Prada + Versace? O que está por trás da possível aquisição mais comentada da moda

Além da dança das cadeiras nos cargos criativos das grandes marcas de luxo, tem outro movimento sacudindo o setor: fusões e aquisições. Nada de novo até aí, mas os rumores de que a Prada está prestes a comprar a Versace levam tudo para outro patamar. Como assim? Calma que a gente explica: A Prada nasceu como uma marca independente e, com o tempo, virou um grupo, adquirindo marcas de nicho sempre de forma seletiva — casos de Church’s e Car Shoe — e alinhadas com sua visão de exclusividade e artesanato. Agora, a possível aquisição da Versace, uma marca de impacto global e reconhecimento massivo, seria um salto estratégico para consolidar a Prada como um conglomerado de peso. A recente saída de Donatella Versace da direção criativa para se tornar embaixadora da casa só alimenta as especulações, especialmente com a entrada de Dario Vitale, que assume o cargo criativo depois de mais de uma década onde? Na irmã caçula da Prada, a menina dos olhos de Miuccia: a Miu Miu.

Bernard Arnault, diretor executivo da LVMH. 
Prada

Foto: Bernard Arnault, diretor executivo da LVMH. (Getty Images)

No cenário geral, a dinâmica do luxo é dominada por dois grandes players: LVMH e Kering, que absorveram várias marcas icônicas ao longo das décadas. Ao longo dos anos, outros grupos surgiram, e a gente já fez uma pauta sobre isso, que você pode conferir aqui. São cada vez mais raros os casos de grifes que conseguem se manter completamente independentes, e a dúvida é: será que ser comprado por um conglomerado é o destino inevitável de marcas que querem crescer? A resposta está longe de ser simples. Como tudo na vida, existem prós e contras: estar sob o guarda-chuva de um grupo garante suporte financeiro, acesso a melhores fornecedores, maior poder de distribuição e investimento pesado em marketing. Mas, ao mesmo tempo, significa abrir mão de autonomia e ter que responder a acionistas e CEOs com visões estratégicas voltadas para o lucro, não necessariamente para a criatividade.

Pessoa com casaco bege e bolsa grande marrom, em frente a parede branca.
Prada

Foto: The Row (Reprodução/Instagram)

Existem alternativas? Sim, o caminho que marcas como The Row e Jacquemus estão trilhando. As irmãs Olsen conseguiram um investimento minoritário de um grupo que inclui a família Wertheimer (dona da Chanel), garantindo capital sem perder o controle da marca. A The Row vem crescendo de forma orgânica, sem ceder à pressão das grandes varejistas e mantendo uma produção focada em qualidade e sofisticação discreta. Já Simon Porte Jacquemus, conseguiu sozinho transformar sua marca em um fenômeno global, equilibrando desejo e acessibilidade com campanhas de marketing altamente virais e desfiles espetaculares que dominam as redes sociais. Recentemente, anunciou que busca um investidor, mas com a condição de manter a maior parte da empresa.

Outro modelo é o de Phoebe Philo. Quando voltou à moda em 2023, depois de anos de hiato desde sua saída da Celine, com sua etiqueta própria, recebeu um aporte minoritário da LVMH, mas manteve soberania criativa e opera em um formato diferente, focado em drops espaçados e na distribuição seletiva. Após um início operando exclusivamente via e-commerce próprio, a marca começou a ser vendida em boutiques e lojas de departamento em cidades estratégicas, ampliando seu alcance sem comprometer a exclusividade.

Enquanto algumas marcas buscam caminhos diferentes para obter vantagens de grandes conglomerados, outras tentam recuperar sua independência. No último fim de semana, os irmãos Dean e Dan Caten, fundadores da DSQUARED2, anunciaram a retomada total do controle da marca, encerrando antecipadamente o contrato de licenciamento com a Staff International, do grupo OTB—fundado por Renzo Rosso, dono da Diesel e de marcas como Maison Margiela e Jil Sander. A decisão, que garante maior autonomia na produção e distribuição, gerou uma disputa judicial, com a Staff alegando que o contrato deveria vigorar até 2027. O caso reforça como, para algumas marcas, a internalização pode ser a estratégia preferida, ainda que não isenta de desafios.

Além dos gigantes tradicionais, grupos focados em beleza também têm entrado no jogo. O Grupo Puig comprou a Dries Van Noten, que desde então expandiu para a perfumaria de forma bem-sucedida, e a Estée Lauder adquiriu a Tom Ford, consolidando a marca como um império de lifestyle que vai além da moda. A sinergia faz sentido: cosméticos e perfumaria representam uma fatia enorme do mercado de luxo e são fontes de receita mais constantes do que moda, cuja demanda oscila conforme as tendências.

Leia também: A Nova Era das Marcas: o que podemos esperar?

Outro ponto interessante é a estratégia de compra gradual, como a que a Kering está fazendo com a Valentino. Em 2023, o grupo adquiriu 30% da marca por 1,7 bilhão de euros, com uma opção de compra total até 2028. Ao mesmo tempo, a Mayhoola (atual proprietária da Valentino) pode se tornar acionista da Kering, criando um ciclo de aquisições múltiplas.

No fim das contas, não existe uma resposta definitiva. Algumas marcas prosperam dentro de conglomerados, enquanto outras lutam para manter sua independência e encontram formas alternativas de crescimento. O que é certo é que, em um setor onde escala e capital são fundamentais, a pressão por consolidação só tende a crescer.

Em tempo, as últimas especulações apontam que o destino da Versace será anunciado até 10 de abril e que a Jimmy Choo talvez faça parte do pacote adquirido pela Prada. Vamos ficar de olho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.