Brasil Pode Perder US$ 200 bilhões por Mês com Suspensão das Exportações de Frango

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O foco de gripe aviária confirmado no Brasil na última sexta-feira (16) colocou em xeque as exportações de carne de frango do país, que em 2024 gerou uma receita de US$ 9,9 bilhões (R$ 49,5 bilhões na cotação atual), segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa 146 produtores da proteína. Até agora, mais de 30 mercados e a União Europeia (UE) interromperam a importação da proteína produzida no Brasil, o maior exportador de carne de frango do mundo, e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), estima um prejuízo de US$ 200 milhões (R$ 1 bilhão) a cada mês de suspensão. Com a crise aviária, o país e o mundo são afetados.

“Os mercados fecharam para carne de frango brasileira por precaução, e não porque o produto é ruim. Por isso não falamos em perdas. Pode haver o redirecionamento dos produtos para o mercado interno e, após 28 dias, os países importadores podem retomar os embarques”, diz Ricardo Santin, presidente da ABPA. O redirecionamento do volume que seria exportado pode aumentar a oferta de frango para o consumidor interno e baratear o preço da proteína. No entanto, Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, acredita que a variação de preços será mínima.

Os impactos da gripe aviária na avicultura brasileira ocorrem em um momento em que o setor vinha demonstrando um forte desempenho em números de produção e exportação, resultado de um trabalho que começou há pelo menos 50 anos.

Avicultura brasileira

A indústria da carne de frango passou a ganhar força a partir dos anos 1970, principalmente na região Sudeste, por conta dos avanços no melhoramento genético, tecnologia, vacinas e nutrição de aves. Desde então, o setor é um importante motor do PIB do Agronegócio brasileiro, que atingiu R$ 2,72 trilhões em 2024.

A pecuária, que abrange a produção de aves, foi responsável por R$ 819,26 bilhões. Em comparação com o ano anterior, a avicultura de corte, referente à criação de aves com o objetivo de comercialização, apresentou alta de 5,16% no valor bruto de produção, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).

“Para além do valor econômico, a avicultura é muito importante porque a carne de frango é a mais consumida pelos brasileiros. São 45 quilos per capita por ano e 272 ovos por habitante por ano. Então, o setor também garante a segurança alimentar do nosso país”, diz Santin. Entre 2014, início da série histórica, e 2024, o consumo per capita de carne de frango no Brasil cresceu 6,3%, segundo a ABPA.

No ano passado, o Brasil produziu 14,9 mil toneladas de carne de frango. O Paraná lidera a produção da proteína, sendo responsável por 34% da produção nacional e por 61% do valor bruto da produção de abate e produtos de carne, incluindo de frango, do PIB do Agronegócio do Estado. Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo também se destacam no setor avícola.

Os ovos não ficam de fora das estatísticas. Em 2024, o Brasil produziu 57,6 bilhões de unidades da proteína e 99% deste volume foi destinado ao mercado interno. Chile, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos são os principais importadores de ovos brasileiros. Com o caso de gripe aviária confirmado no Brasil, os EUA suspenderam somente as importações de material genético de ovos produzidos apenas no Rio Grande do Sul.

O Boom da China

O gosto dos brasileiros por carne de frango é indiscutível. Mas foi somente a partir de 2018 que a produção e a exportação dessa proteína ganhou fôlego expressivo. O motivo? O surto de Peste Suína Africana (PSA), que ocorreu na China no final do ano daquele ano. A PSA é uma doença viral altamente contagiosa que afeta suínos domésticos e selvagens, e não representa risco para a saúde humana.

Apesar de estar relacionada aos suínos, houve um efeito substituição no consumo dos chineses, que passaram a demandar mais por carnes de aves e bovinos. Livre de gripe aviária e da PSA, foi nesse contexto que o Brasil começou a crescer nas exportações.

A imensa demanda por importações do país asiático afetou o mercado, elevou preços e estimulou o crescimento da produção e exportação desses produtos no Brasil, aproveitando do seu potencial produtivo e de suas vantagens competitivas nessas atividades.

A título de comparação, em 2018, as exportações brasileiras de carne de frango atingiram receita total de US$ 5,9 bilhões. No ano passado, o valor foi de US$ 9,9 bilhões, uma alta de 65%. O volume de embarques cresceu 29,12%. Graças à influência chinesa e ao trabalho dos adidos agrícolas, hoje a carne de frango brasileira é consumida em mais de 150 países.

E a partir de agora?

Encerra-se hoje a desinfecção total da granja onde o foco de gripe aviária foi confirmado, em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Agora, começa a contagem de 28 dias de monitoramento da situação. Se ao final deste período o Brasil não tiver registrado mais nenhum caso, o país emite um relatório para a Organização Mundial da Saúde (OMS) com os detalhes de ação de desinfecção e se autodeclara livre da gripe aviária.

“Vários países, em outros episódios, se manifestaram sobre a retomada das importações antes do prazo de 28 dias, porque confiam no Brasil”, diz Santin. Até agora, China, União Europeia, México, Iraque, Coreia do Sul, Chile, África do Sul, União Euroasiática, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Timor-Leste, Marrocos, Bolívia, Sri Lanka, Paquistão, Filipinas e Jordânia suspenderam as exportações do Brasil.

Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão e Ucrânia interromperam as compras de carne de frango do Rio Grande do Sul, enquanto Japão e Arábia Saudita fecharam mercado apenas para o município de Montenegro, foco do vírus.

Sobre o excedente de frango produzido no Brasil, que seria exportado, o presidente da ABPA destaca que pode ser redirecionado para o mercado interno ou armazenado para embarques posteriores. Ainda que a situação volte à normalidade após 28 dias, Santin alerta para o cuidado constante.

“A biosseguridade é um ato contínuo, não dá para descuidar. Tem que dia e noite, todos os dias, para que esse vírus, se fizer mais impactos, que sejam pontuais”, diz.

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