Recuo do IOF expõe divisão no governo e alerta para risco fiscal, avaliam especialistas

A decisão do governo federal de revogar parte do aumento do IOF sobre remessas de investimentos ao exterior revelou um esforço de contenção de danos junto ao mercado financeiro, mas também expôs fragilidades na articulação econômica do Executivo. A medida inicial previa elevar a alíquota de 0% para 3,5% a partir de 2025, afetando especialmente fundos de investimento com atuação internacional.

Diante da forte reação negativa de investidores e economistas, o governo recuou. A revogação foi acertada em reunião no Palácio do Planalto, sem a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cuja ausência foi interpretada como um enfraquecimento político dentro da própria equipe econômica.

A crítica central: aumento do IOF sobre quem sustenta a economia

Para Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, o episódio reflete um padrão recorrente da atual gestão: priorizar arrecadação sobre eficiência.

O governo tem optado por ampliar os gastos com políticas de apelo populista, transferindo a conta para quem produz e investe. O problema é que essa lógica compromete justamente a engrenagem que sustenta a economia. Ao pressionar o setor produtivo com novas cargas, o Estado reduz não só a capacidade, mas também a disposição de empresários e investidores de continuar apostando no Brasil.

Na visão dele, essa lógica compromete a base que sustenta a economia real — o setor produtivo — e mina a confiança de longo prazo no país.

Recuo do aumento do IOF manda sinal ao mercado, mas com ruído

O recuo parcial, que manteve a alíquota zerada para fundos e descartou a alta para pessoas físicas, foi interpretado como uma resposta direta à pressão do capital institucional. Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a sinalização é clara:

O governo buscou minimizar danos à credibilidade fiscal. Mas a simples proposta já acendeu o alerta. Aumentar carga tributária sem planejamento pode gerar fuga de capitais, instabilidade cambial e menor atratividade do Brasil como destino de investimento.”

Aumento do IOF e o impacto direto no ambiente de negócios

A crítica se estende ao impacto das medidas sobre o ecossistema empreendedor. Para João Kepler, CEO da Equity Group, a elevação de tributos, mesmo que revertida em parte, envia sinais negativos ao mercado:

O governo desestimula a formação de poupança interna e encarece o crescimento das empresas. Precisamos de políticas que impulsionem o capital de risco, a inovação e a competitividade — não medidas que geram insegurança regulatória. Crescimento exige visão de longo prazo.”

Contenção de danos fiscais e apoio ao Banco Central

Na outra ponta do debate, o economista Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber), vê a iniciativa como um movimento necessário, ainda que mal executado.

O bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento e o aumento do IOF foram tentativas do Ministério da Fazenda de reafirmar o compromisso com a responsabilidade fiscal. Ainda que o valor seja relevante, ele é insuficiente diante do avanço das despesas.”

Maciel argumenta que, do ponto de vista da atividade econômica, o impacto da contenção de gastos pode ser benéfico ao arrefecer a demanda agregada e colaborar com o controle inflacionário promovido pelo Banco Central.

A medida colabora com a estratégia do BC de controle da inflação, podendo evitar novos ajustes na taxa de juros.

Embora o mercado tenha interpretado positivamente a revogação parcial do aumento do IOF, o episódio gerou desconforto entre autoridades econômicas e elevou a percepção de desorganização interna no governo. A falta de coordenação entre Fazenda, Planalto e Banco Central foi vista como mais um fator de instabilidade em um momento em que o país tenta preservar sua imagem de compromisso fiscal.

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