Votorantim Cimentos faz trimestre de ‘manutenção’, mas segue com caixa para investir

Tradicionalmente, o primeiro trimestre é o mais fraco do ano para a Votorantim Cimentos — com menor geração de caixa e impacto limitado no lucro consolidado. Com fábricas em manutenção, calendário encurtado pelo Carnaval no Brasil e inverno rigoroso no Hemisfério Norte, os três primeiros meses de 2025 serviram também para uma espécie de manutenção no balanço da maior fabricante de cimentos do país.

A companhia registrou prejuízo líquido de R$ 325 milhões no trimestre, ante lucro de R$ 17 milhões um ano antes. Apesar do resultado negativo no bottom line, o CEO Osvaldo Ayres afirma que o desempenho foi consistente: as vendas subiram, o capex avançou 35% e a alavancagem seguiu sob controle.

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Segundo o CFO, Antonio Pelicano, a empresa concentrou neste início de ano uma série de ajustes contábeis, como a revisão da vida útil de ativos — o que elevou em 64% a depreciação, para R$ 742 milhões. Além disso, houve o reconhecimento de uma perda de R$ 81 milhões com a venda da operação na Tunísia e o pagamento de R$ 554 milhões em dividendos extraordinários para o grupo Votorantim.

A receita líquida cresceu 1% na comparação anual, somando R$ 5,6 bilhões. As vendas globais de cimento chegaram a 7,7 milhões de toneladas, avanço de 2%. Já o lucro operacional (Ebitda) ajustado foi de R$ 598 milhões, com queda de 14% em moeda local. A margem caiu dois pontos, para 11%.

Vendas de cimento

O mercado brasileiro foi novamente o principal motor da companhia, com receita de R$ 3,1 bilhões (alta de 5%). “Estamos vendo uma reação importante do Minha Casa Minha Vida, do varejo e também de concessões e infraestrutura”, diz Ayres. O Ebitda local foi de R$ 427 milhões, queda de 17% frente ao mesmo período do ano anterior, refletindo as paradas técnicas nas fábricas.

Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos
Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos (Divulgação)

Nos Estados Unidos, o clima adverso e as manutenções derrubaram o Ebitda para R$ 136 milhões negativos. Já na Europa, Ásia e África, a receita cresceu 2% e o Ebitda avançou 33% em moeda local, puxado por bons resultados na Espanha e na Turquia. 

Na África, a operação da Tunísia foi descontinuada, e a venda dos ativos no Marrocos está em fase final de conclusão. Na América Latina, o desempenho foi positivo na Bolívia e levou a uma alta de 6% no Ebitda da região.

Investimentos

O capex totalizou R$ 548 milhões no trimestre, com destaque para os projetos de expansão em Salto de Pirapora (SP) e Edealina (GO), no Brasil. A companhia também iniciou a modernização de fornos nas unidades de Málaga e Alconera, na Espanha, com foco na substituição de combustíveis fósseis.

Mesmo com todas as variáveis externas bastante voláteis e desafiadoras, a gente fica muito orgulhoso de manter o pé acelerado no ritmo de investimentos, porque isso nos posiciona para capturar oportunidades ou lidar com desafios que apareçam”, diz Ayres.

Uma das oportunidades que a Votorantim Cimentos segue monitorando é o desfecho da recuperação extrajudicial da InterCement, que pode desembocar na venda de alguns ativos no Brasil. A Votorantim Cimentos chegou a fazer uma proposta no ano passado, mas as conversas não avançaram.

Gestão da dívida

A alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 1,95 vez, ligeiramente acima dos 1,86x registrados no mesmo período de 2024. O caixa encerrou o trimestre em R$ 4,1 bilhões, valor suficiente para cobrir as obrigações financeiras pelos próximos três anos.

Em maio, a companhia também emitiu R$ 1 bilhão em debêntures, com vencimento em 2032 e custo de DI + 0,67% ao ano — reforçando a estratégia de alongamento da dívida com custo competitivo. “Estamos com uma maturidade média de dívida de sete anos”, afirmou Pelicano.

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