Estratégia em tempos de excesso: por que líderes precisam de foco, não de mais tendências

Em uma manhã qualquer de 2025, um comitê executivo se reúne para revisar seu planejamento estratégico. Na pauta: inteligência artificial, metaverso, novas gerações, ESG 4.0, economia regenerativa, mudanças climáticas e o futuro do trabalho. Cada item chega com dados recentes, tendências de comportamento e alertas do tipo: “se não fizermos isso agora, vamos ficar para trás”.

O ritmo da reunião é frenético. As decisões, imediatas. O desconforto é silencioso: muita reação, pouca direção.

Essa cena recorrente revela um dilema da alta liderança contemporânea: excesso de tendências, escassez de estratégia.

Amy Webb foi direta em sua palestra no SXSW 2025: “A grande ameaça às empresas não são as tendências emergentes, mas a falta de preparo para fazer sentido delas”. Ou seja: não basta enxergar o novo — é preciso saber o que realmente importa. E isso exige mais do que agilidade. Exige estratégia.

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Confundir tendência com estratégia é comum. Mas é um erro. Tendência é fluxo; estratégia é escolha. Enquanto tendências mostram o que se move, a estratégia define para onde ir — e, sobretudo, o que deixar de lado. No entanto, em tempos de pressão por resultados imediatos, essa distinção se perde. Lideranças acabam decidindo com base no ruído do agora.

Daniel Kahneman, Nobel de Economia, ajuda a entender essa dinâmica com sua teoria dos dois sistemas de pensamento. O Sistema 1 é rápido, intuitivo e emocional — útil para decisões do dia a dia. Já o Sistema 2 é analítico, ponderado e essencial para decisões estruturantes. O problema? Muitas empresas usam o Sistema 1 para desafios que exigem o Sistema 2. O resultado: decisões apressadas, desalinhadas e, no longo prazo, disfuncionais.

Neste cenário, a palavra-chave deveria ser resiliência — não no sentido de resistência, mas como capacidade de imaginar, antecipar e reorganizar diante do impensável. Resiliência como plasticidade cognitiva e clareza de propósito. E é aí que entra o foresight, ou inteligência antecipativa.

O foresight não prevê o futuro. Ele prepara a organização para múltiplos futuros possíveis. Ajuda a identificar sinais fracos, mapear padrões emergentes e conectar dados dispersos. Em um mundo incerto, foresight é mais que luxo analítico — é necessidade estratégica.

Por isso, líderes começam a redescobrir o valor da deliberação e do foco. O professor Vikas Mittal, em seu livro Focus, mostra que muitos planos estratégicos fracassam por serem construídos de dentro para fora, baseados em orçamentos, cargos e zonas de conforto. O caminho mais promissor? Um modelo de trabalho de fora para dentro, guiado pelo que realmente gera valor para o cliente, hoje e no futuro.

Esse foco é o que falta quando nos deixamos levar pelas tendências. O Marketing Trends Highlights 2025, da Brivia, traz um paradoxo: nunca tivemos tanta informação sobre o futuro — e nunca estivemos tão desorientados sobre o que fazer com ela.

Nesse esforço por leitura estruturada do contexto, ferramentas como o Digital Maturity Score ganham relevância. Esse índice de maturidade digital mostra o quanto uma organização está pronta para operar e inovar em ambientes digitais. Ao mapear lacunas reais — de cultura, processos, capacidades e tecnologia — ajuda a orientar decisões com base em diagnóstico, não em modismo.

A disrupção mais urgente talvez não seja tecnológica, mas estratégica. Manter coerência em um mundo caótico é, paradoxalmente, um ato radical — que exige disciplina, clareza e coragem para não estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

O papel do líder hoje não é dominar todos os temas emergentes. É ser curador de sentido, protetor da direção e designer de consistência. Criar espaços onde o pensamento estratégico possa florescer, onde sinais sejam interpretados e futuros construídos — em vez de apenas reagir ao presente.

Em tempos de ruído, consistência virou diferencial. Em tempos de excesso, o foco virou virtude. E em tempos de disrupção, a imaginação estratégica é o que separa quem sobrevive de quem lidera a transformação.

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