Conferência internacional de doadores promete ajuda bilionária à Síria

A encarregada pela política externa da União Europeia, Kaja Kallas (C), e o ministro interino das Relações Exteriores da Síria, Assad al Shaibani (c-direita), posam para foto junto com os participantes da conferência em Bruxelas, em 17 de março de 2025NICOLAS TUCAT

Nicolas Tucat

A conferência internacional de doadores para a Síria se comprometeu, nesta segunda-feira (17), a aportar 5,8 bilhões de euros (aproximadamente R$ 36 bilhões) para a reconstrução do país, um valor inferior ao do ano passado.

A nona edição desta conferência incluiu pela primeira vez representantes do governo de Damasco, liderado agora por uma coalizão encabeçada por Ahmed al Sharaa, que pôs fim ao regime de Bashar al Assad em dezembro.

“Tenho a honra de anunciar-lhes que todos juntos nos comprometemos com um total de 5,8 bilhões de euros, 4,2 bilhões de euros [R$ 26 bilhões] em doações e 1,6 [bilhão de euros, cerca de R$ 10 bilhões] em empréstimos”, disse a Comissária Europeia para o Mediterrâneo, Dubravka Suica, ao final da reunião.

O valor é inferior ao compromisso assumido durante a mesma conferência no ano passado, 7,5 bilhões de euros (cerca de R$ 46 bilhões). Na ocasião, os Estados Unidos eram, segundo a ONU, o primeiro fornecedor de ajuda internacional para a Síria, um país destruído após quase 15 anos de guerra civil.

Mas, com a volta de Donald Trump à Presidência, a Casa Branca decidiu suspender sua ajuda internacional, inclusive a destinada à Síria.

“Nos últimos 14 anos, os Estados Unidos deram mais assistência ao povo sírio que qualquer outro país com mais de 18,3 bilhões de dólares [R$ 104 bilhões, na cotação atual]”, disse Natasha Franceschi, a representante americana na conferência.

Ao mesmo tempo, ela assegurou que seu país continuaria dando assistência “em conformidade com as leis americanas”, sem mencionar números.

A União Europeia, por sua vez, se comprometeu a aportar quase 2,5 bilhões de euros (R$ 15,4 bilhões), mais que em seu compromisso anterior.

– Transição difícil –

A transição na Síria está sendo difícil devido à divisão entre várias comunidades religiosas existente no país.

Nas últimas semanas foram cometidos massacres em algumas regiões, os atos de violência mais graves desde a chegada ao poder da coalizão liderada pelo grupo islamista sunita Hayat Tahrir al Sham (HTS).

“O tempo da tirania terminou. Não pode voltar. Não pouparemos esforços para levar à Justiça qualquer um que tenha cometido crimes, que tiver as mãos manchadas de sangue”, assegurou, durante a conferência, o ministro das Relações Exteriores, Asaad al Chaibani.

Os confrontos das últimas semanas deixaram, segundo uma ONG, quase 1.400 mortos entre a população civil, principalmente dentro da comunidade alauita, à qual pertence o ex-presidente Assad.

A UE, que reconheceu em seguida o novo governo após a queda de Assad, em 8 de dezembro, espera que a violência seja um fenômeno isolado.

“Condenamos energicamente esses ataques, em particular os dirigidos contra civis. Devem ser tratados de forma rápida e decisiva”, disse a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, ao mesmo tempo em que saudou a criação de uma comissão investigadora.

Kallas explicou que a suspensão gradual das sanções contra a Síria, decidida pela UE em fevereiro, deve ser mantida porque, caso contrário, existe o risco de se “criar caos” em todo o país.

A presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, alertou, por sua vez, que se a comunidade internacional não ajudar a Síria a “se recuperar”, uma nova onda migratória poderia começar.

Em mensagem de vídeo à conferência, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que, após 14 anos de guerra, “a economia síria perdeu cerca de 800 bilhões de dólares [R$ 4,56 trilhões em valores atuais] de seu Produto Interno Bruto (PIB) e as infraestruturas de serviços essenciais foram destruídas”.

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