Donos de Times Esportivos Permanecem Tranquilos Apesar das Tarifas de Trump

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Quando o Boston Red Sox entrou em campo para a abertura da temporada em 2020, não havia torcedores aplaudindo nas arquibancadas, nem filas nas lanchonetes ou clientes circulando pela loja do time. As ruas ao redor do Fenway Park, normalmente movimentadas em julho, haviam se transformado em uma cidade fantasma.

Essa era a realidade na Major League Baseball (MLB) — e em inúmeras outras ligas esportivas ao redor do mundo — enquanto a pandemia de Covid-19 esvaziava estádios, cancelava jogos e devastava os resultados financeiros das equipes. O Red Sox, que havia gerado US$ 519 milhões (R$ 2,947 bilhões) em receita em 2019, viu esse número cair cerca de 71%, para US$ 152 milhões (R$ 864,4 milhões). A média da MLB caiu para US$ 122 milhões (R$ 693 milhões), ante os US$ 346 milhões (R$ 1,965 bilhão) do ano anterior, segundo estimativas da Forbes.

No entanto, essa queda não se refletiu no valor das equipes. As franquias da MLB valorizaram, em média, 3% de 2020 para 2021, atingindo um valor estimado de US$ 1,9 bilhão (R$ 10,792 bilhões), e subiram mais 9% no ano seguinte, chegando a US$ 2,1 bilhões (R$ 11,928 bilhões). O Red Sox teve um desempenho ainda melhor, com alta de 5% e depois 13%, alcançando US$ 3,9 bilhões (R$ 22,152 bilhões) em 2022. Hoje, o time está avaliado em US$ 4,8 bilhões (R$ 27,264 bilhões), o terceiro maior valor do beisebol.

“Se você olhar para 2008 ou para a Covid em 2020, era preciso apertar o cinto e saber que, no curto prazo, haveria um baque financeiro”, diz Tom Werner, bilionário presidente do Fenway Sports Group, que é dono do Red Sox, do Pittsburgh Penguins da NHL e do Liverpool FC da Premier League. “Mas isso faz parte de ser um investidor, certo? Tudo sofreu financeiramente durante a Covid, e você só precisa aguentar firme e ter paciência.”

Essa paciência está prestes a ser testada novamente, já que investidores de todos os setores enfrentam mais um ano de incertezas provocadas pelas políticas tarifárias rigorosas do presidente Donald Trump. O índice S&P 500 caiu 4% até agora em 2025, tendo registrado uma queda de 15% antes de uma recente recuperação impulsionada pela suspensão da maioria das tarifas por Trump. Economistas do JP Morgan estimam em 60% a chance de os EUA entrarem em recessão este ano, enquanto o Goldman Sachs calcula essa probabilidade em 45%.

Mesmo assim, Werner e seus colegas donos de times esportivos estão mais bem posicionados do que quase qualquer outro grupo para enfrentar a tempestade. Há décadas, os valores das equipes nas quatro principais ligas norte-americanas tendem a se manter estáveis — ou até subir um pouco — durante crises econômicas mais amplas.

Crescimento mesmo na crise

Werner pode ter que lidar com tarifas também em seu trabalho como produtor de televisão após Trump ameaçar taxar filmes produzidos no exterior. Mesmo assim, ele rejeita a ideia de que franquias esportivas são “à prova de recessão” — expressão frequentemente usada para descrever o setor. Afinal, durante a pandemia, os donos precisaram arcar com prejuízos operacionais altíssimos. O Red Sox, por exemplo, apresentou um prejuízo de US$ 70 milhões (R$ 397,6 milhões) em 2020, após registrar um lucro de US$ 89 milhões (R$ 505,5 milhões) no ano anterior.

No entanto, mesmo durante três recessões recentes, o valor médio das equipes nas quatro principais ligas norte-americanas mostrou crescimento ano após ano, segundo estimativas da Forbes.

Ao mesmo tempo, o valor das equipes nessas quatro ligas aumentou cerca de 2.000% em média desde 1998, quando a Forbes começou a avaliar franquias esportivas — mais do que o dobro do crescimento do S&P 500 no mesmo período. Apesar do abalo econômico causado pelos ataques terroristas de 11 de setembro, as franquias se valorizaram 20% entre 2000 e 2002. Depois, subiram 7% entre 2007 e 2008 e se mantiveram estáveis em 2009, resistindo à volatilidade da crise do subprime.

E essa tendência vai ainda mais longe do que os dados da Forbes mostram. O Ross-Arctos Sports Franchise Index — um indicador de crescimento no valor das equipes, criado pela empresa privada de investimentos Arctos em parceria com a Ross School of Business da Universidade de Michigan — reúne dados trimestrais de dezembro de 1960 a junho de 2024. Ao longo dessas 255 medições, o índice caiu apenas 39 vezes — e apenas 16 vezes desde 1976.

E ao longo desses últimos 48 anos, o índice registrou quedas em trimestres consecutivos apenas três vezes, e nunca por mais de três trimestres seguidos. A Arctos também calcula que as franquias esportivas apresentaram um crescimento composto anual de 13% desde 1960 — desempenho melhor do que os 7% do S&P 500 no mesmo período.

Receitas garantidas

As ligas e os times conseguem se proteger de quedas mais amplas do mercado principalmente por causa de contratos de direitos de transmissão de longo prazo, patrocínios e assentos premium, que garantem uma parte significativa da receita com vários anos de antecedência.

Por exemplo, os times da NBA arrecadaram em média US$ 45 milhões (R$ 255,6 milhões) com camarotes de luxo e outros setores premium durante a temporada 2023-24, segundo estimativas da Forbes, representando quase 12% da receita total. Os direitos de transmissão nacional representam uma fatia ainda maior — 35% na NBA naquela temporada (US$ 132 milhões por time, ou R$ 749,8 milhões) e impressionantes 60% na NFL em 2024 (US$ 381 milhões, ou R$ 2,163 bilhões), com contratos de TV nacional que se estendem até 2033.

Segundo o Ross-Arctos Sports Franchise Index, que mede a valorização das franquias esportivas, as quatro principais ligas da América do Norte registraram queda trimestral apenas 39 vezes nos 257 trimestres analisados desde 1960. Os times também se beneficiam de fatores que não estão diretamente ligados às finanças, começando pelo fato de que há apenas 124 franquias nas quatro grandes ligas. Quando um grupo de bilionários começa a disputar a compra de um time, a emoção pode tomar conta. “A longo prazo, a escassez e o fator diversão sempre apontam para cima e para a direita,” comentou por e-mail Mark Cuban, coproprietário minoritário do Dallas Mavericks.

Claro que já houve tropeços. Em 2010, a NBA comprou a equipe atualmente conhecida como New Orleans Pelicans, então chamada Hornets, por US$ 318 milhões (R$ 1,805 bilhão), quando George Shinn, que era dono da franquia desde que ela começou a jogar em Charlotte, em 1988, enfrentava dificuldades financeiras.

Após a crise de 2008, Shinn não conseguiu encontrar um comprador adequado. Ainda assim, mesmo em uma venda forçada, Shinn recebeu quase 10 vezes o valor de seu investimento inicial de US$ 32,5 milhões (R$ 184,6 milhões). Os Pelicans, agora pertencentes a Gayle Benson, acrescentaram mais um zero à sua avaliação: a Forbes estima que a franquia vale US$ 3,05 bilhões (R$ 17,334 bilhões).

Torcedores mantêm o jogo vivo

Segundo o Ross-Arctos Sports Franchise Index, os times das quatro grandes ligas americanas apresentaram crescimento composto anual de 12,3% nos últimos 20 anos, superando várias outras classes de ativos.

A principal área em que as condições de mercado podem afetar os balanços das franquias é a operação dos jogos, como vendas de ingressos, lanches e produtos licenciados. E embora a economia dos EUA não pareça tão crítica quanto nos mercados em baixa de 2008, 2020 ou 2022, os americanos começam a apertar os cintos.

Os gastos pessoais totais cresceram 1,8% no primeiro trimestre — o ritmo mais lento em dois anos — enquanto o Produto Interno Bruto encolheu 0,3%, a primeira queda trimestral em três anos. Os pedidos de seguro-desemprego estão aumentando, em parte devido aos cortes implementados pelo Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk, e o índice de expectativas do consumidor do Conference Board — que mede a percepção sobre condições econômicas, oportunidades de emprego e renda futura nos próximos seis meses — está em seu nível mais baixo desde 2011.

Historicamente, no entanto, esse tipo de pessimismo não impede que as famílias usem parte de suas economias para visitar o estádio do time favorito. “Você precisa de uma distração quando passa por tempos difíceis, sejam econômicos ou não,” diz Marc Ganis, presidente da consultoria Sportscorp, que já trabalhou com diversos donos de times. “As pessoas precisam de distração, e a principal que temos no nosso país são os esportes.”

Ou, como resume Werner: “obviamente você precisa colocar comida na mesa, mas acho que as pessoas ainda vão aos jogos em casa e, com certeza, vão assistir pela televisão.”

A base de torcedores de Werner já demonstrou lealdade impressionante em momentos semelhantes: o Red Sox teve todos os jogos em casa esgotados entre 2003 e 2013, foram 820 partidas seguidas, mesmo com a crise financeira no meio desse período. O presidente do FSG também destaca um exemplo mais recente: o jogo do time no Dia dos Patriotas, em abril.

“Uma coisa é quando a Taylor Swift vem à sua cidade uma vez a cada dois anos — dá pra vender 100 mil ingressos,” diz Werner. “O extraordinário sobre o Red Sox é que o jogo começou às 11 da manhã, e 35 mil pessoas deram um jeito de ir ao Fenway Park. Isso realmente mostra o tipo de relação que esse time tem com a região da Nova Inglaterra.”

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