Trump pressiona China, e Brasil pode ter boom de 30% na indústria de celulares

O Brasil pode viver um crescimento expressivo na produção de smartphones a partir de maio, caso a guerra tarifária entre EUA e China se intensifique. Estima-se que o país tenha capacidade para fabricar entre 10 e 19 milhões de unidades além do necessário para abastecer o mercado interno em 2025. Esse possível excedente pode ter como destino os EUA, especialmente diante da disparada das tarifas do presidente norte-americano contra a China.

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A avaliação é de Reinaldo Sakis, diretor de pesquisas da IDC, que define esse momento como a “oportunidade dos sonhos” para a indústria brasileira — em especial, a instalada no Polo Industrial de Manaus.

Enquanto os EUA impõem tarifas de até 125% sobre produtos chineses, os itens fabricados no Brasil enfrentam uma alíquota muito menor, de 10%.


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Com isso, mesmo com desafios como mão de obra mais cara e uma cadeia de suprimentos mais limitada, o produto brasileiro passa a ser mais competitivo que o chinês no mercado norte-americano.

“Em 2019, fabricamos cerca de 49 milhões de celulares. Este ano, devemos ficar abaixo de 38 milhões — talvez até menos de 30 milhões. Isso mostra que existe capacidade produtiva ociosa no Brasil”, afirma Sakis ao Canaltech. “Fabricar mais dez milhões de produtos não seria impensável. Em questão de semanas, isso poderia ser viável”.

Celular da Honor fabricado pela Positivo em Manaus (Imagem: Divulgação/Positivo)

Segundo Sakis, o aumento na produção poderia ser alcançado com medidas simples, como a adição de um novo turno de trabalho em fábricas como as da Samsung, Motorola ou Foxconn (Apple).

Esse incremento representaria um crescimento entre 26% e 33% na produção nacional de celulares, em comparação com as estimativas mais pessimistas para 2025. Tudo isso caso a situação entre EUA e China se torne mais previsível até maio, como prevê o diretor de pesquisas da IDC.

Governo confirma interesse da indústria em ampliar produção em Manaus

A Zona Franca de Manaus, maior polo industrial do Brasil, ganhou novo protagonismo com a escalada tarifária entre EUA e China. A Samsung, maior fabricante mundial de celulares, possui planta na região e tem condições técnicas para produzir modelos topo de linha — justamente os mais vendidos no mercado americano.

Além dos smartphones, outros produtos de alto valor agregado, como fones de ouvido e caixas de som da JBL, também poderiam se beneficiar de uma nova onda exportadora a partir de Manaus.

Segundo Bosco Saraiva, superintendente da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), uma infraestrutura aérea para essa operação já está disponível.

“Há uma rota direta Manaus–Miami que hoje é subutilizada na volta aos EUA. Poderíamos usar essa volta para exportar produtos de alto valor agregado, como smartphones. Isso inclusive reduziria custos para as companhias aéreas”, afirma.

Hoje, essa rota é usada principalmente para importar componentes eletrônicos dos EUA. No novo cenário, porém, seria necessário que os insumos viessem diretamente da Ásia, evitando os portos norte-americanos e possíveis sobretaxas. Mesmo assim, o setor já começou a se mobilizar.

“Nos últimos dias, recebemos contatos de empresas grandes, inclusive multinacionais, querendo entender como funciona o processo de exportação a partir de Manaus. Muitas estão acostumadas a importar — agora querem aprender a exportar”, afirmou Luiz Frederico Aguiar, superintendente-adjunto da Suframa. “A partir da estabilização das tarifas, esperamos decisões rápidas”.

Suframa diz que Manaus já tem infraestrutura para viabilizar exportação de bens com valor agregado (Divulgação/Suframa)

Brasil ainda não é a China

Apesar da oportunidade, especialistas alertam que o Brasil está longe de competir com a China em escala e infraestrutura industrial. Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, explicou que para além dos 10 milhões de celulares já possíveis, seria necessário alto investimento em ampliação de fábricas e melhorias logísticas.

“Apesar dos incentivos, a produção em Manaus ainda se concentra na montagem, não na fabricação completa de eletrônicos. Poucas empresas têm estrutura técnica para isso, e escalar essa operação é um desafio”, afirma. “A falta de tecnologia local e os altos custos tornam o cenário ainda mais difícil”.

Mesmo que o Brasil viabilize uma rota logística direta com a Ásia para importar componentes, o polo de Manaus ainda enfrenta limitações estruturais quando comparado às zonas econômicas especiais chinesas.

“É muito incipiente tomar qualquer decisão agora. Precisamos olhar para o longo prazo, porque decisões de investimento são sempre estratégicas. A China tem planejamento e execução impecáveis. Para uma grande marca decidir apostar no Brasil, será preciso visão de futuro”, conclui.

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