Dólar opera abaixo de R$ 5,70 no menor nível em cinco meses; a tendência de queda veio para ficar?

O dólar à vista (USDBRL) vem perdendo força ante o real nos últimos dias e atingiu a mínima de mais de cinco meses na última terça-feira (18), véspera da Super Quarta. 

Ontem, a divisa norte-americana encerrou o dia a R$ 6,27, no menor nível desde 24 de outubro do ano passado, depois de seis quedas consecutivas.  

Nos últimos dois meses, a cotação tem ficado na faixa de R$ 5,70 e R$ 5,90 — um pouco distante da máxima histórica nominal de R$ 6,26 registrada no final de 2024

No ano, a moeda norte-americana acumula baixa de 8% ante o real. 

Agora, a grande pergunta é: a tendência de queda do dólar veio para ficar? Na avaliação da XP, a moeda brasileira tem menos espaço para a valorização comparado ao passado recente, diante da piora de fundamentos fiscais e de contas externas.

“As incertezas relacionadas à política comercial dos Estados Unidos e à condução da política monetária global devem manter o sinal de alerta elevado no exterior. No Brasil, o quadro fiscal fragilizado e o aumento da dívida pública deixam o real mais vulnerável”, escreveram as economistas Rachel de Sá e Luiza Pineze, em relatório. 

Nas contas da XP, a taxa de câmbio de “equilíbrio” seria, em média, a R$ 5,45, com o dólar a R$ 5,90 como referência. 

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Para onde vai o dólar?

O cenário-base da XP é que o dólar encerre 2025 a R$ 6,00.

“Esse valor projetado ainda se mostra mais fraco (ou seja, mais depreciado) do que seria o “justo” ou “estrutural” — calculado pela taxa de câmbio real de equilíbrio da nossa moeda”, afirmam as analistas em relatório.

Mas, nas contas das analistas, a moeda norte-americana deve variar entre a R$ 5,40 e R$ 6,45 nos próximos meses. 

Isso porque a corretora traçou cinco cenários de movimentação da moeda ante o real ao longo do ano. Confira: 

Cenário 1: Otimista e dólar a R$ 5,40 

No cenário mais otimista, o câmbio fica em torno de R$ 5,40. 

Nesse caso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não concretiza todas as medidas de aumento de tarifas de importação anunciadas. 

Além disso, a inflação norte-americana volta a convergir para a meta de 2% e o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, retoma o ciclo de afrouxamento monetário. 

Em consequência, a redução das taxas de juros globais melhora as condições financeiras, valorizando os preços das commodities.

No Brasil, o governo implementa uma nova rodada de medidas de ajuste fiscal e evita políticas econômicas mais intervencionistas, reduzindo a percepção de risco-país. 

A atividade econômica doméstica também desacelera gradualmente, a inflação diminui e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central já começa a discutir cortes na taxa de juros no segundo semestre deste ano.

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Cenário 2: Intermediário 1 e dólar a R$ 5,75 

No cenário intermediário otimista, o dólar deve ficar cotado a R$ 5,75. 

Para as analistas, esse nível é conquistado na situação em queda o diferencial de juros alcança seu nível mais alto. 

“As condições globais também continuam sólidas, mas os fundamentos domésticos ficam mais fracos”, escrevem. 

Vale lembrar que a diferença entre o patamar de juros no Brasil e outras economias, entre elas a norte-americana, tende a influenciar o fluxo de moeda entrando e saindo do país. 

Isso significa que taxa de juros mais altas tendem a atrair mais capital. 

Ou seja, quanto maior o diferencial de juros entre o Brasil e outras economias, há mais investimentos de gringos — aumentando o fluxo de dinheiro estrangeiro e, consequentemente, valorizando a nossa moeda.

Cenário 3: Base e dólar a R$ 6,00

No cenário base, a XP projeta dólar a R$ 6,00.

Nesse caso, Trump implementa aumentos significativos nas taxas de importação, mas as tarifas não se estendem até o final do ano. Sendo assim, a guerra comercial deve ter impacto indireto por meio do menor crescimento econômico global e maior aversão ao risco.

Já o Fed não faz corte nos juros e os preços das commodities ficam estáveis. As tensões geopolíticas e uma possível guerra comercial mantêm o cenário ainda incerto.

No Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) apresenta uma desaceleração gradual e a inflação acelera com pressão nos preços de serviços e de bens industriais. 

A taxa Selic atinge 15,50% no final do ciclo de juros — nível provavelmente a ser alcançado na reunião do Copom em junho e mantido até o final do ano. 

Cenário 4: Intermediário 2 e dólar a R$ 6,00

Já no cenário intermediário pessimista, a divisa norte-americana se mantém no nível do cenário-base, a R$ 6,00, mas com o diferencial de juros no nível mais baixo — com elevação dos juros nos EUA e no Brasil. 

Cenário 5: Pessimista e dólar a R$ 6,45

No cenário mais pessimista, as analistas esperam que o dólar alcance R$ 6,45. 

Nesse caso, Trump consegue manter as políticas de aumento de tarifas ao longo de todo ano e de forma mais agressiva do que o antecipado — deteriorando a dinâmica do comércio global, o que fortalece o dólar.

Com o aumento das taxas, a inflação norte-americana acelera e, em consequência, o Fed deve elevar os juros a partir do segundo semestre. 

A desaceleração econômica global desencadeada pela guerra comercial vai exercer pressão negativa sobre o preço das commodities, diminuindo o fluxo de dólares para o Brasil.

Por aqui, as contas públicas se deterioram, com novas políticas fiscais e parafiscais tentando estimular a demanda interna no curto prazo, o que prejudica a confiança dos investidores e aumenta o risco-país. 

O aumento das pressões inflacionárias reflete em uma Selic mais alta. 

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