A Geopolítica e Agronegócio do Brasil em Alerta

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

O mundo está assistindo apreensivo a possível guerra comercial entre EUA, China, Canadá e México. Os recentes anúncios de Donald Trump apontam o rumo da política protecionista que o governo pretende adotar no novo mandato e deixa o agronegócio brasileiro em alerta. Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil e o agro é o principal elemento da balança comercial brasileira.

Faço parte do COSAG, Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, onde os conselheiros discutiram sobre “Geopolítica e seus efeitos sobre o agronegócio”, com foco na turbulência causada pela política externa norte-americana e seus possíveis efeitos sobre o Agronegócio brasileiro e global. A Política comercial agrícola foi discutida pelos painelistas Marcos Jank, Engenheiro Agrônomo pela ESALQ, professor sênior e coordenador do centro “Insper Agro Global”, Marcos Troyjo, ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS) e Welber Barral, pós-doutor em Direito do Comércio Internacional pela Universidade de Georgetown (EUA).

Na sua abertura Barral destaca que o governo Trump anuncia em sua agenda comercial uma nova forma de liderança norte-americana com a negação de Bretton Woods (onde foram criadas as bases de grande parte da economia internacional a partir do pós-guerra). As novas medidas destroem todas estas premissas, com discurso contra a liberalização comercial e contra o fortalecimento das instituições multilaterais, defendendo uma política de reciprocidade comercial, com forte crítica a parceiros comerciais, principalmente a China.

Ainda segundo Barral “Como consequência para os países em desenvolvimento, os EUA farão o uso pragmático do poder econômico, o acesso ao mercado americano será visto como um privilégio e os EUA privilegiarão a negociação bilateral, as tarifas serão o principal meio de pressão, o conceito de reciprocidade foi ampliado, mantendo o equilíbrio da balança comercial, com o objetivo final de obrigar as empresas a voltar a produzir nos EUA.”

De acordo com o professor Marcos Jank, “No agro existem dois cenários, o cenário mais positivo para o Brasil, seria onde nosso país ganharia acesso a mercados se a guerra comercial ficar restrita às relações dos EUA com os países alvos no momento que são Canadá, China, México e União Europeia, que são os quatro maiores parceiros dos EUA. Se a guerra ficar restrita, teremos oportunidades comerciais na China, Canadá e México e nos EUA. O lado negativo será se houver uma espiral ascendente tarifária, retaliações ou grandes acordos mercantilistas.”

Os EUA são o segundo maior importador de produtos agropecuários do mundo, 262 Bilhões de dólares, um pouco menos do que a China. 65% das importações americanas vem do Canadá, México e União Europeia. O Brasil participa com 6% do mercado americano. Os principais produtos que os americanos importam são frutas, verduras e legumes. Depois pescados, florestais, seguidos de carnes. Quando se olha para o saldo comercial agrícola, o Brasil tem um saldo comercial de 140 bilhões de dólares. Os americanos se tornaram deficitários, isto é perigoso, pois Trump pode pedir reciprocidade tarifária, o primeiro alvo pode ser o etanol . O Brasil tem que se preparar para um jogo pesado em etanol, trigo, carnes e grãos segundo Jank.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por forbesagro (@forbesagro)

 

Marcos Troyjo, abriu sua apresentação pontuando a importância da geopolítica para os negócios e destacando que o evento micro geopolítico mais importante na atualidade, que tem gerado grande impacto, é a atual presidência dos EUA. Ele destaca a posição de opulência atual dos EUA, uma economia de 30 trilhões de dólares, destacando que o PIB per capita do estado mais pobre dos eua, o Mississipi, é hoje mais alto do que o da França, do que o do Reino Unido e do que o do Japão. Hoje o PIB per capita americano é praticamente o dobro da União Europeia.

Foi destacado o crescimento futuro vertiginoso da população mundial em 2 bilhões de pessoas, na Índia, Indonésia, Paquistão, EUA e África Subsaariana. O impacto geopolítico é tamanho, pois os países emergentes, de grande contingente populacional, serão os principais responsáveis pelo aumento do PIB mundial e da demanda mundial de alimentos. O único país que terá capacidade em escala, em velocidade, em categoria de produtos, em fornecer uma alternativa sustentável de fornecimento é o Brasil. Deveríamos estar preocupados em buscar capital em longo prazo para aumentar minha capacidade infraestrutural para responder a uma demanda segundo Troyjo.

Alguns pontos unânimes nas três apresentações: O Brasil deve se posicionar para o mundo como um fornecedor seguro, confiável e sustentável de alimentos.

O agro Brasileiro deve diversificar produtos e mercados. O cenário é muito incerto, alianças podem se formar, países e blocos que estão afastados, podem se unir como temos visto movimentações de Canadá/Mercosul, Brasil/México e eventualmente UE/Mercosul. A recomendação dos especialistas é que o governo mantenha um tom diplomático pois o agro é o principal elemento da balança comercial brasileira. Troyjo fechou resumindo muito bem: A Geopolítica está convocando o Brasil para ser uma superpotência alimentar!

*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

O post A Geopolítica e Agronegócio do Brasil em Alerta apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.