Como Vivien Wong Construiu um Império Multimilionário de Mochis

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Vivien Wong nunca teve a intenção de criar uma nova categoria de produto. Quando cofundou a Little Moons com seu irmão, em 2010, não buscava fama nem investidores – apenas acreditava que sorvete envolto em uma camada macia de mochi, bolinho tradicional japonês, poderia ser mais saboroso do que qualquer outra sobremesa do mercado.

Ao longo da década seguinte, essa convicção deu origem a uma marca global presente em 34 países, com a receita saltando de 10 milhões de libras (cerca de R$ 75 milhões) para 50 milhões de libras (aproximadamente R$ 380 milhões) em apenas dois anos.

Neste ano, essa trajetória também lhe rendeu uma indicação ao prêmio Veuve Clicquot Bold Woman – um reconhecimento não apenas por ter conquistado espaço nos freezers, mas por ter reinventado o setor.

A trajetória da empreendedora até o império de mochis

Mas o caminho de Wong até o mundo da gastronomia foi tudo menos linear. “Estudei Economia na Universidade de Reading, na Inglaterra, antes de começar minha carreira no Barclays, onde me tornei contadora certificada”, conta.

Apesar de ter iniciado no mundo corporativo, o espírito empreendedor já estava presente há muito tempo. “Meus pais, imigrantes asiáticos de primeira geração, foram uma grande inspiração”, diz. Em 1990, eles abriram uma padaria asiática de sucesso no norte de Londres. “Embora minha mãe sempre tenha me incentivado a trilhar meu próprio caminho, desde cedo admirei o propósito e a satisfação de construir algo do zero.”

A conexão com a gastronomia sempre existiu, mas foi só cerca de dez anos atrás que os irmãos começaram a pensar ativamente em ter um negócio familiar.

Eles notaram uma mudança nos hábitos alimentares do Reino Unido em relação à culinária japonesa: os pratos salgados estavam ganhando novas interpretações, mas as sobremesas ainda não tinham destaque. “Sempre amamos o mochi tradicional com pasta de feijão vermelho que nossos pais faziam, e em viagens ao Japão e aos EUA descobrimos mochis recheados com sorvete”, ela lembra. “Foi aí que veio o ‘clique’: e se déssemos um toque britânico moderno ao mochi, usando sorvete como recheio?”

Essa combinação de nostalgia da infância com curiosidade global se tornou a base da Little Moons.

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Sucesso no TikTok

O processo foi tudo, menos simples. Não havia máquinas para produzir mochi em larga escala no Reino Unido. Tampouco existia uma categoria de snacks congelados em que eles pudessem se encaixar. “Levamos dois anos desenvolvendo o produto, sem nenhuma máquina pronta para usar”, diz ela. “Cada conquista parecia enorme: contratar o primeiro funcionário, conseguir o primeiro restaurante parceiro, desenvolver a embalagem para o varejo.”

Com o tempo, esse crescimento passo a passo deu resultado. Primeiro, o produto chegou a chefs e restaurantes. Depois, ao varejo. E em 2021, tudo mudou – não por meio de publicidade tradicional ou aporte de investidores, mas pelo TikTok.

O que começou com alguns usuários postando “caças ao Little Moons” nos corredores de supermercados rapidamente se transformou em um fenômeno viral. “A hashtag #littlemoons ultrapassou 500 milhões de visualizações”, diz Wong. “Esse momento acelerou nosso crescimento, nos rendeu novos contratos e nos transformou em uma marca global.”

Crescimento e próximos passos

Nos bastidores, porém, o cenário era caótico. “De um dia para o outro, a demanda aumentou 1000%, mas as restrições da pandemia limitaram nossa capacidade de ampliar a produção. Enfrentamos escassez global de embalagens, atrasos na cadeia de suprimentos e dificuldades com equipe.”

Mesmo com o crescimento explosivo, Wong e seu time mantiveram a produção interna e trabalharam para preservar a cultura da empresa. “Nosso time triplicou quase da noite para o dia, mas seguimos firmes e aumentamos a receita de 10 milhões de libras para 50 milhões de libras em apenas dois anos, produzindo tudo internamente.”

A decisão de crescer com calma e manter o controle hoje define a estratégia da Little Moons. A empresa foi autofinanciada por muitos anos, e só buscou investimento externo em 2022. “Trouxemos investidores quando já tínhamos uma visão clara da próxima fase de crescimento.”

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Hoje, a empresa não é mais sinônimo apenas de mochi recheado com sorvete. Ela se expandiu para novos formatos – como cheesecakes e os Refreshos, mochis com recheio de sorbet – e ajudou a moldar um novo hábito de consumo. “Agora, quando alguém vai até o freezer e escolhe um mochi ao invés de um chocolate ou biscoito, isso mostra o quanto avançamos.”

Mas inovar leva tempo: “As pessoas costumam não entender que inovação em alimentos é um processo demorado. Desde o desenvolvimento até a aceitação do público, nada acontece da noite para o dia. Nós criamos algo totalmente novo – um produto diferente, um formato diferente e uma nova forma de pensar snacks congelados. Foram 12 anos de esforço consistente para tornar a Little Moons uma marca líder. O sucesso não vem do nada, mas a sua hora pode chegar.”

Esse crescimento planejado também levou a Little Moons a conquistar, em 2023, a certificação B Corp, selo internacional concedido a empresas que atendem a altos padrões de desempenho social, ambiental, transparência e responsabilidade. “Eles nos orientam na redução da pegada de carbono, na melhoria da origem dos ingredientes e no empoderamento da equipe. Não é só uma certificação, é um guia para crescer de forma sustentável.”

À medida que a marca cresce, o conceito de ousadia também evoluiu para Wong. “No início, ser ousada era acreditar na nossa visão, mesmo quando ninguém mais acreditava”, conta. “Nos diziam o tempo todo que ninguém entenderia o que era mochi. Mas vimos sinais de sucesso e continuamos.”

Hoje, essa palavra tem outro significado para ela: liderança – saber delegar, contratar bem, abrir espaço para o time. “Agora, enxergo ousadia também em usar minha experiência para orientar outras empreendedoras e contribuir além da Little Moons.”

No plano pessoal, o próximo passo de Wong é compartilhar mais abertamente sua história. “Sinto que tenho uma missão cada vez mais clara de dividir minha jornada — não por reconhecimento, mas na esperança de inspirar outras mulheres que estejam pensando em empreender”, diz. “Você não pode ser o que não consegue ver.”

Vivien e Howard Wong, fundadores da Little Moons

Divulgação

Vivien e Howard Wong, fundadores da Little Moons

*Lela London é colaboradora da Forbes US. Ela é escritora e editora especializada em gastronomia e bebidas, com foco em tendências culinárias, restaurantes e bares.

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