Ata do Copom sinaliza que Selic seguirá em alta: “ciclo não está encerrado”, reforça BC

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O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros para 14,25% ao ano na reunião de março e deixou claro, na ata divulgada nesta quarta-feira (20), que o ciclo de alta ainda não chegou ao fim. O documento, mais detalhado que o comunicado anterior, revela a preocupação do Banco Central com a persistência inflacionária, a resiliência da atividade econômica e a desancoragem das expectativas — o que exigirá uma política monetária mais restritiva por mais tempo.

O parágrafo 19 da ata sintetiza essa visão: O ciclo não está se encerrando, embora o BC sinalize um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, prevista para maio.

Além disso, no parágrafo 10, o Comitê destaca que o cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado.

Étore Sanchez: alta de 50 bps está contratada

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a autoridade monetária descartou a possibilidade de encerrar o ciclo em maio. “Afastou-se a chance de uma alta de apenas 25 pontos-base, mas também parece exagerado esperar um novo aumento de 75bps. Por isso, mantemos a expectativa de uma elevação de 50bps”, afirmou.

Sanchez destaca que a ata mostra um BC ainda firme no combate à inflação, mesmo reconhecendo o enfraquecimento gradual da atividade. Ele também vê a sinalização de juros elevados por um tempo prolongado após o fim do ciclo como estratégica para ancorar expectativas.

Leonardo Costa: Política seguirá dependente dos dados

Na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA, o BC adota um tom cauteloso. “O Comitê ainda está longe de confirmar a desaceleração da atividade. A política monetária seguirá dependente dos dados”, afirma.

Ele aposta em mais uma alta de 0,50 ponto percentual em maio, com manutenção dos juros após isso. Costa reforça que a inflação de serviços e o consumo continuam pressionando os preços, o que exige cuidado redobrado na condução da política.

Sérgio Vale: “BC aceita inflação acima do teto”

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a ata trouxe uma mensagem mais clara sobre a preocupação do Banco Central com a política fiscal e o cenário inflacionário.

O BC reconhece a desaceleração da atividade, e sinaliza que está confortável com uma inflação acima do teto da meta, algo como 4,5% em 2026. Isso ficou implícito na sinalização de desaceleração do ritmo de alta”, analisa.

Vale projeta uma inflação de 5,1% em 2025 e vê o Copom buscando impedir que ela se desgarre totalmente da meta, ainda que isso signifique aceitar níveis acima do centro por mais tempo.

Alexandre Espírito Santo: “Políticas precisam ser harmoniosas”

Já para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, a ata teve tom equilibrado. “Nem dovish, nem hawkish”, resumiu.

Ele destacou o parágrafo 9, que reforça a necessidade de políticas fiscal e monetária harmônicas. “Hoje, estão longe disso. Como fazer a inflação convergir com ações como estímulos via FGTS, consignado e subsídios?”, questiona.

Espírito Santo também alertou para os riscos da inflação de serviços e das incertezas externas, especialmente no campo geopolítico, que seguem pressionando os preços e exigindo cautela na condução da Selic.

Inflação segue acima da meta; Selic pode ir além de 14,75%

O Copom projetou inflação de 5,1% para 2025 e 3,9% para o 3º trimestre de 2026, ambas acima da meta. A desancoragem das expectativas preocupa o Comitê, que reforçou: ambientes de expectativas desancoradas elevam o custo da desinflação em termos de atividade econômica.

Com a ata indicando um aperto mais longo e com maior permanência, o mercado já precifica a Selic em 14,75% nas próximas semanas, com uma possível estabilização a partir de junho.

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