Como Certos Limites Estão Sabotando Suas Relações Afetivas

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Para entender como um limite pode acabar te isolando, você deve começar olhando para o que te motivou a estabelecê-lo em primeiro lugar.

Pense em um relacionamento passado em que você se sentiu ferido ou traído pelo parceiro e imediatamente pensou: “Não vou deixar ninguém se aproximar demais de mim emocionalmente.” Talvez, naquele momento, isso tenha parecido fortalecedor. Você cuidou de si mesmo ao evitar a vulnerabilidade e manter as conversas em um nível superficial.

Mas, com o tempo, esse mesmo limite pode ter criado distância, até mesmo com amigos próximos, afinal, eles não entenderiam o que você estava passando, certo? Talvez você tenha percebido que as pessoas pararam de te procurar, deixando você com uma sensação de desconexão. Se isso soa familiar, é possível que os limites que você estabeleceu acabaram te isolando.

Mesmo limites bem-intencionados podem ter efeitos contrários, levando à desconexão ou à criação de muros emocionais rígidos. Aqui estão três armadilhas comuns em relação a limites que devemos evitar se quisermos nos sentir mais conectados às pessoas ao nosso redor:

1. Confundir Hiperindependência com Limites Saudáveis

Alguns de nós insistem em fazer tudo sozinhos, não importa o quão difícil seja. Enquanto algumas pessoas naturalmente são boas em cuidar de si mesmas, outras aprendem isso com o tempo. A solidão inicial dá lugar a uma independência que começamos a valorizar.

Mas isso se torna um problema quando nos recusamos a pedir ajuda, mesmo quando estamos com dificuldades, seja para desabafar após um dia difícil ou carregar uma TV até o terceiro andar do prédio, insistindo teimosamente que conseguimos sozinhos.

Nossa resposta imediata pode ser: “Não preciso de ninguém.” Mas será que isso é verdade?

Às vezes, essa resposta vem de experiências passadas, em que pedir ou até mesmo esperar ajuda de outros resultou em dor e decepção, porque essas pessoas não corresponderam às nossas expectativas.

Assim, evitamos pedir ajuda novamente e nos tornamos hiperindependentes. Isso vira um mecanismo de defesa, onde criamos muros fortes em nome da independência, convencendo-nos de que não depender de ninguém é um sinal de força. Muitas vezes, isso vem de mágoas passadas, mas pode levar à solidão crônica ou ao esgotamento.

Toda vez que você enfrenta algo sozinho, por mais que se esforce ou tente melhorar, ainda pode parecer pesado. Você pode desejar apoio, mas se conter por medo de pedir. Mas não há vergonha em contar com as pessoas à sua volta.

Um estudo de 2019 publicado no Personality and Social Psychology Bulletin mostra que os relacionamentos saudáveis prosperam quando os parceiros se sentem próximos, sem abrir mão da autonomia. Quando priorizamos apenas um dos dois, o outro enfraquece. A hiperindependência ocorre quando a autonomia é supervalorizada como um mecanismo de defesa contra feridas, traumas ou medo da vulnerabilidade.

Não é preciso depender sempre dos outros, mas limites rígidos e inflexíveis podem se transformar rapidamente em barreiras para a intimidade, seja em relações românticas ou platônicas. A autopreservação começa a parecer evitação ou distanciamento emocional, criando espaço para ressentimentos, falhas de comunicação e até rompimentos.

Por isso, é necessário praticar a interdependência seletiva, aprender a confiar que podemos lidar com conflitos e, ainda assim, depender de pessoas seguras, mesmo que às vezes elas nos irritem. Limites devem nos ajudar a navegar com segurança pelos relacionamentos, não cortar laços.

2. Cortar Pessoas ao Menor Sinal de Desconforto

Irritação é um pequeno preço que todos pagamos para manter a convivência em comunidade. No entanto, algumas pessoas adotam uma abordagem de tolerância zero quando alguém demonstra uma falha ou comete um erro. Embora seja vital nos protegermos, essa mentalidade parte da teoria de que precisamos estar sempre na defensiva para nos sentirmos seguros.

De acordo com um estudo de 2019 publicado na Group Processes & Intergroup Relations, quando alguém do grupo atrapalha os demais (não cumprindo sua parte ou causando problemas), o cérebro reage com uma espécie de desconforto mental chamado dor psicológica. Essa dor age como um sistema de alerta, avisando que essa pessoa pode ser uma ameaça ao sucesso do grupo e que precisamos fazer algo a respeito.

Assim como a dor física nos faz tirar a mão do fogo, a dor psicológica nos leva a nos distanciar emocional ou socialmente de quem pode prejudicar nosso bem-estar. Isso pode nos levar a excluir, ignorar ou cortar essa pessoa.

Quando alguém impõe limites extremos, muitas vezes é porque já sentiu esse tipo de dor psicológica antes, talvez tenha sido frequentemente decepcionado. Então, para evitar essa dor novamente, passa a se proteger cortando rapidamente as pessoas ou evitando intimidade.

De certa forma, essa estratégia pode funcionar por um tempo. Mas se essa reação se torna exagerada, pode levar ao afastamento de pessoas que não representam ameaça real.

Sempre que estabelecemos limites, devemos nos lembrar da importância de nos comunicarmos de forma eficaz com os outros, em vez de evitá-los diante do primeiro sinal de conflito. Só nos sentimos emocionalmente seguros quando confiamos nas pessoas ao nosso redor o suficiente para lidar com sentimentos desconfortáveis e resolver as diferenças.

3. Usar Limites Para Evitar o Excesso de Doação em Vez de Escolher Quando Doar

Existe uma diferença entre doar e ceder. Você pode ter vivenciado isso quando alguém precisou da sua ajuda e você se sentiu obrigado a ajudar, mesmo sem querer.

Pessoas que cedem normalmente não gostam de ajudar nessas circunstâncias e prefeririam evitar completamente a situação. Ceder pode gerar esgotamento, especialmente quando você ultrapassa seus próprios limites tentando ajudar, sem se respeitar.

Como consequência, você começa a dizer para si mesmo: “Nunca mais vou me sobrecarregar por ninguém.” E então começa a reter seu tempo e afeto, com medo de se decepcionar depois de ter se doado. Você se retrai, protegendo-se, às vezes tanto, que para de se entregar mesmo quando isso realmente importa.

No entanto, você não precisa estabelecer os mesmos limites com todas as pessoas. Está tudo bem fazer um esforço extra por um amigo próximo, sem esperar muito em troca, desde que isso esteja alinhado com os seus valores. O ideal é que seja algo voluntário, e não por obrigação.

Saber a diferença é o que nos permite estabelecer limites intencionais e manter conexões com quem amamos, ao mesmo tempo em que nos protegemos.

Na próxima vez que sentir vontade de se retrair e deixar de demonstrar carinho por alguém, pare e se pergunte: você está protegendo sua paz ou apenas evitando o desconforto natural dos laços humanos? A cada interação, você aprende mais sobre si mesmo e estabelecer limites se torna não só mais fácil, como também mais pessoal.

Esse alinhamento interno te permite se entregar plenamente aos relacionamentos. Você aprende a cultivar a confiança de se importar profundamente, ao mesmo tempo em que sabe quando proteger sua energia ou se afastar.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

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