Esqueça a curva de juros: geração Tik Tok olha para outros indicadores para antecipar a recessão

No início, foram os preços mais altos dos ovos, a queda na demanda por caixas de papelão e as pistas de dança vazias. Agora, são as calças jeans de cintura baixa, os flash mobs — até mesmo o retorno de Lady Gaga à música pop. A busca da geração TikTok por sinais de dificuldades econômicas se expandiu para incluir, bem, quase tudo.

Para os mais conectados, os presságios de desgraça também incluem fontes serifadas, a popularidade das unhas postiças, coques bagunçados, a recente saída pública de Lena Dunham de Nova York e a decisão de Gwyneth Paltrow de voltar a comer queijo. Responder a uma publicação aparentemente inofensiva nas redes sociais com a frase “indicador de recessão” virou um meme por si só.

Às vezes, as postagens apontam para sinais potencialmente preocupantes, como uma parceria recente entre a DoorDash e a Klarna, que permite aos usuários pagar por entregas de refeições em parcelas. Mais frequentemente, elas simplesmente destacam uma tendência do final dos anos 2000, antes da crise, que voltou, como flash mobs ou músicas da cantora de TiK ToK, Kesha.

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Dados não convencionais

Os TikTokers não são os únicos americanos em busca de pistas em dados não convencionais, observando que os relatórios governamentais sobre inflação e mercado de trabalho podem oferecer um panorama incompleto ou defasado da economia.

Investidores, grandes e pequenos, analisam tudo, desde inadimplência de cartão de crédito até o embarque de contêineres no Porto de Los Angeles.

O ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, acompanhou com entusiasmo as vendas de roupas íntimas masculinas, que caem em tempos difíceis porque, bem, quem vai saber? O Efeito Batom, por sua vez, propõe que as mulheres esbanjam em luxos menores quando os orçamentos domésticos estão apertados, tornando o aumento das vendas um sinal de problemas econômicos.

A cultura pop não se preocupa com essas medidas, nem mesmo com medidas mais tradicionais. As pessoas estão evitando a análise preferida de Wall Street com a Regra Sahm ou os rendimentos dos títulos do Tesouro para inventar as suas próprias.

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De penteados à música pop

A revista Glamour analisou o que é ridículo e o que é sério. A Vogue detalhou um penteado mais acessível, que deixa as raízes à mostra, chamado “loiro da recessão“. O jornal Tennessean de Nashville vasculhou a música pop em busca de insights econômicos.

“As pessoas precisam de uma narrativa. Precisam de algo que possam entender”, disse Christopher Clarke, economista da Universidade Estadual de Washington que posta regularmente no TikTok e em outras plataformas de mídia social. E se você for uma pessoa comum tentando entender a economia, disse ele, “não vai usar a curva de juros”.

Mesmo que os estilos de calças ou as mudanças na dieta de uma atriz tenham precedido a próxima recessão, correlação não é sinônimo de causalidade, como os especialistas em dados econômicos frequentemente contestam.

Um gestor de recursos demonstrou certa vez que a produção de manteiga em Bangladesh poderia tecnicamente “explicar” grande parte da variação nos retornos anuais do S&P 500.

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Indicadores de memes

Mas os indicadores de memes às vezes estão conectados a tendências potencialmente significativas, como mudanças nos gastos das famílias.

Alguns observadores apontam bares e casas noturnas mais vazios como evidência de que mais consumidores estão reduzindo gastos. Uma empresa de cuidados com a pele passar a vender ovos pode ser um sinal de que produtos essenciais estão se tornando luxos, enquanto a popularidade das unhas postiças pode ser resultado da redução de gastos com manicure.

Outros observaram que a queda nas gorjetas em clubes de strip-tease — tema de um tweet viral em 2022 — pode sinalizar uma queda na renda discricionária.

Mas a desaceleração da vida noturna não faz parte dos dados: a receita em bares e casas noturnas nos EUA aumentou entre 2023 e 2024, de acordo com um relatório de fevereiro da IBISWorld, e deve aumentar novamente este ano.

Alguns “indicadores de recessão” podem ter uma relação menos direta com o comportamento econômico. Fãs de música sugerem que o gênero recentemente classificado como “pop de recessão” e o ressurgimento de artistas como Lady Gaga e Kesha — duas cantoras que dominaram o rádio durante a Grande Recessão — podem ser um prenúncio de outra crise.

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Moda como indicador financeiro

Outro exemplo: a retomada da popularidade do vestuário formal de trabalho. Uma teoria é que as pessoas se sentem menos seguras em seus empregos e, portanto, mais pressionadas a se apresentarem profissionalmente.

Não é a primeira vez que as pessoas recorrem à moda em busca de dicas financeiras. Economistas de sofá citam há muito tempo o Índice de Bainhas, que remonta ao início do século XX e levanta a hipótese de que as saias femininas ficam mais compridas quando a economia piora.

Pesquisas contestam essa teoria, mas isso não impediu a analista de dados Madé Lapuerta de seguir a tendência. A moda “está intimamente ligada à forma como as pessoas estão se sentindo”, disse Lapuerta, que administra a conta do Instagram DataButMakeItFashion.

“Tendências não precisam ser o único indicador ou o mais forte, mas elas nos dizem algo”, disse ela.

No final de março, Lapuerta fez uma publicação alertando os usuários sobre o retorno de algumas tendências clássicas da moda, ligadas à recessão — como o business casual e, sim, as saias mais longas. As saias longas quase quadruplicaram em popularidade na semana anterior, enquanto a moda corporativa disparou 39%. “Este é o MEU mercado de ações”, escreveu ela.

Algumas semanas depois, o mercado de ações despencou. O S&P 500 caiu 9% em uma semana após o anúncio de tarifas do presidente Trump no início de abril, embora o mercado tenha se recuperado posteriormente.

Indicadores que não são indicadores

Alguns podem chamar isso de coincidência. Lapuerta vê isso como uma evidência de que insights econômicos podem estar escondidos em lugares inesperados. “Ainda é interessante observar uma correlação”, disse ela.

Será que mudanças culturais — na moda, no cinema ou na música — podem realmente prever para onde a economia está indo? Economistas dizem que é improvável. Mas falar em recessão tem o hábito de se transformar em uma profecia autorrealizável: famílias ou empresas podem reduzir os gastos devido a preocupações econômicas, eventualmente estimulando a própria recessão que temiam. É um dos motivos pelos quais Wall Street é tão reticente em relação à “palavra que começa com R”.

Nesse sentido, pode ser que toda essa conversa sobre indicadores de recessão seja, na verdade, o maior indicador de recessão de todos.

“No mínimo, as pessoas estão ansiosas“, disse Sean Monahan, analista de tendências que escreveu sobre como o clima econômico influencia as tendências da moda. “Na maioria das vezes, quando as pessoas falam sobre a economia, é um mau sinal.”

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