10 jogos icônicos lançados em 1992

O ano de 1992 é um dos períodos mais importantes e transformadores da história dos videogames. Foi um momento decisivo que consolidou a transição dos 8-bits para os vibrantes 16-bits, com o Super Nintendo e o Mega Drive já estabelecidos e travando uma das batalhas comerciais mais acirradas da indústria. O Mega CD chegava ao mercado ocidental prometendo uma revolução, enquanto os PCs começavam a mostrar seu potencial para jogos mais complexos e tecnicamente avançados.

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No Japão, desenvolvedoras como Nintendo, Sega, Square e Enix estavam no auge de sua criatividade, produzindo títulos que até hoje são lembrados e aclamados. Nos Estados Unidos, a indústria vivia um momento de expansão extraordinária, com as vendas de jogos atingindo patamares inéditos e os arcades ainda exercendo enorme influência cultural. Já no Brasil, o mercado enfrentava desafios com importações caras, mas viu o nascimento da primeira revista licenciada pela Nintendo, a “SuperGame”, um marco para os jogadores brasileiros que finalmente tinham uma fonte oficial de informações sobre seus jogos favoritos.

Foi também em 1992 que testemunhamos o amadurecimento de diversos gêneros. Jogos de corrida, luta, ação, RPG e aventura receberam títulos que não apenas definiriam seus respectivos gêneros, mas também estabeleceriam padrões que a indústria seguiria por anos. Inovações em gameplay, narrativa e tecnologia surgiram num ritmo acelerado, desafiando os limites do hardware recém-lançado e mostrando o caminho que o entretenimento digital seguiria na década seguinte.


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10. Top Gear

A história de Top Gear é particularmente curiosa. Enquanto internacionalmente o jogo não causou grande comoção, no Brasil ele se tornou um fenômeno cultural. Desenvolvido pela Kemco e lançado para o Super Nintendo, o game capturou a essência das corridas arcade com sua jogabilidade simples e viciante, além de uma trilha sonora que se tornou lendária entre os brasileiros.

Top Gear marcou a infância e adolescência dos brasileiros nos anos 1990 (Imagem: Reprodução/Kemco)

O que fez Top Gear tão especial foi sua perfeita combinação de acessibilidade e desafio. O sistema de split-screen permitia que dois amigos competissem simultaneamente, algo que se tornou tradição nas reuniões de final de semana por todo o país. As pistas ambientadas em diversos países, o sistema de abastecimento estratégico e a progressão de dificuldade bem balanceada mantinham os jogadores grudados na tela por horas.

A trilha sonora composta por Barry Leitch merece um capítulo à parte. As melodias sintetizadas ficaram tão gravadas na memória coletiva dos brasileiros que até hoje são facilmente reconhecidas e reproduzidas, com a música tema sendo um hino não-oficial da nostalgia gamer nacional. É impossível falar de jogos de corrida no Brasil sem mencionar o impacto cultural que Top Gear teve em toda uma geração que cresceu nos anos 1990. Prova disso disso é que o excelente Horizon Chase, do estúdio brasileiro Aquiris Games, surgiu em 2015 como um sucessor espiritual superaclamado, com trilha sonora composta pelo próprio Leich; e em 2024 a coletânea Top Racer Collection chegou nos PCs e consoles com 4 jogos da franquia, novos modos de jogo e novos carros — incluindo o Fiat Uno da firma com escada no teto.

Sem dúvidas uma prova de que o sucesso de um jogo não se mede apenas por vendas globais, mas também por seu impacto cultural em determinadas regiões.

9. Virtua Racing

Enquanto os consoles caseiros dominavam as salas de estar, os arcades seguiam inovando, e nada representa melhor essa inovação que Virtua Racing. Lançado pela Sega em 1992, o jogo foi um marco tecnológico que revolucionou a maneira como os gráficos 3D eram implementados em jogos. Desenvolvido sob supervisão do lendário Yu Suzuki, Virtua Racing introduziu o Model 1, um hardware capaz de renderizar polígonos com uma velocidade impressionante para a época.

Virtua Racing chamou atenção nos arcades pelos gráficos 3D, até então raridade (Imagem: Reprodução/Sega)

Virtua Racing chamou muita atenção por sua abordagem minimalista: gráficos compostos por polígonos coloridos sem texturas, criando um visual limpo e distintivo que permitia uma performance fluida mesmo com muitos carros na pista. As três visões de câmera disponíveis (incluindo uma dentro do cockpit) eram uma novidade que ampliava significativamente a imersão, enquanto as três pistas ofereciam desafios únicos para os pilotos.

O legado de Virtua Racing se estendeu para muito além dos fliperamas. O jogo estabeleceu as bases técnicas e conceituais para toda a série Virtua da Sega, incluindo o revolucionário Virtua Fighter, e influenciou diretamente o desenvolvimento de jogos de corrida 3D para os anos seguintes. Quando posteriormente foi adaptado para o Mega Drive com o auxílio do chip SVP (Sega Virtua Processor), tornou-se uma demonstração do que seria possível atingir com hardware específico para gráficos 3D, antecipando a era dos aceleradores gráficos que transformariam a indústria nos anos seguintes.

8. Super Mario Land 2: 6 Golden Coins

Após o sucesso do primeiro Super Mario Land no Game Boy, a Nintendo sabia que precisava elevar o nível para a sequência. E foi exatamente isso o que fez com Super Mario Land 2: 6 Golden Coins, um jogo que expandiu dramaticamente o escopo do que era possível fazer em um portátil. Lançado em outubro de 1992, o título aprimorou todos os aspectos de seu antecessor e introduziu ao mundo um dos personagens mais icônicos da Nintendo: Wario, o anti-herói de bigode torto que serviria como contraponto perfeito para Mario.

Super Mario Land 2 “exportou” com sucesso a fórmula dos jogos de Mario para a telinha do Game Boy (Imagem: Reprodução/Nintendo)

A maior conquista de Super Mario Land 2 foi conseguir transportar a sensação dos jogos de Mario do console para o portátil sem concessões significativas. Os sprites eram maiores e mais detalhados, os controles precisos e responsivos, e o mundo de jogo muito mais diversificado. As seis zonas temáticas – desde uma área de brinquedos gigantes até o interior de uma baleia – ofereciam experiências distintas, com um level design que demonstrava como a Nintendo sabia criar desafios que eram ao mesmo tempo acessíveis e engenhosos.

A introdução do antagonista Wario revelou-se um golpe de mestre. Caracterizado como a antítese grotesca de Mario, ele se apresentava como um vilão movido pela ganância e inveja, que havia tomado o castelo do encanador durante sua ausência. O personagem caiu nas graças do público e logo ganharia sua própria série de jogos, começando com Wario Land: Super Mario Land 3 no ano seguinte. 

7. Dragon Quest V: Hand of the Heavenly Bride

Em uma época em que os RPGs japoneses começavam a ganhar projeção global, Dragon Quest V: Hand of the Heavenly Bride destacou-se como uma obra-prima narrativa. Lançado inicialmente apenas no Japão para o Super Famicom, o título escrito pelo lendário Yuji Horii chamou a atenção ao acompanhar a vida do protagonista desde a infância até a idade adulta, abordando temas como família, destino e o passar do tempo de uma forma até então inédita nos videogames.

Dragon Quest V trouxe uma narrativa impactante, criando laços entre os jogadores e os personagens (Imagem: Reprodução/Enix)

O sistema de recrutamento de monstros de Dragon Quest V estabeleceu as bases para o que seria explorado anos depois em franquias como Pokémon. Os jogadores podiam convencer criaturas derrotadas a se juntarem ao grupo, criando possibilidades quase infinitas de composição de equipe. Tal mecânica, combinada com o tradicional sistema de combate por turnos refinado ao longo da série, resultou em uma experiência de jogo profunda e estratégica que recompensava a experimentação.

No entanto, o que realmente distingue Dragon Quest V é sua narrativa emocionalmente impactante. Ao longo de aproximadamente 30 horas de jogo, os jogadores testemunham o protagonista enfrentando perdas devastadoras, formando sua própria família e até mesmo vendo seus filhos crescerem e se juntarem à aventura.

Esse arco narrativo multigeracional, raro mesmo pelos padrões atuais, criou conexões emocionais dos jogadores com os personagens que poucos jogos da época conseguiam estabelecer. Infelizmente, o ocidente só experimentaria oficialmente esta obra-prima em 2009, com o remake para Nintendo DS.

6. Contra III: The Alien Wars

Quando o assunto é ação frenética em jogos de plataforma com tiros, poucos títulos capturaram a essência do gênero como Contra III: The Alien Wars. Lançado para o Super Nintendo em 1992, o jogo aproveitou todo o potencial do hardware de 16 bits para criar uma experiência visualmente impressionante e intensamente desafiadora que se tornou referência para o gênero run ‘n gun.

Contra 3 trouxe ação frenético e desafio absurdo para os jogadores de Super Nintendo (Imagem: Reprodução/Konami)

O que fazia Contra III tão especial era sua capacidade de criar momentos espetaculares. Do início dramático com uma cidade em ruínas até o confronto final de tirar o fôlego, o jogo não dava um momento de respiro ao jogador. A inclusão de estágios com perspectiva top-down com rotação de cenário demonstrava as capacidades do Mode 7 do Super Nintendo, enquanto sequências como segurar-se em mísseis em pleno voo se tornaram momentos icônicos na história dos videogames. Tudo isso era complementado por uma das mais impressionantes galerias de chefes já vista, com criaturas alienígenas gigantescas que ocupavam grande parte da tela.

A dificuldade elevada tornou-se marca registrada da experiência, exigindo reflexos afiados e memória para padrões de ataque. O modo cooperativo para dois jogadores transformava a já intensa jornada em uma experiência social inesquecível, criando histórias de superação que até hoje são compartilhadas entre amigos. 

Contra III definiu um padrão de qualidade tão elevado que mesmo mais de três décadas depois continua sendo considerado por muitos o melhor da série e referência de jogos do gênero.

5. Sonic the Hedgehog 2

Após o impacto do primeiro Sonic, a Sega tinha uma árdua missão: superar um jogo que já havia redefinido os jogos de plataforma com sua velocidade absurda. Com Sonic the Hedgehog 2, lançado em novembro de 1992, a empresa não apenas atingiu esse objetivo, mas criou o que muitos consideram o ponto mais alto da série. Desenvolvido pela Sonic Team em colaboração com o recém-formado Sega Technical Institute nos EUA, o jogo aprimorou todos os aspectos que tornaram o original um sucesso e adicionou elementos que se tornariam inseparáveis da identidade da franquia.

Sonic 2 melhorou a fórmula do primeiro jogo e trouxe novidades muito bem-vindas, como a raposinha Tails (Imagem: Reprodução/Sega)

A introdução de Miles “Tails” Prower, a raposinha de duas caudas que acompanhava Sonic em sua aventura, foi uma adição crucial que expandiu o universo do jogo e possibilitou o modo cooperativo. Mais importante ainda foi a introdução do Spin Dash, movimento que permitia a Sonic girar parado e disparar em alta velocidade, resolvendo uma das principais limitações do controle no primeiro jogo. Essas adições, combinadas com um level design mais refinado e variado, criavam uma sensação de fluidez que poucos jogos da época conseguiam oferecer.

Visualmente, Sonic 2 empurrava o Mega Drive aos seus limites com cenários coloridos e detalhados, paralaxe em múltiplas camadas e efeitos especiais impressionantes para a época. Fases icônicas como Chemical Plant Zone e Casino Night Zone apresentavam mecânicas distintas que diversificavam a gameplay sem comprometer a identidade do jogo baseada em velocidade. A inclusão das Esmeraldas do Caos e a possibilidade de se transformar em Super Sonic adicionaram um elemento de rejogabilidade que ampliou significativamente a vida útil do título.

4. Alone in the Dark

Enquanto consoles dominavam o mercado de massa, nos PCs um jogo estava prestes a criar um gênero inteiramente novo. Alone in the Dark, desenvolvido pela francesa Infogrames e lançado para computadores em 1992, é considerado o pai dos jogos survival horror, estabelecendo convenções e atmosfera que influenciariam títulos como Resident Evil e Silent Hill nos anos seguintes.

Alone in the Dark inaugurou o gênero de survival horror, que anos depois foi consolidada por Resident Evil e Silent Hill (Imagem: Reprodução/Infogrames)

Ambientado em 1925 na mansão Derceto, o jogo colocava o jogador no papel de Edward Carnby (ou Emily Hartwood) investigando um suicídio suspeito apenas para descobrir uma casa infestada de criaturas sobrenaturais. O uso pioneiro de personagens poligonais tridimensionais sobre cenários pré-renderizados em 2D criava uma estética única – e por vezes perturbadora – que maximizava tanto o impacto visual quanto o desempenho em hardware limitado da época. Esse estilo visual, combinado com ângulos de câmera fixa, contornava as limitações técnicas ao mesmo tempo que criava enquadramentos cinematográficos que aumentavam a tensão.

O verdadeiro triunfo de Alone in the Dark estava em sua abordagem ao horror. Em vez de depender apenas de sustos, o jogo construía um senso constante de inquietação através de sua trilha sonora esparsa, design de inimigos inspirado nas obras de H.P. Lovecraft e puzzles inteligentes que exigiam exploração meticulosa. Os recursos limitados do protagonista – que não era um super-herói, mas um investigador comum – criavam uma vulnerabilidade que intensificava cada encontro. 

Essa fórmula estabeleceu o modelo que o gênero survival horror seguiria pelos próximos 20 anos, garantindo a Alone in the Dark um lugar permanente na história dos videogames.

3. Wolfenstein 3D

Antes de DOOM, antes de Half-Life, antes mesmo que o termo “FPS” existisse, houve Wolfenstein 3D. Lançado em maio de 1992 pela id Software, o jogo popularizou o gênero de tiro em primeira pessoa e mostrou o que um título de PC podia oferecer muito mais em termos de ação imersiva. Desenvolvido pela lendária equipe composta por John Carmack, John Romero, Tom Hall e Adrian Carmack, o título transformou tecnologia de ponta em uma experiência visceral que seria o ponto de partida para uma revolução nos videogames.

Wolfenstein 3D trouxe ação visceral para o PC, abrindo caminho para a revolução que seria Doom (Imagem: Reprodução/id Software)

A genialidade de Wolfenstein 3D estava tanto em sua programação quanto em sua acessibilidade. A engine criada por John Carmack conseguia renderizar corredores 3D com uma velocidade impressionante para os PCs da época, criando uma ilusão de profundidade através da técnica de raycasting. O protagonista B.J. Blazkowicz movimentava-se com uma fluidez que criava uma sensação de presença sem precedentes, enquanto enfrentava soldados nazistas e cães de guarda nos corredores do castelo Wolfenstein. A interface minimalista mantinha o jogador imerso, com apenas o rosto do protagonista, pontuação, vidas e munição visíveis na parte inferior da tela.

A violência explícita (para os padrões da época) e o tema adulto abordando o nazismo levaram Wolfenstein 3D a ser alvo de controvérsias, sendo inclusive banido na Alemanha. No entanto, essa abordagem mais madura ajudou a expandir o público dos jogos para usuários mais velhos, sinalizando a tendência da indústria em direção a conteúdos menos infantilizados. O modelo de distribuição shareware, permitindo que o primeiro episódio fosse compartilhado livremente, foi uma estratégia de marketing revolucionária que garantiu ampla circulação do jogo em uma era pré-internet.

O sucesso foi tão grande que em menos de um ano a id Software lançaria DOOM, aprimorando a fórmula e catapultando o gênero FPS ao estrelato, mas foi Wolfenstein 3D que abriu o caminho, estabelecendo a base técnica e conceitual para uma dos gêneros mais populares e lucrativos da indústria gamer.

2. Mortal Kombat

Quando Mortal Kombat chegou aos arcades em outubro de 1992, o gênero de jogos de luta já tinha seu rei coroado com Street Fighter II. O que ninguém esperava era que o título da Midway não apenas desafiaria essa supremacia, mas também provocaria um dos maiores debates sobre violência nos videogames, culminando na criação do sistema de classificação etária que utilizamos até hoje. Criado por Ed Boon e John Tobias, o jogo trouxe uma abordagem totalmente nova para os games de luta, combinando técnicas cinematográficas com gameplay brutal.

Mortal Kombat chocou o mundo com personagens ultrarealistas e violência extrema (Imagem: Reprodução/Midway)

O uso de atores reais digitalizados para os personagens criou uma sensação de realismo inédita para a época. Enquanto outros jogos apostavam na estética cartunesca, Mortal Kombat trazia golpes e socos que pareciam dolorosamente reais, complementados pelos inconfundíveis “Fatalities”. O sangue digitalizado em vermelho-vivo e sons viscerais completavam o pacote de violência que chocou pais e educadores, mas encantou uma geração inteira de jogadores.

Além da controvérsia, Mortal Kombat trouxe inovações significativas para o gênero. O sistema de bloqueio em botão dedicado (em contraste com o “segurar para trás” de Street Fighter), os golpes únicos para cada personagem e a mitologia elaborada em torno do torneio Mortal Kombat criaram um universo rico que sustentaria dezenas de sequências, filmes, séries e produtos pelos 30 anos seguintes. Quando as versões caseiras foram lançadas em 1993, a Nintendo optou por censurar o sangue no Super Nintendo, enquanto a Sega manteve a violência intacta com um código secreto no Mega Drive – uma decisão que influenciou significativamente as vendas em favor da Casa do Sonic e demonstrou a importância que a controvérsia tinha no marketing do jogo.

O legado mais duradouro de Mortal Kombat, no entanto, foi forçar a indústria a criar o sistema ESRB de classificação etária nos EUA, mudando para sempre a forma como os jogos são comercializados e regulados.

1. Super Mario Kart

Em 1992, a Nintendo já havia demonstrado sua maestria em praticamente todos os gêneros de jogos com Mario, exceto corridas. Isso mudou completamente com o lançamento de Super Mario Kart para o Super Nintendo, que criou um subgênero – o kart racer – totalmente novo e também deu largada para uma das franquias mais duradouras e bem-sucedidas da história dos games. O conceito era simples, mas brilhante: pegar personagens conhecidos do universo Mario e colocá-los em karts miniatura competindo em pistas coloridas e cheias de surpresas.

Super Mario Kart deu início a todo um novo gênero de jogo e foi o primeiro título de uma franquia longeva, que está aí até hoje (Imagem: Reprodução/Nintendo)

A genialidade técnica de Super Mario Kart residia no uso extensivo do Mode 7, que permitia a rotação e escalonamento de planos bidimensionais, criando a ilusão de uma pista 3D. Essa solução, bolada por Shigeru Miyamoto e sua equipe, oferecia uma sensação de profundidade inigualáveis para um console de 16 bits até etnão. As oito pistas distribuídas em quatro copas apresentavam temas distintos baseados em localidades do universo Mario, cada uma com seus próprios desafios e atalhos secretos que recompensavam a exploração e a maestria.

O que realmente revolucionou o gênero de corrida foi a implementação de itens e power-ups coletáveis, introduzindo um elemento de imprevisibilidade e chance que nivelava o campo de jogo. Com um casco de tartaruga verde bem arremessado ou um cogumelo na hora certa, até o jogador menos habilidoso tinha chance contra oponentes mais experientes. O battle mode, onde jogadores tentavam estourar os balões dos adversários em arenas especiais, foi uma adição brilhante que expandiu significativamente a vida útil do jogo, tornando-o perfeito para sessões multijogador.

Super Mario Kart vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo e cimentou um formato que seria copiado incessantemente por outras empresas nos anos seguintes, com títulos como Crash Team Racing, Diddy Kong Racing e Sonic & All-Stars Racing. A fórmula Mario Kart provou-se tão atemporal que cada console Nintendo desde então recebeu sua própria versão da série, culminando com Mario Kart World, título de lançamento do Switch 2.

Menções honrosas

O ano de 1992 foi tão rico em lançamentos memoráveis que muitos títulos extraordinários ficaram de fora do top 10, mas merecem reconhecimento. Final Fantasy V, por exemplo, refinou o já excelente sistema de classes da série com o revolucionário “Job System”, permitindo uma customização de personagens sem igual. Apesar de não ter sido lançado oficialmente no ocidente até muito depois, ele impactou significativamente o gênero de JRPGs, influenciando diretamente títulos como Bravely Default e Final Fantasy Tactics.

Na categoria de jogos que permaneceram confinados ao Japão por muitos anos, Castlevania: Rondo of Blood para o PC Engine CD (TurboGrafx-CD no ocidente) destacou-se como uma obra-prima audiovisual. Utilizando o formato CD-ROM, o jogo apresentava animações cinematográficas, uma trilha sonora orquestrada e um level design meticuloso que muitos fãs consideram o ápice da era “classicvania”. Sua influência é tão significativa que elementos de Rondo of Blood foram incorporados em praticamente todos os jogos subsequentes da série.

Rondo of Blood foi tão bem-sucedido em suas implementações que seus elementos serviram para todos os jogos de Castlevania dali em diante (Imagem: Reprodução/Konami)

Da parceria Disney com a Sega surgiu World of Illusion Starring Mickey Mouse and Donald Duck, um deslumbrante jogo de plataforma para o Mega Drive focado em cooperação entre dois jogadores. Com visual que parecia saído diretamente de um desenho animado, o título oferecia rotas alternativas dependendo dos personagens escolhidos, uma inovação rara para a época. Já na categoria de jogos controversos, Night Trap para o Sega CD destacou-se pelo uso de vídeo full motion com atores reais em uma história de terror adolescente. Embora sua jogabilidade seja questionável pelos padrões atuais, seu papel nas audiências do congresso estadunidense sobre violência nos videogames, ao lado de Mortal Kombat, foi decisivo para a criação do sistema de classificação etária ESRB.

No mundo dos arcades, Lethal Enforcers da Konami revolucionou os jogos de tiro com pistola ao utilizar digitalização de cenários e personagens fotográficos, criando uma experiência policial que parecia saída diretamente de um filme de ação dos anos 1980. No Mega Drive, Kid Chameleon oferecia um desafio brutal com mais de 100 níveis e a capacidade do protagonista de se transformar em diferentes personagens, cada um com habilidades únicas.

Junto com Mortal Kombat e Night Trap, Lethal Enforcers escandalizou com gráficos realistas e violência em seu gameplay (Imagem: Reprodução/Konami)

1992 moldou a indústria gamer

Quando olhamos em retrospectiva, 1992 foi um dos anos mais influentes e transformadores na história dos videogames. Foi um período de transição e experimentação onde os limites técnicos eram constantemente desafiados e novos gêneros emergiam, moldando o caminho que a indústria seguiria por décadas.

Os títulos lançados naquele ano definiram suas respectivas séries e estabeleceram convenções inteiras de design que permanecem relevantes até hoje. Wolfenstein 3D pavimentou o caminho para toda a indústria de jogos de tiro em primeira pessoa; Super Mario Kart criou um subgênero completamente novo; Mortal Kombat desafiou as convenções sobre o que era aceitável em termos de conteúdo e foi catalisador para a criação de sistemas de classificação etária. Cada um desses jogos representou um passo significativo na evolução da mídia.

Olhar para 1992 também nos permite apreciar como a indústria era diversificada em termos de plataformas e experiências. Do horror psicológico de Alone in the Dark à colorida diversão de Sonic 2, dos combates sangrentos de Mortal Kombat à aventura familiar de World of Illusion, havia jogos para todos os gostos e idades. Esta era a riqueza de um período onde as possibilidades pareciam infinitas e os desenvolvedores podiam arriscar em ideias inovadoras.

10 jogos que definiram 1992

  1. Super Mario Kart: revolucionou os jogos de corrida com sua mistura de competição, itens e personagens carismáticos, criando um subgênero inteiramente novo
  2. Mortal Kombat: mudou para sempre a percepção pública sobre violência nos videogames, levando à criação de sistemas de classificação etária e inaugurando uma das franquias de luta mais icônicas de todos os tempos
  3. Wolfenstein 3D: estabeleceu as bases para todos os jogos de tiro em primeira pessoa modernos, trazendo velocidade e imersão inéditas para os PCs
  4. Alone in the Dark: Inventou o gênero survival horror ao combinar elementos de aventura, quebra-cabeças e terror atmosférico com perspectiva cinematográfica
  5. Sonic the Hedgehog 2: Aprimorou a fórmula de seu antecessor com novos movimentos, personagens e fases memoráveis, representando o auge da era clássica do ouriço azul
  6. Contra III The Alien Wars: elevou o gênero de ação e plataforma a novos patamares com sequências de ação espetaculares e modo cooperativo impecável
  7. Dragon Quest V: inovou ao contar uma história emocionalmente impactante, além de introduzir o sistema de recrutamento de monstros que influenciaria jogos como Pokémon
  8. Super Mario Land 2: expandiu dramaticamente o que era possível fazer no Game Boy e introduziu Wario, um dos personagens mais marcantes da Nintendo
  9. Virtua Racing: revolucionou os jogos de corrida com seus gráficos poligonais 3D, definindo as bases técnicas para a evolução dos gráficos em jogos
  10. Top Gear: embora não tenha alcançado fama mundial, tornou-se um fenômeno cultural no Brasil com sua jogabilidade acessível e trilha sonora inesquecível

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