Anúncio de Novo Plano Tarifário de Trump Contamina Mercado, Afetando Ibovespa e Dólar

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Em uma sessão marcada aversão ao risco no mundo, diante do esperado anúncio de novas tarifas de importação pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o dólar fechou a segunda-feira em baixa de quase 1% ante o real, na contramão do avanço da moeda americana ante boa parte de demais divisas no exterior. A cotação também foi influenciada pela disputa pela formação da taxa Ptax de fim de mês e de trimestre, O cenário também foi composto pela

A moeda americana à vista fechou em baixa de 0,97%, aos R$5,7069. No ano, a divisa acumula queda de 7,64% ante o real. Enquanto o Ibovespa, seguindo as demais bolsas de valores do mundo, recuou em 1,25%, somando 130.259,54 pontos. O volume financeiro no pregão foi de R$20,52 bilhões. Ao longo de março, o índice subiu 6,08%, enquanto no ano acumula alta de 8,29%.

Tarifas recíprocas e impacto

No início do dia o dólar chegou a oscilar em alta ante o real, acompanhando o seu avanço em relação outras divisas no exterior. Por trás do movimento estavam os receios em torno da guerra de tarifas entre os países. No domingo (28), o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que as tarifas recíprocas incluirão todos os países — e não apenas um grupo menor de 10 a 15 países. Trump prometeu revelar um enorme plano tarifário na quarta-feira (2), que ele apelidou de “Dia da Libertação”.

“Os investidores estão preocupados com as tarifas e a incerteza sobre a economia americana”, afirmou o estrategista de ações do research da XP, Raphael Figueredo. “Embora a recessão não seja nosso cenário base, a probabilidade vem aumentando gradativamente”, aponta. O Goldman Sachs elevou a probabilidade de recessão para os Estados Unidos de 20% para 35% e reduziu a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2025 de 2,0% para 1,5%.

“Existe uma postura de cautela e busca por proteção antes da divulgação de quarta, a respeito das novas medidas de política tarifária dos EUA”, acrescentou o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani. “Esse desempenho hoje é mais agudo, mas também não é muito diferente do que a gente assistiu ao longo do mês de março, uma incerteza crescente em função das dúvidas em relação à política externa americana.”

O recuo do dólar ante o real esteve na contramão do que foi visto no exterior, onde a moeda americana subia diante da maior parte das demais divisas. “Apesar de mais um dia de aversão ao risco e do fortalecimento desta divisa em relação às moedas de países desenvolvidos, o real é uma das poucas que se valoriza nesta segunda”, comentou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. “Fatores técnicos, como a formação da Ptax do trimestre com maior pressão vendedora no mercado, estão entre os elementos que explicam a queda de hoje”, concluiu.

Em Wall Street, os principais índices acionários se recuperaram das perdas da abertura, com Dow Jones e S&P encerrando o pregão no azul e Nasdaq próximo da estabilidade, apesar do recuo de 0,14%. Os três índices, no entanto, fecharam março com fortes perdas mensais e trimestrais.

Ptax no Brasil

Além do exterior, as cotações eram influenciadas pela disputa pela formação da Ptax no Brasil. Calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a taxa Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

No encerramento de trimestres a disputa é ainda mais acirrada, já que a Ptax serve de referência para balanços de empresas com operações internacionais. “O começo do pregão foi pautado nitidamente por uma cautela global. (As moedas) emergentes estavam se desvalorizando em bloco, meio que por conta da véspera do início do plano tarifário (nos EUA)”, comentou durante a tarde o diretor da assessoria FB Capital, Fernando Bergallo, chamando a atenção ainda para a formação da Ptax. “Tem aí uma influência técnica alheia a questões fundamentais. Tanto que o movimento no câmbio não está linear sequer em relação à bolsa”, acrescentou.

Formada a Ptax no início da tarde (R$5,7422 na venda), o dólar — que já cedia naquele momento — perdeu um pouco mais de força ante o real, em meio a movimentos técnicos. Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que agentes que atuaram para sustentar as cotações durante a manhã passaram, depois da formação, a “devolver” dólares ao mercado.

Na cena doméstica, o noticiário ainda repercutiu falas da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, nesta segunda-feira. Ela afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará poucos vetos ao texto do Orçamento de 2025, aprovado pelo Congresso em 20 de março. Segundo Tebet, muitos dos ajustes a serem realizados pelo governo serão “técnicos”. Pela manhã, o boletim Focus do BC mostrou que a mediana das projeções do mercado para o dólar no fim deste ano foi de R$5,95 para R$5,92.

Destaques

– VALE ON caiu 1,49%, respondendo pela maior contribuição de baixa para o Ibovespa. O papel foi pressionado pela queda dos preços nos contratos futuros do minério de ferro na Ásia, influenciada por preocupações com as perspectivas de demanda na China, depois que siderúrgicas cortaram produção.

– PETROBRAS PN recuou 0,72%, apesar da alta dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou com elevação de 1,51%. A presidente da estatal, Magda Chambriard, anunciou nesta segunda-feira que a companhia vai reduzir o preço médio do diesel vendido em suas refinarias em 4,6%, a R$3,55 por litro, a partir de 1º de abril. Além disso, afirmou que espera conseguir licença pré-operacional para atuar na Bacia da Foz do Amazonas ainda em abril. A Petrobras também comunicou redução de 7,9% no preço médio de venda de querosene de aviação para distribuidoras a partir de terça-feira.

– GPA ON saltou 13,6%, liderando com folga as altas do Ibovespa, após a varejista informar no domingo que o fundo de investimento Saint German, controlado pelo investidor Nelson Tanure, pediu convocação de assembleia geral extraordinária para destituir o atual conselho de administração e eleger novos membros, incluindo executivos indicados pelo próprio empresário.

– ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,88%, em dia negativo para bancos do Ibovespa. BRADESCO PN cedeu 1,32%, SANTANDER BRASIL UNIT perdeu 1,51%, BANCO DO BRASIL ON recuou 1,57% e BTG PACTUAL UNIT desvalorizou-se 3,44%. O JPMorgan rebaixou nesta segunda a recomendação para as ações do BB e do BTG de “overweight” para “neutra”, citando realização de lucros diante de uma visão mais baixista em relação às tendências da indústria e de um potencial de valorização mais limitado do setor.

– BRB ON, que não está no Ibovespa, disparou 83,44%, quase dobrando seu valor no pregão, após anunciar na sexta-feira (28) contrato para aquisição do Banco Master, em um acordo envolvendo 49% das ações ordinárias, 100% das ações preferenciais e 58% do capital total do banco liderado por Daniel Vorcaro. AMBIPAR ON, investida da Trustee DTVM, do Banco Master, fechou com alta de 2,28%, devolvendo ganhos após avançar cerca de 10% no pico da sessão.

– GRUPO CASAS BAHIA ON, que também não está listada no Ibovespa, caiu 12,89% no dia, mas selou o mês com uma valorização acumulada de mais de 200%. O grupo irá propor a acionistas em assembleia de 30 de abril a inclusão de uma cláusula de “poison pill” em seu estatuto, mecanismo que visa proteger a empresa de ofertas hostis.

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