Traficantes são investigados por mortes e desaparecimentos de moradores e comerciantes no Quitungo, na Zona Norte do Rio


Ao menos quatro casos são investigados: um dos mortos vendeu água a um policial, outro não quis comprar produtos que o tráfico roubou para vender. Há 4 anos, CV tomou a comunidade. A comunidade do Quitungo, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio, vêm sofrendo com a morte e o desaparecimento de moradores e comerciantes por motivos banais, como vender água mineral a um policial ou não comprar bebida com o tráfico.
Ao menos quatro crimes semelhantes são investigados na localidade que, há cerca de quatro anos, passou a ser dominada pelo Comando Vermelho.
Comerciantes desaparecidos
Carlos Eduardo, desaparecido no Quitungo
Reprodução
Uma das vítimas é Carlos Eduardo do Nascimento, nascido e criado no Quitungo. Ele vendia churrasquinho com um sócio, Wallace Anacleto, também desaparecido.
“Essa barraquinha estava funcionando na época e desagradou os traficantes da localidade. Ele foi cientificado por traficantes de que deveria entregar a chave do quiosque e ir embora. Nessa mesma noite, Carlos Eduardo ficou sabendo que seu amigo Wallace foi executado por traficantes dessa localidade, teve todos os seus bens subtraídos no interior do seu apartamento e seu cachorro foi atirado do quarto andar do apartamento onde o Wallace morava”, relatou ao RJ2 a delegada Elen Souto.
O corpo de Wallace não foi encontrado, e a polícia investiga os responsáveis pela morte.
Com o desaparecimento do sócio, Carlos Eduardo abriu outro negócio no Quitungo, um bar, e foi avisado de que era vigiado por traficantes.
Comunidade do Quitungo, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio
Reprodução
“Esse bar também passou a incomodar o tráfico, uma vez que o casal se negava a comprar bebidas do tráfico, bebidas objeto de carga roubada, bebidas roubadas que entravam na comunidade, e o tráfico vende aos comerciantes por um preço abaixo do mercado”, explicou a delegada.
Carlos Eduardo acabou morto pelo crime organizado depois de vender água a um policial durante uma operação, em dezembro de 2024.
“No dia seguinte, Jaqueline soube que seu apartamento foi invadido pelos traficantes, todos os seus móveis foram subtraídos e seu apartamento foi alugado pelo traficante Belão”, contou Elen Souto.
Sem corpo para enterrar, a família Nascimento fez as homenagens em vídeos postados nas redes sociais.
“Um pedreiro que formou vários pedreiros, comerciantes, pai de família. Que teve a vida ceifada por essa violência que assola o Rio de Janeiro”, disse o irmão de Carlos Eduardo.
Quatro indiciados
Na semana passada, com base nas investigações da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, o Ministério Público indiciou quatro traficantes pela morte de Carlos Eduardo:
Thiago do Nascimento Mendes, o Belão;
Carlos Augusto Mateus Oliveira, o Caveirinha;
Vitor da Conceição Campos, o Cantor;
e Gabriel da Silva Fabiano, o Bradock.
Dono de quitinetes desaparecido
Além de Carlos Eduardo e seu sócio Wallace, a delegacia investiga o desaparecimento de outros dois moradores no Morro do Quitungo.
Uma das vítimas era o dono de quitinetes no local. As investigações mostram que traficantes se apossaram dos imóveis, e que a administração desses bens passou a ser feita pelo comando da cúpula do CV, no Complexo da Penha.
O relatório policial sobre o desaparecimento de Luiz Fernando Veríssimo, em maio de 2023, mostra que uma testemunha foi direcionada a conversar com o traficante Gardenal, braço direito de Doca.
Após horas de espera, o tráfico informou que a família poderia pegar de volta apenas o apartamento de Luiz, mas as quitinetes não poderiam ser recuperadas.
Luiz Fernando Veríssimo, desaparecido no Quitungo
Reprodução
Doca é Edgard Alves de Andrade, um dos responsáveis pelo Comando Vermelho no Rio.
“A comunidade do Quitungo era dominada por milícia e, a partir do domínio do território pelo Comando Vermelho, pelo tráfico, famílias estão sendo expulsas da comunidade e perdendo seus móveis e imóveis para esses traficantes”, explicou Elen Souto.
‘Minha família está destroçada’
“A minha família está destroçada, minha irmã à base de remédio. Os filhos, as crianças, perguntando. O que eu queria não é vingança, é justiça, que fosse resolvido, sabe? Que achassem quem fez, quem foi, que resolvesse e vamos cuidar das nossas crianças, porque… o que esperar?”, desabafou um familiar de Carlos Eduardo.
“Ele está vivo, ele vive no coração de cada um de nós”, disse outro familiar.
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