O executivo da Ford que anotou 2.229 frases ridículas ditas por colegas em reuniões

Mike O’Brien enviou um e-mail a algumas centenas de colegas no mês passado para anunciar sua aposentadoria após 32 anos na Ford Motor. A nota do executivo de vendas incluía as reflexões obrigatórias sobre a carreira e os agradecimentos — mas veio com um toque especial.

Havia uma planilha anexada ao e-mail detalhando alguns milhares de “foras” ditos por seus colegas de trabalho ao longo dos anos.

Durante uma reunião de vendas de 2019 para discutir o lançamento de um novo veículo, um colega deixou escapar: “Não vamos reinventar o oceano”.

Em outra reunião, em 2016, alguém começou uma frase com: “Não quero soar como um tambor riscado aqui, mas…”

Por mais de uma década, O’Brien manteve um registro meticuloso de metáforas mal usadas e termos errados proferidos nas reuniões da Ford, desde reuniões de toda a empresa até as conversas paralelas. Ele documenta 2.229 violações linguísticas, incluindo a citação exata, o contexto, o nome do perpetrador e um comentário bem-humorado.

Depois que um colega declarou: “É uma tarefa enorme, mas estamos tentando abraçá-la com as pernas”, O’Brien fez uma piada: “Adicionar ‘pernas’ à imagem faz com que pareça uma perversão”.

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Há uma tabela de classificação e uma clara declaração de vencedores de erros verbais. A lista tornou-se tão conhecida — e temida — que um executivo amaldiçoou o nome de O’Brien em uma reunião depois de tropeçar em uma expressão. Os infratores podiam apelar de sua inclusão, mas o sucesso era raro. E ninguém estava acima de uma gozação gramatical: o CEO da Ford, Jim Farley, entrou duas vezes na lista.

O’Brien escreveu o primeiro desses erros em um quadro branco um dia em seu escritório em 2014. O nativo da área de Detroit, de 55 anos, não se lembra qual foi o termo ou por que decidiu registrá-lo formalmente. Ele é um ávido leitor e fã de palavras cruzadas, mas não é formado em inglês, nem é gramático. Uma expressão errada simplesmente chamou sua atenção um dia, e ele decidiu registrá-la como piada.

Ele trabalhava no departamento que supervisiona as promoções e incentivos ao consumidor nos modelos da Ford, como empréstimos com juros zero e acordos de reembolso. É um trabalho que exige agilidade, com longas horas e pressão de prazos. As “Board Words” (palavras do quadro), como ficaram conhecidas internamente, eram uma forma de adicionar alguma leveza ao dia a dia.

“Não estávamos sendo malvados”, disse O’Brien. “Era simplesmente engraçado.”

A brincadeira tomou forma própria. Comentários sobre as Board Words se espalharam dentro da empresa, e O’Brien recebia dicas de pessoas de outras divisões. Quem vinha de fora não estava isento — alguns revendedores de carros visitantes entraram na lista.

No fim, O’Brien havia preenchido seis quadros brancos com as mancadas linguísticas, escritas de forma aglomerada em uma mistura de cores. Colegas ocasionalmente apareciam em seu escritório e riam das últimas novidades. Quando a pandemia de Covid-19 começou e todos tiveram que ficar em lockdown, O’Brien levou os quadros brancos para sua garagem.

A planilha é o repositório mais detalhado dos dados (não “supositório” dos dados, um caso particularmente infeliz de uso indevido de palavras citado na lista. Duas vezes). Ele divide os exemplos em categorias que incluem:

Uma pessoa cometeu três erros relacionados a patos.

Essa distinção foi para Mike Murphy, gerente de marketing de longa data, que ocupa o primeiro lugar no Board Words com 184 infrações até o momento. Ele cometeu seu centésimo erro durante uma festa de Halloween. Há uma foto sua vestido como Ace Frehley, da banda de rock Kiss, ao lado de O’Brien e uma faixa comemorando a marca duvidosa.

Murphy culpa sua propensão a trocar palavras em parte à sua longevidade no departamento e por trabalhar em estreita colaboração com O’Brien. Mas reconhece que fala muito e “às vezes também massacro a gramática e a língua inglesa”.

“Em geral, quanto mais você fala, maior a probabilidade de entrar na lista”, disse ele.

O risco de ser marcado aumentou a pressão para se apresentar nas reuniões, disse Murphy. “De repente, você ouve um clique de caneta e pensa: ‘O que eu disse que não estava certo?’” Muitas vezes, um erro ajuda a amenizar uma reunião tensa, afirmou ele.

Murphy aprecia o processo de queixa aceito por O’Brien, no qual permite que a pessoa se defenda antes que o registro seja feito. Murphy raramente ganhava o recurso, como na vez em que deixou escapar: “Ele vai ficar tão feliz que vai parecer um canário na mina de carvão!”.

O’Brien explicou que o canário nessa figura de linguagem em particular acaba morto. Murphy, rindo, explicou que o canário provavelmente estava feliz quando chegou à mina.

Existem muitos infratores reincidentes. O próprio O’Brien está entre eles com 110 citações no Board Words, o que o deixa na terceira posição na lista. (Todas elas foram mencionadas por seus pares: há uma regra contra a autoinclusão).

Ele admite que nem todo mundo tinha espírito esportivo. Alguns registros eram anônimos.

Registrar os tropeços linguísticos dos superiores tinha uma dinâmica complicada.

Uma vez em uma reunião, o então chefe de vendas da Ford nos EUA, Andrew Frick, estava fazendo uma observação sobre uma promoção de vendas: “Temos um programa melhor, mas a concorrência tem o pé no chão”, disse ele. Sentindo o tropeço, ele olhou para O’Brien, rindo. “Espere, é ‘pés no chão’? Que droga, O’Brien!”

Um colega de trabalho certa vez admitiu a O’Brien que raramente notava seus próprios erros verbais no momento com uma explicação que lhe rendeu outra citação.

“Eu não entendo muito o Board Words”, disse o colega. “Não sou a imagem da gramática.”

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