Mistério resolvido: para que servia o botão Turbo nos PCs antigos?

A tecnologia teve grande evolução nas últimas décadas. Nos anos 1990, por exemplo, os nostálgicos e entusiastas de computadores se lembram dos disquetes, internet discada, PCs amarelando, monitor de tubo e um botão de “Turbo”. “E isso era um nitro nos PCs antigos?”, você deve se perguntar. O Canaltech explica.

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O conhecimento acerca de hardware de PC não era como hoje há 30 ou 40 anos atrás. Então, se alguém afirmasse que o botão Turbo realmente turbinava a performance de um computador, acabava virando um conhecimento (ou crença) no meio dos usuários de PC. Aqui, vamos falar sobre alguns aspectos como o motivo da adição desse recurso, o que ele fazia e mais.

O que era o botão Turbo?

O botão Turbo era comumente encontrado em PCs nas décadas de 1980 e 1990, quando a maioria dos brasileiros nem sonhava com um computador pessoal (é o que significa a sigla PC em inglês). Geralmente, ele era acompanhado de um LED indicativo de liga/desliga e, às vezes, um pequeno visor que mostrava números referentes à velocidade da CPU em MHz.


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Os modelos com LED mostravam a velocidade da CPU (Imagem: Youtube/Gaming Retro)

A função desse botão era simples: alterar a velocidade do processador através da mudança das frequências. Uma vez acionado, a CPU recebia uma espécie de overclock (na verdade um underclock, explicaremos mais adiante), alterando o clock em MHz. Essa mudança implicava diretamente na velocidade e desempenho do componente.

Ou seja, em geral, o botão Turbo deixava a CPU mais rápida ou mais lenta. Porém não imagine que era algo como hoje em dia, em que é possível definir valores de clock e tensões bem diferentes do estabelecido de fábrica. Era algo totalmente controlado pelas fabricantes de PC e hardware.

Por que o botão Turbo existia?

O recurso do botão Turbo chegou ainda na década de 1980, quando a Intel tinha CPUs da série 80 no mercado. A cada nova geração, a velocidade em MHz mudava consideravelmente — como indica a Lei de Moore. Por exemplo: do 8088 com seu clock máximo em 8 MHz em 1979, foi para 25 MHz em 1982 com o 80286, um dos mais populares da época. No fim da mesma década, com a nova geração de CPUs 32-bits, chegava em 50 MHz com o 80486DX.

A maioria das aplicações e jogos da época foram feitas para processadores com frequências menores, que operavam, por exemplo, entre 4 MHz e 8 MHz, como os Intel 8088/8086. Com a chegada de CPUs mais rápidas, como as mencionados acima, era necessário diminuir a velocidade para rodar programas e jogos normalmente.

“Os primeiros programadores de computadores usavam o clock do processador para medir o tempo de execução de cada programa e isso foi o padrão por muito tempo. Para se ter uma ideia, os processadores Intel daquela época trabalhavam próximo dos 4 MHz, ou seja, tudo era feito pensando nesta velocidade, neste padrão de tempo de reação”, explica Iuri Santos, gerente de tecnologia da Kingston, em entrevista ao Canaltech.

Caso a frequência de uma determinada CPU fosse acima do estabelecido pelo desenvolvedor ao programar aquele jogo ou software, acontecia anomalias como alta velocidade em games ou dados corrompidos em aplicações que envolviam textos, entre outros problemas.

Isso era até audível quando o teste de memória era rodado ao ligar um PC velho com o recurso, já que o som era diferente com e sem Turbo. Por isso, o botão Turbo, na verdade, tinha o objetivo de reduzir a velocidade da CPU para valores mais baixos, que garantiam o correto funcionamento do programa.

Como funcionava o botão Turbo na prática?

Diferente de como é feito hoje em dia (através da BIOS ou aplicações no sistema operacional), o under/overclock do botão Turbo acontecia através de um sinal enviado à placa-mãe com o comando para a mudança nas frequências preestabelecidas. Assim como os botões de liga/desliga e reset, até os dias de hoje, são conectados nos pinos da placa-mãe, assim era o botão turbo.

Há quem diga, como o canal VWestlife no vídeo abaixo, que a diminuição nas frequências era uma confusão causada pela forma como se encaixava o conector do botão nos pinos da placa. Ele mostra que, caso a conexão seja feita de uma forma, o botão aumenta os clocks; e da outra forma, o contrário acontecia. Mas isso era algo que mudava de fabricante para fabricante, não era padrão.

 

“A chave do turbo era física mesmo, acoplada à placa mãe. Ao apertá-la, você interrompia a frequência de operação dos processadores para que eles ficassem na velocidade do programa ou do game em questão, que era na faixa dos 4 MHz”, adiciona Iuri Santos.

Alguns PCs vinham sem o botão físico no gabinete, mas ainda era possível alterar os clocks. Para subir, era necessário usar o atalho CTRL/ALT +, e para diminuir, bastava trocar o + por -. Para que isso acontecesse, era necessário usar um jumper nos pinos da placa-mãe.

Marketing ou lógica invertida? A verdade sobre o botão Turbo

Com o propósito do botão Turbo bem estabelecido agora, porque, então, chamá-lo de “turbo” se o efeito contrário era o que acontecia? Bom, dá para imaginar que poderia ser uma jogada de marketing, já que afirmar que, ao pressionar um botão, seu PC ficava mais potente, era bastante atraente.

O botão Turbo precisava ser conectado na placa-mãe (Imagem: Youtube/VWestlife)

Como não existia um padrão a ser seguido nesse aspecto, podemos afirmar que, sim, alguns PCs até aumentavam a potência da CPU com o botão. Porém a maior finalidade era diminui-la para que a compatibilidade de novos processadores com aplicações mais antigas e sensíveis à velocidade das frequências fosse melhor.

Isso causou confusão na época, gerando até reclamações dos consumidores direcionadas às fabricantes de PCs. A coisa piorava por conta da falta de padrão, com algumas máquinas aumentando e outras diminuindo os clocks com o botão.

Declínio e fim do botão Turbo

O botão Turbo durou pouco mais de 10 anos entre as décadas de 1980 e 1990. Seu fim começou no meio dos anos 1990 com a chegada dos processadores Pentium e a evolução na forma como se programava as aplicações, entre outras melhorias, aliada à falta da necessidade de rodar programas e jogos que já eram tão antigos.

As aplicações pararam de depender do clock direto da CPU e passaram a usar timers internos, fazendo com que programas e jogos rodassem de forma adequada independentemente da velocidade do processador. Além disso, a evolução no gerenciamento de dados pelos sistemas operacionais, como o Windows, e APIs, como DirectX, também ajudou na extinção do icônico botão.

A partir de então, a BIOS dos PCs passaram a gerenciar o comportamento do processador, aumentando e diminuindo as frequências conforme a demanda do usuário. E isso também se tornou possível de ser feito manualmente com o passar dos anos.

Nas décadas de 1980 e 1990, existiam diferentes fabricantes de PCs (Imagem: Joshua Woehlke)

Conclusão

No fim das contas, o nostálgico botão de Turbo não era necessariamente responsável por aumentar a potência dos computadores, mas uma ferramenta de compatibilidade entre CPUs novas e aplicações antigas. Mesmo causando certa confusão, ele foi importante para fazer com que os usuários de PCs mais fortes continuassem a usar programas e jogos populares 30, 40 anos atrás.

Mesmo assim, o recurso foi parte importante da história dos computadores e foi um primeiro passo para chegar até a facilidade que temos hoje com literalmente tudo automatizado para quem não quer dor de cabeça, ou muito customizável para quem quer encarar o desafio com diferentes configurações.

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Leia a matéria no Canaltech.

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