Em 12 anos, Papa Francisco visitou mais de 70 países e chamou a atenção para crises globais


A primeira vez foi para o Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude. Francisco foi a mais de 75 países de cinco continentes em 12 anos
Jornal Nacional
Milhões de fiéis do mundo todo tiveram a oportunidade de ver e ouvir o Papa Francisco em pessoa, sem precisarem ir ao Vaticano.
A escolha dos destinos nunca foi despretensiosa. Viagens papais são uma ferramenta poderosa de diplomacia e fortalecimento do alcance da Igreja Católica.
O Papa Francisco gostava de mandar recados e chamar a atenção do mundo para crises e conflitos. E, por onde passou, atraiu multidões.
Francisco foi a mais de 75 países de cinco continentes em 12 anos. Foram 47 viagens internacionais.
A primeira vez foi para o Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude. Francisco mostrou por que ficou conhecido como o Papa da simplicidade.
A ida à Terra Santa, no segundo ano, revelou o talento diplomático que marcaria seu pontificado. Francisco visitou locais sagrados para muçulmanos, cristãos e judeus, e pediu que todas as religiões buscassem a paz. Começava aí o legado de defensor da tolerância religiosa.
Ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do então presidente Shimon Peres, Francisco pediu que a solução de dois estados – um israelense e um palestino – não permanecesse um sonho.
E chamou Shimon Peres e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para visitarem juntos o Vaticano.
O encontro histórico foi no mês seguinte, ao lado do Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, que lidera parte dos cristãos ortodoxos.
No Sri Lanka, o líder da Igreja Católica participou de um grande encontro com budistas, muçulmanos e hindus.
E nas Filipinas, Francisco bateu um recorde histórico de público num evento papal. Foram mais de seis milhões de pessoas.
Francisco foi um dos articuladores da retomada das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, congeladas desde a década de 1970. Depois da conquista, ele visitou os dois países, em 2015.
Em Cuba, se reuniu com os irmãos Fidel e Raul Castro.
Saindo de Cuba, o Papa foi para os Estados Unidos e esteve no memorial para as vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Discursou também na sede da ONU, em Manhattan. Já na capital Washington, fez história mais uma vez.
Depois de visitar o presidente Barack Obama, se tornou o primeiro Papa a falar no Congresso americano. Entre os temas, defendeu o respeito aos imigrantes. Uma multidão acompanhou em telões, e ele foi aplaudido de pé.
A primeira visita à África veio no terceiro ano de pontificado, com o objetivo de mostrar ao mundo a pobreza e as necessidades do povo africano. Francisco passou pelo Quênia e por Uganda.
E nem a guerra civil entre milícias cristãs e muçulmanas o impediu de ir à República Centro-Africana. Nunca antes um Papa tinha ido a uma zona de guerra na era moderna.
Francisco também se tornou o primeiro líder da Igreja Católica a se reunir com o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa desde a separação dos dois ramos do cristianismo, quase mil anos antes.
Na ilha grega de Lesbos, o Papa ofereceu asilo a três famílias de refugiados que voltaram no avião com ele para o Vaticano.
A caminhada em silêncio absoluto pelo campo de concentração de Auschwitz está entre os momentos marcantes. É o local de extermínio de mais de um milhão de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
E na passagem por Mianmar e Bangladesh, o Papa defendeu a minoria muçulmana rohingya, perseguida por nacionalistas budistas.
Polêmicas marcaram algumas viagens. No Chile, em 2018, manifestantes foram às ruas contra a impunidade de padres pedófilos.
O Papa pediu perdão pelos crimes que abalaram a Igreja do Chile. Falou que sentia dor e vergonha pelo dano irreparável causado a crianças.
No Peru, se reuniu com povos da Amazônia e fez uma defesa enfática do meio ambiente e dos direitos dos indígenas. Foi a sexta viagem à América Latina.
Mas Francisco nunca voltou à terra natal, Argentina, depois de eleito.
Nos Emirados Árabes Unidos, se tornou o primeiro chefe da Igreja Católica a pisar na Península Arábica, o berço da religião islâmica. Primeira vez também no Iraque.
Francisco conheceu a cidade de Ur, venerada como o local de nascimento de Abraão: pai do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.
Na cidade sagrada de Najaf, se encontrou com a maior autoridade islâmica xiita do Iraque: o aiatolá Al-Sistani. A imagem dos dois líderes religiosos condenando o extremismo rodou o mundo.
O que marcou a viagem ao Canadá foi o pedido de desculpas pelos abusos da Igreja contra os indígenas.
No ano seguinte, o Papa voltou a zonas de conflito: na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul.
A preocupação com a saúde marcou a viagem mais longa do pontificado, em setembro do ano passado.
Em uma jornada histórica, Francisco percorreu quatro países de dois continentes em 12 dias: Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.
A visita de um Papa à ilha de Córsega, na França, em dezembro, também foi inédita. A última da lista longa de heranças simbólicas de um Papa que sabia o poder de sua presença.
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