Ele os chama de bonitos, atraentes e durões: a relação entre de Trump e líderes árabes

Três dias no Oriente Médio colocaram a diplomacia bromance do presidente Donald Trump em plena evidência. “Gosto demais de você”, disse Trump ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, colocando a mão sobre o coração enquanto os dois se despediam na pista do aeroporto. O presidente sírio Ahmed al-Sharaa era “atraente” e “durão”, disse Trump após um encontro surpresa em Riad com o ex-líder rebelde que derrubou o ditador sírio de longa data em dezembro. Trump disse que o emir do Catar e sua família eram “caras altos e bonitos“.

“Você é um homem magnífico”, disse Trump no palácio real, sentado ao lado do xeque Mohamed bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos

Fortalecimento de relações

Os laços estreitos de Trump e líderes árabes contrastam com suas interações com alguns aliados tradicionais dos EUA, incluindo seus homólogos europeus, que têm sido alvo de escárnio e críticas do presidente. E isso sinaliza que Trump está buscando fortalecer as relações com o Golfo como peça central de sua estratégia para o Oriente Médio.

Os monarcas do Golfo retribuíram o carinho de Trump. O xeque Mohamed concedeu a Trump a Ordem de Zayed, a mais alta honraria civil do país. Os três países organizaram escoltas de caças para o Air Force One. Comprometeram-se com trilhões em investimentos comerciais nos EUA. Organizaram desfiles de camelos, cavaleiros, cantores, dançarinos de espadas e festas suntuosas em palácios opulentos. E elogiaram Trump como um rei da política, às vezes ecoando sua retórica com frases como “drill, baby, drill” (em tradução livre, “perfure, querida, perfure”).

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Política externa

A adoração irrestrita de Trump pelo príncipe Mohammed contrasta com o ex-presidente Joe Biden, que prometeu durante a campanha presidencial de 2020 tratar a Arábia Saudita como um “pária“.

Em meio aos altos preços de energia, Biden visitou a Arábia Saudita em 2022 e deu um toque de punho no príncipe Mohammed, em uma tentativa de restabelecer o relacionamento tenso

Esta semana, Trump destacou seus laços com os líderes árabes como centrais para sua política externa. “Trabalharemos juntos, estaremos juntos, teremos sucesso juntos, venceremos juntos e sempre seremos amigos”, disse Trump em seu discurso em Riad.

Foi a maior demonstração, no segundo mandato de Trump, da personalização da política externa do presidente, profundamente influenciada por suas relações com líderes mundiais.

Trump anunciou nesta semana que os EUA suspenderiam as sanções à Síria, em grande parte devido à sua visão sobre Sharaa, identificado como terrorista pelos EUA e que derrubou o ditador Bashar al-Assad no ano passado. Trump também disse que o príncipe Mohammed, da Arábia Saudita, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, influenciaram sua decisão.

“Ah, o que eu faço pelo príncipe herdeiro”, disse Trump durante um discurso na Arábia Saudita. Ao final das declarações de Trump sobre o reino, o príncipe Mohammed se levantou e aplaudiu, exibindo um largo sorriso.

Antes da viagem, os sauditas cogitaram adicionar uma partida de golfe à agenda de Trump, mas os americanos recusaram, disseram pessoas familiarizadas com os planos.

Alianças

O outro lado da abordagem personalizada à política é que irritar Trump pode destruir alianças de longa data.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky descobriu isso da maneira mais difícil, ao discutir com Trump no Salão Oval sobre a possibilidade de chegar a um acordo de paz com a Rússia. Trump expressou publicamente sua frustração com Zelensky, e o encontro atrasou as negociações para encerrar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Analistas afirmam que há uma clara vantagem e uma desvantagem importante no estilo diplomático de Trump. Ter um relacionamento cordial com outro líder pode catalisar avanços durante negociações difíceis e facilitar a coordenação em situações de crise. Mas também pode facilmente fornecer um caminho para que líderes estrangeiros influenciem o presidente.

Presente

O Catar está em negociações com os EUA para presentear o governo com um avião avaliado em US$ 400 milhões para Trump usar como Air Force One. Críticos dizem que Trump não deveria aceitar um presente tão grande, mesmo em nome do governo, porque o objetivo é influenciar sua visão sobre o pequeno Estado rico em petróleo que tem laços com o Irã. Trump disse que só uma “pessoa burra” recusaria tal gesto.

“O que é bom para a pessoa nem sempre é bom para o país”, disse Christopher Preble, diretor do programa Reimagining U.S. Grand Strategy, do think tank Stimson Center. “Esta é uma das muitas razões pelas quais existem regras sobre doações e também um processo político para garantir que as decisões tomadas sejam avaliadas por mais pessoas do que o mandante”.

Política externa de Trump

Trump fez das relações pessoais um elemento fundamental de sua política externa. 

Ele argumenta que manter boas relações com o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping, evitará que os rivais geopolíticos entrem em conflito com os EUA, seja por causa de uma guerra na Ucrânia ou de acordos comerciais.

No primeiro mandato, Trump trocou a ameaça de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte por negociações nucleares com Kim Jong-un e cartas amigáveis ​​ao líder autocrático do país. “Nós nos apaixonamos”, disse Trump em 2018.

Personalizando a política externa

Outros presidentes americanos não se esquivaram de personalizar a política externa. Biden acreditava que muitos problemas globais poderiam ser resolvidos por dois líderes que se encontrassem em particular e chegassem a um entendimento.

Mas Mark Hannah, CEO do Institute of Global Affairs, disse que “pelo menos superficialmente, Trump parece mais suscetível à bajulação do que outros políticos. Mas ele também parece atento ao seu poder e a utiliza da mesma forma que a exige”.

Durante um discurso na quinta-feira (15) diante das tropas americanas no Catar, Trump disse que o Golfo era “uma parte incrível do mundo, e nosso relacionamento nunca foi tão forte”.

Momentos antes de seu discurso, enquanto a multidão aguardava sua chegada, alto-falantes tocavam “It’s a Man’s Man’s Man’s World”, de James Brown.

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