Opinião: “o que diria Milton Friedman do tarifaço de Trump?”

Um vídeo gravado pelo economista Milton Friedman em 1980 para o documentário “Free to Choose” é grande sucesso nas redes sociais há alguns anos. Mas essa postagem ganhou sobrevida após o tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump a vários países. Friedman baseou seu roteiro em um artigo escrito em 1958 por seu mentor, Leonard Read, que criou a Foundation for Economic Education (FEE). O texto, intitulado “Eu, pincel” mostra a cadeia de fornecedores necessária para a fabricação de um reles instrumento de escrita.

O papa do liberalismo econômico diz o seguinte no vídeo:

– A madeira com a qual ele [o lápis] é feito, pelo que sei, vem de uma árvore que foi cortada no estado de Washington. Para cortar aquela árvore, foi necessária uma serra. Para fazer a serra, foi necessário aço. Para fazer aço, foi necessário minério de ferro. Este centro preto — chamamos de chumbo, mas na verdade é grafite, grafite comprimido — não tenho certeza de onde vem, mas acho que vem de algumas minas na América do Sul. Esta tampa vermelha aqui, esta borracha, um pouco de borracha, provavelmente vem da Malásia, onde a seringueira nem é nativa! Foi importada da América do Sul por alguns empresários com a ajuda do governo britânico. Esta ponteira de latão? Não tenho a menor ideia de onde veio. Ou a tinta amarela! Ou a tinta que fez as linhas pretas. Ou a cola que a mantém unida. Literalmente, milhares de pessoas cooperaram para fazer este lápis.

Se Friedman fosse vivo nos dias de hoje, provavelmente não utilizaria um lápis como exemplo da globalização e sim um smartphone. Vejamos o caso do Iphone. Dados fornecidos pela Apple mostram que 33% dos componentes deste celular são produzidos na China. Outros fornecedores importantes são Taiwan (10%), Japão (8,9%), Vietnã (7,4%) e Coreia do Sul (7%). Os Estados Unidos? São responsáveis por apenas 5% das peças.

Mas a coisa é mais complicada. Mesmo um componente em si não tem toda a sua cadeia de produção concentrada em um só país. Tomemos como exemplo as câmeras do iPhone. Estes sensores, produzidos pela Sony, são fabricados a partir de peças que são produzidas em cinco países: Japão, Taiwan, Tailândia, Coreia do Sul e Malásia.

E o que diria Friedman sobre a sobretaxação generalizada imposta pelos americanos? Talvez uma pista esteja em um comentário gravado no mesmo vídeo em que ele fala do artigo de Leonard Read que versa sobre a cooperação de vários países em torno da produção de um simples lápis:

– Não conheço nenhuma outra obra literária que ilustre de forma tão sucinta, persuasiva e eficaz o significado da mão invisível de Adam Smith — a possibilidade de cooperação sem coerção — e a ênfase de Friedrich Hayak na importância do conhecimento disperso e no papel do sistema de preços na comunicação de informações que ‘farão com que os indivíduos façam as coisas desejáveis ​​sem que ninguém tenha que lhes dizer o que fazer”.

Neste caso específico, Donald Trump está dizendo aos demais países – direta ou indiretamente – o que devem fazer, passando por cima das regras de livre mercado. Isso contradiz totalmente as ideias propagadas há séculos por Adam Smith ou há décadas por Friedrich Hayak.

Conseguirá Trump reescrever a história econômica?

Assista o vídeo:

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