Movida controla alavancagem e traça estratégia para novo ciclo de juros

Gustavo Moscatelli, CEO da Movida
Gustavo Moscatelli, CEO da Movida (Divulgação)

A Movida avança em 2025 com uma missão clara: mostrar ao mercado que os desafios com o endividamento estão ficando para trás. Após fechar um ano que o CEO Gustavo Moscatelli classifica como “transformacional”, com recuperação do lucro e redução da alavancagem financeira, a locadora de carros controlada pela Simpar traça sua estratégia em avançar no repasse de preços e controle do endividamento.

“Nossa mentalidade de gestão é de longo prazo. Falamos do próximo trimestre ou ano, mas por trás disso estão discussões de cinco, dez, 15 anos”, diz Moscatelli ao InvestNews, sinalizando que a etapa atual faz parte de um plano mais amplo de consolidação. A estrutura de capital da Movida, que já alimentou preocupações de analistas e investidores, apresentou melhora no último trimestre de 2024.

A empresa encerrou o ano com uma dívida líquida de R$ 14,7 bilhões, reduzindo seu indicador de alavancagem (relação entre dívida líquida e lucro operacional – Ebitda) para 3,0 vezes no fim do ano passado, ante covenants de 3,5 vezes. Considerando apenas o lucro operacional do 4T24, esse indicador cairia para 2,8 vezes, reforçando a trajetória de desalavancagem.

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Para este ano, a estratégia é seguir para reduzir ainda mais. “Você vai ver a companhia com alavancagem menor no final de 2025, com abordagem diferente diante do novo patamar de juros no país”, afirma.

Para apoiar o plano que alia dívida sustentável com repasse de preços, a Movida anunciou a executiva Daniela Sabbag, ex-Assaí, para comandar a diretoria financeira. A CFO assume com o objetivo de aprimorar a eficiência operacional, revisar processos e otimizar a estrutura de capital.

“Ela vem com a missão de me ajudar na captura de mais eficiência operacional na companhia como um todo. Isso passa por revisão de processos, melhorias de controle, automação e digitalização máxima do back office“, afirma Moscatelli. Outra missão será de promover uma gestão de custos com “austeridade em todas as linhas”.

Estratégia

Do lado do repasse de preços, a Movida conseguiu aumentar preços em 20% no segmento de aluguel para pessoas físicas sem perder volume de diárias, enquanto concorrentes registraram quedas. Já na revenda dos veículos, a tática foi reduzir o tíquete médio de aquisição de veículos de R$ 95 mil para R$ 79 mil, focando em veículos de maior liquidez.

A combinação contribuiu para que a Movida se destacasse em um indicador essencial para as locadoras, o retorno sobre o capital investido (ROIC), que mede a eficiência da empresa em gerar lucro sobre o dinheiro aplicado no negócio. Em 2024, a companhia obteve um ROIC de 11,4%, acima das concorrentes Localiza e Unidas. “Nos tornamos o benchmark do setor”, afirma Moscatelli.

Loja da Movida
Loja da Movida (Divulgação)

Para mandar um recado claro ao mercado sobre a evolução do seu resultado, a Movida decidiu divulgar uma prévia operacional relativa ao primeiro bimestre de 2025, algo que não faz parte da sua rotina. Nela, a companhia apresentou lucro de R$ 42 milhões – o dobro do registrado no mesmo período de 2024 – e crescimento de 27,1% no Ebitda. Os números respaldam a tese de que a companhia tem capacidade de operar em cenário de juros elevados.

“O ambiente macroeconômico de 2025 é diferente, com taxas de juros mais elevadas”, diz Moscatelli. “Mas esses resultados preliminares demonstram que a companhia está conseguindo se sobressair operacionalmente nesse cenário.”

Em termos operacionais, a frota será mantida estável ao longo de 2025, com redução já implementada de 8 mil carros após o período de alta sazonalidade de dezembro e janeiro. “Se precisarmos reduzir ainda mais por conta do ambiente macro mais duro, faremos. A companhia tem 270 mil carros, então ajustes de 5 ou 10 mil não mudam substancialmente o negócio”, afirma o executivo.

A Movida registrou receita líquida de R$ 13,5 bilhões em 2024, representando um crescimento de 30,4% em relação a 2023. O Ebitda alcançou R$ 4,7 bilhões, um aumento de 33,5% na comparação anual, enquanto a margem Ebitda de locação chegou a 69,2%, expansão de 5,5 pontos percentuais. Isso permitu à empresa reverter o prejuízo do ano anterior, registrando lucro líquido de R$ 232 milhões (R$ 305 milhões em termos ajustados).

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