O café está caro, mas e o leite? ‘A demanda está se recuperando frente a anos anteriores’

O mercado do café convive com preços elevados no mercado internacional e no Brasil, valores que têm sido repassados para o consumidor.

De acordo com dados do Sidra do IBGE, que mede inflação, os preços do café moído dispararam 66,18% nos últimos 12 meses até fevereiro, enquanto o café solúvel avançou 8,37% no mesmo comparativo.

Outro produto que convive com um cenário de preços, ainda que em menor intensidade, é o leite. Nos últimos 12 meses até fevereiro, os produtos apresentam as seguintes variações:

  • Leites e derivados: + 8,29%
  • Leite longa vida: + 11,11%
  • Leite em pó:  +11,17%

Segundo Mateus Napolitano, analista de mercado da MilkPoint, o final de 2023 ficou marcado por um cenário desafiador na cadeia do leite, com um cenário de importações em alta e um consumo menos estimulado, o que fez com que os preços caíssem.

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“Com isso, começamos 2024 com uma deflação significativa. No entanto, o ano passado foi um período de virada de chave, com um crescimento de consumo, por mínimas históricas na taxa de desemprego. Ao contrário do café, que vive uma crise de oferta, o desafio para o leite fica pela demanda, que puxou os preços”, explica.

O momento da pecuária leiteira

A virada de 2023 para 2024 foi difícil para produção, mas a demanda mais alta ao longo de 2024 fez com que aumentasse o preço dos derivados lácteos e aumentasse o preço das indústrias, e por consequência, valorizando mais o preço do leite ao produtor.

“O preço do leite ao produtor ficou mais demandado, as indústrias buscando mais matéria-prima. E isso fez uma forte valorização do preço do leite ao produtor. E para fechar a conta também, é importante ponderar esse crescimento da receita, mas também o crescimento dos custos”.

Napolitano lembra que o produtor de leite teve de conviver com custos exorbitantes desde o pós-pandemia até o fim de 2023, que foram repassados ao consumidor, com uma melhora apenas no ano passado para os preços da soja e milho.

“Em 2024, ele teve um ganho bastante significativo na sua receita, no preço do leite, e com custos equilibrados. 2025 começou com preços 25% – 30% maiores do lado receita do produtor em relação ao ano passado.

A baixa produtividade do leite no Brasil

O analista lembra que o Brasil conta com um alto nível de eficiência para grandes commodities como o milho, soja, e açúcar. Mas quando o olhar se volta para o leite, há diferentes realidades no país, seja no âmbito geográfico como no da produção.

“Temos produtores no Brasil com um altíssimo nível de eficiência, tão bom ou melhor do que produtores na Argentina, Uruguai e Nova Zelândia, mas é um grupo exclusivo de produtores. Na média Brasil, deixamos a desejar. Podemos melhorar em termos de eficiência produtiva, produtividade e qualidade”, vê.

Ele ressalta que estamos com a “faca e o queijo” na mão para avançar neste aspecto, não faltando soluções tecnológicas para tal.

“Nos últimos anos, a gente observa que essa mudança tem sido, de certa forma, bastante acelerada. A gente vê números de sistemas em confinamento, por exemplo, crescendo ano após ano. Os maiores produtores têm ganhado cada vez mais representatividade na produção total de leite”.

Segundo Napolitano, assim como o grande produtor, o pequeno também pode ser altamente eficiente, apesar de ter menos acesso a recursos tecnológicos.

“Precisamos que os produtores mais eficientes continuem na atividade. O confinamento é importante para todos os elos da cadeia produtiva. Para o produtor de leite, o confinamento é um recurso que facilita com que ele aumente justamente essa questão da sua eficiência. O confinamento é importante para lidar com a escassez de mão de obra, melhorar a logística e o controle da qualidade do leite, o que beneficia também o consumidor”.

O analista ressalta que o confinamento é um “caminho sem volta” da produção do leite no Brasil, apesar de salientar que o leite a pasto não vai acabar.

“O sistema de confinamento pode parecer pior no sentido de bem-estar animal. Mas na grande maioria das vezes, é justamente o contrário, já que você controla melhor os coeficientes naturais como temperatura, ventilação e alimentação dos animais. Isso gera maior produtividade e lucratividade, o que tem feito o produtor expandir ou começar a ter sistemas confinados”.

O copo meio cheio

A MilkPoint, em seu levantamento “Top 100”, destaca os 100 maiores produtores de leite do Brasil. Segundo eles, muitos deles contam com rentabilidade maior, até duas ou três vezes por área acima da soja e milho.

“A atividade leiteira é bastante lucrativa, mas tem seus desafios para estruturar uma produção que seja eficiente. Temos produtores que crescem ano após ano, acima dos dois dígitos, com novos investimentos no setor”.

Para o restante de 2025, as expectativas são bastante positivas, com previsão para o aumento da produção. A expectativa é de um crescimento na ordem 2%-3% frente o ano passado.

“Quando falamos de crescimento anual, é bastante diferente de quando falamos de crescimento anual. O leite tem uma sazonalidade. Nesses meses iniciais do ano, a produção diminui e no segundo semestre ela cresce. Em termos de preço, a segunda metade do ano, com o aumento da produção, tende a dar um certo alívio ao consumidor. Devemos fechar 2025 com uma inflação menor do que foi em 2024”.

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