Volume de fusões e aquisições é o maior desde 2021, mas número de operações cai

As empresas brasileiras devem continuar a aumentar o volume de fusões e aquisições neste ano para reduzir alavancagem e também para captar recursos para comprar outras empresas, em meio ao aumento das taxas de juros.

“Haverá muita reciclagem de ativos — empresas vendendo ativos não essenciais para comprar ativos essenciais — e também transações para reduzir a alavancagem”, disse André Moor, responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI. Mesmo com a expectativa de desaceleração do crescimento global, as condições no Brasil ainda podem ser favoráveis ​​à concretização de negócios, segundo ele.

Aumento das fusões e aquisições

As fusões e aquisições anunciadas envolvendo empresas brasileiras saltaram 29%, para um total de US$ 16,8 bilhões neste ano até 24 de abril, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a empresa de pesquisa Dealogic, sediada em Londres.

Esse é o maior volume desde 2021, mas ele se deveu em grande parte ao tamanho das transações. O número de operações de M&A caiu 29%, para 190, mostram os dados.

Isso se compara ao mercado de fusões e aquisições dos EUA, onde analistas do Goldman Sachs estão reduzindo suas previsões de crescimento.

Reciclagem de ativos

A Global Eggs, empresa de bens de consumo controlada pelo empreendedor brasileiro Ricardo Faria, está entre as que “reciclaram ativos” neste ano. Em março, a empresa anunciou a aquisição da produtora americana de ovos Hillandale Farms por US$ 1,1 bilhão.

Investidores liderados pela unidade de private equity do Banco BTG Pactual estão ajudando a financiar o negócio, adquirindo uma participação de 11% na Global Eggs. A empresa também utilizou um empréstimo de um pool de bancos liderado pelo Rabobank.

O Banco Central aumentou a taxa básica de juros de 10,5% em setembro para 14,25%, e analistas preveem que ela subirá para 15% até o fim deste ano, de acordo com o boletim Focus.

Freio de mão puxado

Os juros altos estão tornando as empresas “superconservadoras” e reduzindo seus investimentos, enquanto os CEOs continuam “preocupados com a estrutura de capital e a alavancagem”, disse Moor. Mas isso também abre oportunidades de investimento atraentes para os compradores, disse.

As fortes oscilações das bolsas de valores globais, desencadeadas pela guerra tarifária do presidente americano Donald Trump, também estão pesando sobre os negócios no Brasil, pois aumentam a incerteza econômica.

“Com a alta dos índices de volatilidade, CEOs e acionistas ficaram menos confiantes, o que levou alguns a suspenderem suas decisões”, disse Bruno Saraiva, co-responsável pelo banco de investimento no Brasil do Bank of America.

Ainda assim, Saraiva disse que o Brasil, que está relativamente isolado da crise geopolítica e tem sido menos afetado pela guerra tarifária global, poderia se beneficiar de um fluxo maior de investimentos saindo dos EUA com a desvalorização do dólar.

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Turbulências globais

O BofA está entre os bancos que lideram um dos maiores negócios do ano, anunciado em março, no qual o family office dos Moreira Salles, a BW Gestão de Investimentos, lançou uma oferta para ampliar sua fatia na empresa francesa de embalagens Verallia para ajudar um de seus principais investimentos a navegar melhor pelas tensões comerciais.

Para enfrentar a turbulência global, empresas estrangeiras também estão “reciclando” e vendendo empresas brasileiras.

Em fevereiro, a BASF anunciou a venda de sua unidade brasileira de tintas, a Suvinil, para a Sherwin-Williams por US$ 1,15 bilhão, como parte da estratégia mais ampla da empresa alemã de se concentrar em suas principais divisões química, industrial e de nutrição. O CEO da BASF, Markus Kamieth, que assumiu o cargo em abril do ano passado, está em processo de racionalização das operações da empresa para enfrentar os altos preços da energia e a queda na demanda global, especialmente na China.

“Transações de M&A estratégicas provavelmente avançarão, embora com mais cautela”, disse Hans Lin, co-responsável pelo banco de investimento no Brasil do Bank of America. “No entanto, a volatilidade continua afetando preços.”

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