Japão, comprei um negócio que as pessoas apontam pra mim na rua quando uso. Mas eu amo. Sinto muito”, brinca. O que também ficou evidente, foi o seu amor por botas e casacos: “Eu tenho que me segurar. Eu gosto muito. E agora me mudei, aí parece que eu tô juntando tudo. Tenho tanta meia que parece que dá pra vestir até a terceira geração”, ri.

Sua última aquisição? Um par de finger shoes japoneses que despertaram olhares curiosos em Mônaco — “todo mundo nota tudo”, conta, rindo do senhor italiano impecável que elogiou seu sapato no elevador. “Eles nascem com um olho pra pasta e outro pra moda.” A peça divide espaço com um clássico italiano de veludo chamado La Friulana, com toque vintage e ar de atemporalidade.

Para ela, moda é liberdade e experimentação. “Sou capaz de usar um clássico e de sair com os sapatos que as pessoas me apontam na rua.” E, quando o assunto é mala de mão, Mari é prática: tecidos leves, versáteis e nada que pinique. “Eu não consigo usar nada que exija sacrifício físico”, conta. 

Pessoa loira encostada em parede antiga, olhando para o mar azul ao fundo.

Foto: Mariana Becker (Reprodução)

Levar um chale de lã, investir em vestidos leves de seda ou microfibra e escolher bem os sapatos são truques que ela domina como quem coleciona carimbos no passaporte e histórias pelo caminho. E entre essas histórias, tem também as que se guardam no estômago e no coração: Mari ama cobrir o GP de Suzuka, no Japão, cozinhar os pratos que aprende pelo mundo, como os que provou no Marrocos, e se emociona ao lembrar das músicas que embalam sua vida. “Bah, guria, isso é sacanagem, eu tenho mil músicas, uma pra cada momento!”, diz, quando pergunto sobre uma música predileta. Passaredo, de Tom Jobim e Chico Buarque — “é quase como um mergulho no mar que eu gosto tanto” — e Lígia, que ela tocava e cantava com o pai, foram as escolhidas. No fim, Mari é isso: uma mulher que anda leve, mas carrega o mundo com poesia, música, alma viajante — ah, e uma nécessaire básica, e tá tudo bem.

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