Afinal, o que está acontecendo com a Casas Bahia (BHIA3)?

A Casas Bahia (BHIA3), que atuava sem grandes holofotes em seu plano de transformação e melhoria nos resultados, viu esse cenário mudar com uma série de acontecimentos que culminaram em uma disparada que chegou perto de 300% no acumulado deste ano.

A pernada se deu na virada do mês de março e, o que começou como um volume atípico de negociações, se mostrou o movimento de dois investidores: Rafael Ferri, da GTF Capital, e Michael Klein, filho do fundador da empresa, Samuel Klein.

O Grupo chegou a informar ao mercado que Ferri atingiu posição superior a 5%, enquanto a participação de Klein expandiu para mais de 10%.

  • E MAIS: O que há de mais importante no mercado financeiro hoje? O programa Giro do Mercado mostra as principais notícias para o seu bolso todos os dias, às 12h

Rafael Ragazzi, analista da Nord Investimentos, atribui a forte alta justamente aos aumentos relevantes dos dois investidores, tendo em vista que a liquidez reduzida da Casas Bahia, somada a um baixo valor de mercado, acabou resultando em uma alta tão expressiva.

“Vale ressaltar que era um papel que estava com um aluguel alto e também teve uma valorização impulsionada por um movimento short squeeze, que é quando os vendidos correm para zerar suas posições, seja por conta de ter batido o limite de volatilidade ou para tentar estancar as perdas”, coloca.

No caso de Klein, vale destacar que o investidor jogou ainda mais atenção sobre a empresa ao solicitar uma assembleia geral extraordinária para destituir o conselho de administração e ocupar ele mesmo o posto de presidente.

No entanto, em um vai e volta, a Casas Bahia informou nesta semana que Klein recuou no movimento de retornar ao alto escalão da companhia.

Vai e volta: como fica a estratégia da varejista?

A carta enviada por Klein ao Grupo diz que o cancelamento dá um voto de confiança, por mais um período, aos esforços da administração, em especial da diretoria, que visam progredir a situação financeira da companhia.

O analista Rafael Ragazzi afirma que não se sabia qual era a pretensão de Michael, mas destaca o reconhecimento do investidor sobre os esforços da diretoria atual, principalmente em relação à equalização financeira do negócio. Para o analista, uma eventual ida do investidor para a liderança do conselho não indicava uma destituição da diretoria da companhia.

O plano de transformação da companhia tem nomes e sobrenomes: Renato Fanklin, CEO do grupo, ao lado de Elcio Ito, diretor financeiro, iniciaram a estratégia no ano de 2023, quando assumiram seus respectivos cargos.  A primeira fase era uma “limpa” nas categorias da varejista, visando focar no que classificaram como “categorias-chave”.

Assim, o Grupo Casas Bahia voltou seu foco para as lojas físicas, apesar de utilizar também a presença online na estratégia do negócio.

Fontes a par do assunto, ouvidas pelo Money Times, disseram que a convocação iria acontecer e que não havia preocupação da diretoria da companhia acerca de mudanças na atual estratégia e governança.

Ainda segundo as fontes, não havia resistência sobre o retorno de Klein para o alto escalão e nem uma preocupação de mudanças bruscas. Mais informações sobre a desistência do investidor não foram divulgadas ao mercado.

Em relação à estratégia da varejista, pessoas a par do assunto garantem que o foco da diretoria permanece nesse plano e a companhia está confiante na execução operacional.

O plano de transformação, inclusive, será estendido até o final deste ano, superando os dois anos — que serão completados em junho — inicialmente projetados. A razão, segundo apurou o Money Times, é o atual cenário macroeconômico, que demanda mais iniciativas dada a um esperado aumento de despesas por conta dos juros elevados.

Finanças da Casas Bahia

No quarto trimestre de 2024, último balanço divulgado ao mercado, o prejuízo líquido reportado pela varejista atingiu R$ 452 milhões, uma melhora de 54,8% em relação ao prejuízo de R$ 1 bilhão apurado no mesmo período de 2023.

A cifra representa uma melhora de 54,8% em relação ao prejuízo de R$ 1 bilhão apurado no mesmo período de 2023.

Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, que mensura o potencial de geração de caixa operacional, chegou a R$ 640 milhões no 4T24, uma melhora de 300% em relação ao mesmo trimestre de 2023. A margem Ebitda ajustada ficou em 8%, um avanço de 5,8 pontos percentuais na comparação anual.

O analista da Nord pontua que esse relatório de resultados permite uma visualização da melhora operacional na companhia.

“Isso é de fato uma melhora operacional muito grande, não necessariamente a receita está crescendo tanto, mas a rentabilidade da operação da companhia realmente já está em expressiva evolução”.

Apesar do prejuízo ter vindo acima das estimativas do mercado, a redução na base anual também é avaliada positivamente.

O que esperar de Casas Bahia?

Rafael Ragazzi destaca que, para os próximos trimestres, a Casas Bahia busca crescimento das vendas com base na expansão da carteira de crédito, além de manter a tendência de recuperação nas margens. Contudo, ajustes no marketing e mix da empresa podem continuar impactando a receita no curto prazo.

“Sabemos que o cenário é desafiador, o Banco Central subindo cada vez mais os juros, isso impacta tanto a capacidade da empresa de crescer receita, quanto aumenta a pressão da sua alavancagem no seu resultado, porque o juro sobe mais e o resultado financeiro fica ainda mais negativo, apesar de que eles estão trabalhando para tentar reduzir o custo da dívida e o tamanho da dívida em si”, avalia.

O analista afirma que é visível uma evolução, mas o endividamento ainda é uma preocupação muito grande, principalmente nesse cenário de juros em alto. Por isso, a Nord recomenda cautela em relação às ações da empresa.

O BB Investimentos, em relatório pós-balanço, manteve sua recomendação de venda, apesar de também reconhecer melhorias importantes em itens como receita e margens.

“O peso do resultado financeiro na última linha ainda preocupa, especialmente se persistir nos próximos trimestres. Neste contexto, entendemos que o momento ainda exige cautela e, para que nossas premissas sejam revistas, as melhorias devem ser consistentes e refletir em lucro para companhia”, escreve a analista Andréa Aznar.

Segundo as fontes consultadas pelo Money Times, a companhia irá prorrogar seu plano de transformação, se assim for necessário, mas a expectativa é de uma estabilização no balanço até o final de 2025.

O desempenho acumulado do ano da Casas Bahia arrefeceu, tendo registrado pico no final de março. Até está sexta-feira (11), o avanço no ano supera 150%.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.