Como o Café Abriu Caminhos para a Fotografia de Sebastião Salgado

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Sebastião Salgado, renomado fotógrafo brasileiro que morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, tinha uma relação umbilical com o café. Não bastasse o seu local de nascimento, o município de Aimorés, em Minas Gerais, conhecido pelo cultivo de grão, seus pais eram produtores do café e cacau, e criavam gado leiteiro na Fazenda Bulcão, de 700 hectares.

Desde os sete aos 14 anos, Salgado ajudava o pai na secagem dos grãos. Ao longo de sua vida, ainda que tenha se formado em economia e depois ter seguido o caminho da fotografia, o café nunca saiu de foco.

Economista na Organização Internacional do Café

No início dos anos 1970, o grão ainda não era protagonista dos seus registros, mas já era presente em sua vida profissional. Entre os anos de 1971 e 1973, Salgado trabalhou na Organização Mundial do Café (OIC), principal entidade responsável por coordenar e promover a cooperação entre os países produtores e consumidores de café.

Por lá, ele atuava em missões internacionais, especialmente na África, analisando o impacto da produção cafeeira em países em desenvolvimento, como Angola, Moçambique, Congo, Tanzânia e Etiópia. Na época, a Costa do Marfim era o maior produtor de café do continente e o terceiro maior do mundo, atrás apenas do Brasil e da Colômbia.

O café abriu seus caminhos para a fotografia. Fazer cliques com a câmera da sua esposa, Lélia Wanick Salgado, durante as viagens à trabalho era um hobby, que, futuramente, se tornaria o seu maior feito. Com uma câmera nas mãos e decidido a comunicar a realidade do mundo por meio do seu olhar, Salgado deixou a OIC e entrou, oficialmente, para a fotografia.

O período na África foi decisivo para Salgado passar a documentar, em preto e branco, as histórias mais impactantes das últimas décadas: refugiados, trabalhadores submetidos a esforços físicos extremos, comunidades indígenas à margem da modernidade e paisagens remotas ainda não afetadas pela industrialização.

Divulgação – Perfume de Um Sonho, Sebastião Salgado

Sebastião Salgado fotografou produtores de café ao redor do mundo para o projeto “Perfume de Um Sonho”.

O café pelas lentes de Salgado

O café não escapou dos seus registros. Em 1993, Salgado realizou a exposição “Trabalhadores”, que reuniu 149 fotografias feitas entre 1986 e 1992, que retratam as diferentes faces do trabalho manual ao redor do mundo, entre elas, estavam imagens de cafeicultores. No projeto “Êxodos”, dos anos 2000, o café ainda capturava o seu olhar.

Em 2002, a Illy Café, empresa italiana de café espresso, propôs que Salgado fotografasse a cafeicultura ao redor do mundo para o projeto “Perfume de um Sonho”. O fotógrafo capturou diversas etapas da produção do café no Brasil, Índia, Indonésia, Etiópia, Guatemala, China, Colômbia, Costa Rica, El Salvador e Tanzânia durante 10 anos.

As 75 fotografias que resultaram do projeto foram expostas em diversos países, como Veneza, Milão, São Paulo e Nova York. As fotos também estão reunidas no livro que leva o nome da iniciativa, acompanhadas de textos de Andrea Illy, CEO da Illycaffè.

De volta às origens

Em 1998, Salgado e a esposa decidiram embarcar em um projeto revolucionário: reflorestar a antiga e degradada Fazenda Bulcão. Para isso, o casal criou o Instituto Terra, com objetivo de recuperar a vegetação na propriedade de sua família e reflorestar a área de Mata Atlântica no entorno da fazenda.

Juntos, eles conseguiram recuperar 700 hectares com espécies nativas do bioma, transformando a área em uma referência mundial de restauração ecológica. Em entrevista a um jornal britânico, Salgado contou que, no começo, eles tinham um viveiro de 25 mil árvores. Depois, foram para 125 mil. Hoje, a floresta tem espaço para 550 mil árvores por ano.

Em 2023, o instituto criou o Programa Terra Doce, com o objetivo de recuperar ao menos 4.200 nascentes na região por meio do plantio de 2 milhões de árvores.

Com o investimento de R$ 70 milhões do banco KfW, da Alemanha, e da WWF Brasil, entidade ambiental, a ideia é desenvolver sistemas agroflorestais, que combinam práticas agrícolas, como o cultivo de cacau, pupunha, mandioca, banana e café, e o plantio de mata nativa, em pequenas e médias propriedades. A meta, até 2027, é ter 10 milhões de árvores plantadas.

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