Justiça mantém prisão de PM que atirou em feirante na Penha; mulher nega que tenha acusado rapaz de roubo


Testemunhas disseram que Pedro Henrique Morato Dantas, de 20 anos, foi atacado sem direito de defesa e apontado como envolvido em uma confusão com o policial, mas que na verdade estava desde cedo na feira. Militar é preso após matar feirante na Penha
A Justiça do Rio manteve a prisão do policial militar Fernando Ribeiro Baraúna, que tinha sido preso em flagrante pela morte do jovem feirante Pedro Henrique Morato Dantas, de 20 anos. O rapaz foi morto a tiros neste domingo (6) enquanto montava a barraca de pastel em que trabalhava em uma feira na Penha, Zona Norte do Rio.
A decisão da Justiça coloca o sargento em prisão preventiva para não atrapalhar as investigações. Na audiência de custódia, o juiz entrevistou feirantes, os policiais envolvidos na ocorrência e a mulher do policial. O policial responde por homicídio qualificado.
As testemunhas disseram que Pedro estava montando a barraca quando foi abordado pelo sargento, que teria dito “não corre”. Ele estava acompanhado da esposa, segundo os feirantes, que teria apontado o trabalhador como autor de um roubo. Após os tiros, o casal teria dito que ele era “cracudo” e que “era só mais um”.
O suposto roubo teria acontecido em uma confusão dentro de uma boate onde o casal estava pouco antes e que foi expulso pelos seguranças. Familiares do feirante Pedro dizem que ele saiu cedo de casa para trabalhar e que não estava em boate.
Por sua vez, a mulher do policial, identificada como Natalia Teles, disse que não viu a confusão dentro da boate, mas que acompanhou o esposo para fora. Em seguida, ela disse que um homem passou correndo e atingiu o pescoço do marido com um objeto cortante.
Ainda na versão de Natalia, o casal passou a correr atrás da pessoa, mas ela acabou para trás e que não tinha visto as características físicas do suposto agressor. Ela disse que apenas ouviu os disparos e não sabe em que circunstâncias Pedro foi atingido. Natalia também negou que tenha apontado a vítima como autor de algo, já que ela sequer tinha visto a confusão na boate.
Um amigo de Pedro Henrique afirmou que o rapaz era trabalhador e acordava cedo, diariamente, para trabalhar na barraca de pastéis do pai.
“Um garoto novo, 20 anos, estava começando a vida para vir alguém e fazer essa fatalidade com ele, trabalhando. Não estava na rua de bobeira. Acordou cedo. E como todo feirante acorda cedo para poder trabalhar e perder a vida dessa forma”, afirmou Ronaldo Araújo, que também é feirante.
A família sepultou o corpo de Pedro na tarde desta segunda-feira (7) em São Paulo.
“Acordar às 3h para um infeliz que está no mundo, na pista, tirar a vida dele? Se ele soubesse não tinha acordado, né? Aí falar que ele estava em boate? O celular dele está ali, mostra o horário que ele acordou, que ele despertou. Eu espero que essa justiça, que nós temos dúvida, funcione. Vamos ver, vamos esperar”, desabafou Jailton Dantas, pai do rapaz.
Pedro Henrique Morato
Reprodução/TV Globo
Segundo testemunhas, Natalia acusou Pedro Henrique de ser o autor de uma agressão na festa onde eles estavam. E que depois de apontá-lo para o marido, o PM atirou nele.
Segundo testemunhas, o PM e a mulher, identificada como Natalia Teles, tinham saído de uma boate. A mulher alegou em depoimento que houve um desentendimento com o feirante. Por sua vez, o PM disse que agiu em legítima defesa quando Pedro Henrique tentou esfaqueá-lo.
Natalia Teles
Reprodução/TV Globo
Outros feirantes contaram que antes de atirar contra Pedro Henrique, Fernando já tinha feito vários disparos para o alto.
O velório e o enterro de Pedro Henrique estão marcados para essa segunda-feira (7), no Cemitério Municipal de Pedro Toledo, no interior de São Paulo, cidade onde reside da família maternal.
O sargento da PM Fernando Ribeiro foi preso em flagrante por homicídio qualificado
Reprodução/TV Globo
Em nota, a Polícia Militar disse que “o comando da corporação reitera que não compactua com cometimento de excessos e crimes realizados por seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos”.
Ainda segundo a PM, a Corregedoria da Interna da instituição foi acionada e apura o caso internamente.
A TV Globo não localizou a defesa de Fernando Ribeiro.
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