Lago das Garças expõe século de poluição por metais em São Paulo

Lago das Garças, no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, com destaque para a intensa proliferação de algas na superfície e o cenário urbano ao fundo.Tatiane Araujo de Jesus/FAPESP

Um estudo publicado na revista Environmental Science and Pollution Research revelou um século de contaminação por metais na cidade de São Paulo.

O estudo analisou sedimentos coletados na Lagoa das Garças, localizada no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI).

Pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) utilizaram técnicas de paleolimnologia — método que reconstrói mudanças ambientais por meio de camadas sedimentares — para identificar a relação direta entre industrialização, expansão urbana e o acúmulo de metais como chumbo, níquel e cobre desde o início do século XX.

Como os sedimentos contam a história

A equipe coletou amostras do fundo do lago, que nunca foi dragado, preservando camadas depositadas ao longo de décadas.

Para datar os sedimentos, usaram o chumbo-210, isótopo com meia-vida de 22,3 anos.

“Cada camada é como uma página de um livro”, explicou Tatiane Araujo de Jesus, coordenadora do estudo.

Foram analisados oito metais, com resultados divididos em três períodos:

  • Até 1950: Baixa poluição, refletindo o cenário pré-industrial.
  • 1950-1975: Aumento gradual, ligado ao crescimento de indústrias no ABC Paulista e ao aeroporto de Congonhas.
  • 1975-2000: Pico de contaminação, impulsionado pela Rodovia dos Imigrantes e emissões veiculares.

Impacto de políticas ambientais

Um marco foi a queda do chumbo após 1986, quando o Proconve proibiu a gasolina com o metal. “Isso comprova que políticas públicas têm efeito mensurável”, destacou Tatiane.

Entretanto, outros metais, como cobalto e cobre, continuaram a subir nos anos 1990, possivelmente devido a mudanças em uma siderúrgica próxima.

Sedimentos como alerta para o futuro

A pesquisa reforça que metais acumulados permanecem como passivo ambiental. “Sedimentos são um arquivo do passado e devem guiar ações de recuperação”, afirmou a pesquisadora.

Ela alerta que áreas de preservação, como o PEFI, não estão imunes se a poluição do entorno não for controlada.

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