Alta dos juros: como evitar os riscos do crédito privado

Com a taxa básica de juros em alta, o cenário atual tem levado muitos investidores a buscar mais segurança nos ativos de renda fixa. Segundo dados da Anbima, no final de 2024, 44,4% do total investido estava alocado em renda fixa, o que representou R$ 221,5 bilhões. Esse movimento se intensificou com o aumento da Selic para 14,25% ao ano, refletindo a confiança dos brasileiros em ativos mais seguros. No entanto, especialistas alertam que, em tempos de juros elevados, é importante ter cautela ao escolher os investimentos, especialmente no que diz respeito ao crédito privado.

O perigo de ajustar constantemente a carteira

Fernando Camargo Luiz, sócio fundador da Garoa Wealth Management, destaca que, em um país com juros reais elevados, a estratégia mais eficaz para crescer o patrimônio é minimizar os riscos e evitar movimentações constantes na carteira. Ele explica que, ao investir com um juro real de 8% ao ano, o patrimônio dobra a cada sete ou oito anos. No entanto, ao realizar trocas frequentes, pagando taxas e spreads, grande parte dessa rentabilidade pode ser comprometida. A Garoa Wealth, que administra mais de R$ 1 bilhão em patrimônio e acompanha R$ 1,5 bilhão em carteiras reformuladas, adota uma estratégia mais conservadora, com foco no longo prazo.

Crédito privado: riscos e complexidade

Uma das maiores preocupações entre os especialistas é o crescente volume de crédito privado corporativo, que inclui debêntures, CRIs, CRAs e FIDCs. Embora os fundos de renda fixa tenham apresentado um crescimento de 22,6% em 2024, e os títulos públicos também tenham subido 22,4%, a Garoa Wealth Management alerta para os riscos desse mercado. O economista Carlos Müller, sócio da consultoria, explica que o crédito privado é, muitas vezes, uma maneira dos bancos repassarem os riscos aos investidores individuais, transferindo o ônus dos empréstimos para fundos e investidores de varejo.

Müller também destaca que a falta de estabilidade fiscal e a volatilidade da política monetária no Brasil podem criar ciclos de juros elevados e desvalorização cambial, fatores que impactam diretamente o posicionamento do patrimônio dos investidores. Segundo ele, o Brasil não oferece a segurança institucional necessária para quem deseja correr riscos desnecessários. “Com juros reais entre os mais altos do mundo, quem investe corretamente pode garantir crescimento patrimonial expressivo sem se expor a oscilações desnecessárias”, afirma Müller.

Riscos do crédito privado

Luiz e Müller alertam para o fato de que o crédito privado corporativo envolve riscos difíceis de mensurar e retornos muitas vezes insuficientes para justificar a exposição. O exemplo das Americanas, que enfrentaram sérios problemas financeiros, exemplifica o risco de calote, algo que pode prejudicar severamente os investidores. “Muitos investidores não têm ferramentas adequadas para avaliar a solidez das empresas emissoras de títulos, o que aumenta a vulnerabilidade a fraudes e quebras”, afirma Luiz.

Além disso, os fundos de crédito privado e FIDCs possuem uma estrutura complexa e opaca, com uma cadeia de intermediários como gestores, auditores e consultores. Isso não só reduz a rentabilidade líquida, mas também aumenta o risco sistêmico, dificultando a previsibilidade dos rendimentos. “Muitas empresas captam crédito a taxas altas, mas grande parte do rendimento fica com os intermediários, deixando uma fração muito pequena para o investidor final”, ressalta Luiz.

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