Ibovespa: ‘Muito difícil apostar contra um país com esse nível de preço’, diz gestor com R$ 19 bi na carteira

A bolsa brasileira e o dólar viveram um descompasso nos últimos meses. Primeiro, houve um pico de pessimismo, com a moeda americana batendo em R$ 6,3, máxima histórica, e o Ibovespa encolhendo a 119 mil pontos.

O corte de gastos do governo, que ficou abaixo do esperado por parte de economistas, e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, azedaram o humor do mercado. Outra parte, porém, questionou a piora, com acusações de que o Brasil vivia um ataque especulativo.

Especulação ou não, fato é que tudo voltou ao que era antes em questão de dias. A partir de 11 de março, o Ibovespa, que negociava a 122 mil pontos, foi a 130 mil e renovou máximas. Já o dólar, que mantém a trajetória de queda desde o início do ano, recuou a R$ 5,7.

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“Muito difícil você ficar apostando contra um país que está nesse nível de preço, mais barato, e com crescimento. A inflação está mais alta, mas se você comparar com o resto do mundo, tem coisas piores”, diz Marcelo Mattos, CIO da Inter Asset, ao Money Times.

O gestor, que participa ativamente das principais decisões estratégicas dos fundos da casa e viu crescer o patrimônio em 105% no ano passado, para R$ 19 bi sob gestão, tem sentimento misto para Brasil.

Se por um lado, a situação fiscal não é das melhores, colocar uma carga grande de pessimismo pode ser um equívoco.

“Pegamos os últimos 10, 15 anos, e a margem de erro [das previsões de mercado] é assombrosa. Estou para dizer que a margem de acerto é quase zero”.

O ponto, segundo o gestor, é que o sentimento estava tão ruim, com quase ninguém posicionado, que qualquer notícia diferente poderia provocar uma entrada de fluxo. O que aconteceu.

“Os Estados Unidos, caros, com discussão de ajuste fiscal, que é importante, mas tem impacto de PIB no curto prazo. Outros países precisaram se movimentar, o que leva uma migração, diversificação da necessidade e de investimentos”, afirma.

Questionado se o Brasil virou porto seguro, Mattos diz que no quesito geopolítica, sim.

De maneira geral, se dá bem com todos os países, produz comida e matérias-primas em abundância e está distante dos polos de conflito.

Porém, para investimentos, entra no pacote dos emergentes. “É mais uma diversificação, é muito maior do que o Brasil.  É um movimento generalizado”.

Bolsa barata

Para o bolsa, o gestor está com uma posição tática, o que significa que a exposição é pensada no médio e longo prazo.

“O importante é estar posicionado na bolsa, não para fazer trading de curto prazo, mas para captar movimentos e surfar ondas mais longas”.

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Em sua visão, o Ibovespa está barato e não seria difícil imaginar que um gatilho que for, como juros menores ou uma mudança de governo, levará o índice a renovar máximas.

“Empresas mais ligadas a consumo, estão negociadas a 10, 11 vezes o preço sobre lucro [métrica que mede o quanto um ativo está barato], patamares mais baixos do que na época de Covid. Você fica ali com uma posição. No mínimo, você vai ganhando o carrego do lucro dessas empresas”.

Em seus cálculos, o Brasil negocia a 8 vezes o lucro, enquanto os outros emergentes negociam muito mais perto de 14 vezes.

“A Bolsa está negociando a 8 vezes lucro. Ela pode ir para 14 vezes lucro. Se isso acontecer, nós estamos falando num Ibovespa na casa de 200 mil pontos”.

Diminuição dos Estados Unidos

Na parte global, a estratégia está mais diversificada do que historicamente foi, conta o gestor.

“Antes, a carteira era mais concentrada nos Estados Unidos, assumindo maior risco de mercado. Porém, na virada do ano, houve uma redução nessa exposição, com maior diversificação em ações ao redor do mundo, renda fixa internacional e ativos equivalentes a hedge funds e estratégias macro“.

A decisão de diversificar, segundo Mattos, se baseia no fato de que os Estados Unidos adotaram um posicionamento mais isolacionista, seja na geopolítica, seja em questões comerciais.

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Com a narrativa do excepcionalismo americano em xeque e o valuation atual, diz, a estratégia foi ampliar a diversificação geográfica para capturar oportunidades em diferentes mercados.

Donald Trump, recém eleito, vem adotando uma série de medidas tarifárias, que prometem provocar ainda mais inflação. Do lado da geopolítica, o presidente se articula para por fim à Guerra da Ucrânia.

Além disso, a gestora possui interesse no setor imobiliário, especialmente nos fundos de tijolo, que oferecem proteção contra possíveis rupturas.

“Esses fundos tendem a performar bem caso o custo de capital alivie. Há ainda a isenção nos rendimentos, o que os torna atrativos para determinados perfis de investidores”.

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