Saiba com o conceito de anti-herói mudou com o MCU

O que é um anti-herói? A definição tradicional nos traz a imagem de alguém que, embora tenha métodos violentos, atitudes pouco dignas e comportamentos que pervertem o politicamente correto e as tradições, ainda assim possui uma bússola moral capaz de se alinhar às conhecidas boas intenções e sacrifícios atribuídos aos heróis. 

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Contudo, um escritor norte-americano afirma que a caracterização de alguns personagens da Marvel nascidos com uma clara orientação anti-heróica — e até mesmo vilanesca — tem sido completamente distorcida nos últimos tempos. Deadpool, Venom, Loki e, principalmente, Justiceiro, estariam na lista das criações que mudaram tanto a ponto de estarem bem próximos de serem heróis por completo.

Uma das maiores qualidades dos anti-heróis é questionar mitos e tabus, de forma que a desconstrução de convenções sociais tradicionais torne suas tramas divertidas, ainda mais com a recorrência de humor corrosivo e violência gráfica.


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Essas qualidades estão presentes nos gibis comercializados atualmente, contudo, o conceito de anti-herói, segundo um autor, tem sido pulverizado pela Marvel Comics. Em sua opinião, personagens que antes habitavam um lado muito mais sombrio do ser humano agora apenas arranham essa superfície. 

Na sua opinião, a mudança para a nova definição veio para valorizar aspectos mais ensolarados, com o claro objetivo de aumentar a amplitude de público — principalmente os que alcançaram uma visibilidade muito maior em adaptações do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês).

Sanderson diz que muitas figuras tradicionalmente rotuladas dessa forma agora são, na verdade, heróis disfarçados (Reprodução/Marvel Comics)

Brandon Sanderson, o conhecido autor por trás das séries Mistborn e Stormlight Archive, postou recentemente um YouTube Short sobre o assunto. Sua perspectiva altera o conceito clássico de anti-herói e argumenta que muitas figuras tradicionalmente rotuladas dessa forma agora são, na verdade,  heróis disfarçados.

Anti-herói baseado na violência

Como todos os conceitos tradicionais da cultura pop, a figura do anti-herói mudou com  as adaptações na proposta transmídia ofertada pelo MCU.  Sanderson levanta questões sobre o papel da violência e da moralidade na narrativa moderna. Muitas de suas próprias obras populares geralmente apresentam personagens lutando com dilemas morais e motivações complexas, tornando seus insights sobre o tropo do anti-herói particularmente relevantes.

Sanderson argumenta que personagens como Venom e Justiceiro, dois dos anti-heróis mais famosos da cultura pop, agora, seriam essencialmente heróis operando sob uma estética mais sombria  (Reprodução/Marvel Comics)

O discurso em torno do anti-herói moderno geralmente lida com metodologia violenta e ambiguidade moral; e como esses tópicos muito reais e obscuros afetam os leitores. Sanderson argumenta que personagens como Venom e Justiceiro, dois dos anti-heróis mais famosos da cultura pop, até nasceram e atuaram consistentemente como vilões em algumas tramas, entretanto, agora, seriam essencialmente heróis operando sob uma estética mais sombria.

Apesar de suas ações brutais, eles seriam movidos por intenções fundamentalmente heróicas, sugerindo uma redefinição do que significa ser um anti-herói. Até Deadpool, conhecido por seu comportamento caótico e violento, teria se tornado um completo herói em filmes e quadrinhos, de acordo com a perspectiva de Sanderson.

Para ele, isso confunde o público. Sanderson diz que as representações contemporâneas de anti-herói até extrapolam os limites de ações tipicamente heróicas, mas, como priorizam o resultado em vez do processo, o comportamento, na verdade, seria um cosmético para disfarçar um benfeitor a partir de um verniz aparentemente criminoso.

Justiceiro, Venom, Loki e outros mudaram o conceito de anti-herói

Demolidor: Renascido, que já passou da metade do enredo da primeira temporada, pode exemplificar isso bem, especialmente na mudança discreta de ambiente cru e realista visto na Netflix para o mundo mais heróico do MCU no Disney+. O Justiceiro, assim como nos quadrinhos, continua servindo como um bom contraponto para o Demolidor, pois cruza os limites que o Homem Sem Medo não costuma atravessar.

O relacionamento entre ambos nas revistas é semelhante, e a dramaticidade da atuação atualiza o conceito de anti-herói com questões mais complexas que, aparentemente, aproximam-se do herói tradicional. Em vez do silêncio misterioso e do comportamento caipira e antissocial, os anti-heróis mudaram bastante depois de suas estreias no cinema, desafiando as opiniões de Sanderson.

Justiceiro está atualmente mais próximo do heroísmo  (Reprodução/Marvel Comics)

O autor ignora traços clássicos, como o desafio à moralidade convencional e a disposição de operar fora da lei, não apenas por sua capacidade de violência. O novo anti-herói possui um compromisso moral ou rejeição de normas sociais que não recorrem à brutalidade física. O foco na violência, que é a base clássica desse conceito, agora surge apenas como uma característica definidora do limite do heroísmo.

A atualização exibe os costumeiros traços sombrios por meio de cinismo, compromisso moral e/ou rejeição de normas sociais; sem ter que, necessariamente, recorrer à brutalidade física. E a importância dramática continua a mesma: a de manter o questionamento sobre os métodos heróicos tradicionais, e o quão eficazes são.

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