Dólar volta a cair e fecha a R$ 5,86 com guerra tarifária e risco fiscal

O dólar perdeu força com a crescente aversão a risco com os investidores monitorando a escalada da guerra tarifária iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Tump, no início do mês e cautela com o cenário fiscal brasileiro.

Nesta quarta-feira (16), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,8650, com queda de de 0,42% ante o real. 

O movimento acompanhou a tendência vista no exterior. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais como euro e libra, caía 0,84%, aos 99,377 pontos.

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O que mexeu com o dólar hoje?

O dólar, assim como na véspera (15), iniciou a sessão em alta em relação ao real. Nas primeiras horas da sessão, os investidores concentraram as atenções na repercussão do Orçamento de 2026 apresentado ontem pelo governo, que elevou o risco fiscal.

O projeto prevê uma meta de superávit primário de 0,25% do PIB, com uma faixa de tolerância que vai de zero até 0,50% do PIB, o que corresponde a R$ 68,5 bilhões. Na prática, o governo estima um superávit de R$ 38,2 bilhões em 2026, dos quais R$ 34,3 bilhões estariam dentro da meta.

“A percepção é de que as propostas de aumento de arrecadação podem estar sobrestimadas e sejam insuficientes para cobrir as despesas do governo médio prazo”, disse Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Na avaliação de Mateus Spiess, analista da Empiricus Research, o número apresentado só é viável porque parte de um artifício contábil: o desconto de R$ 55,1 bilhões em despesas que não entram no cálculo da meta, notadamente os precatórios. Sem esse artifício, o quadro seria de um déficit de R$ 16,9 bilhões. “O governo até ensaia uma tentativa de prorrogar o ‘jeitinho’, mas qualquer extensão nesse sentido seria mais uma pedalada disfarçada de tecnicalidade.”

Contudo, o exterior voltou a dominar o mercado de câmbio. As incertezas sobre a guerra comercial, com uma escalada das tensões entre os Estados Unidos e a China permaneceram no radar.

“Há receios de que o presidente Trump utilize as novas rodadas de negociações comerciais como estratégia para tentar isolar a economia chinesa dos mercados internacionais”, avaliou Shahini, da Nomad.

Hoje (16), a Casa Branca voltou a “corrigi5” a alíquota tarifária sobre os produtos chineses. Agora, as taxas somam 245%. Além disso, anunciou mudanças na política de exportação de semicondutores dos EUA para a China.

No início da tarde, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que “mudanças políticas significativas” do governo de Donald Trump devem afastar o Banco Central norte-americano de suas metas. Isso porque, segundo o chefão do BC dos EUA, as tarifas de importação deve gerar inflação mais alta e crescimento mais lento. Para ele, os efeitos da política tarifária permanecem “altamente incertos” e é esperado que a volatilidade nos mercados permaneça por algum tempo.

“Acredito que o Federal Reserve está conduzindo a discussão em torno de uma questão central: o choque inflacionário atual é temporário ou permanente? Eles reconhecem que haverá um aumento da inflação em razão das tarifas, mas buscam afastar a percepção — presente em parte do mercado — de que qualquer alta no CPI (índice de preços ao consumidor) seja, por si só, um sinal negativo que exija uma mudança imediata na política monetária”, disse Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

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