Trabalhadores da Maçã deixados no Frio: O Retrato Cruel do Fim da Safra em São Joaquim

São Joaquim – SC | Uma cena de abandono e descaso foi registrada na madrugada desta semana no Terminal Rodoviário Pedro Mattos. Dezenas de trabalhadores nordestinos, que vieram a São Joaquim para atuar na colheita da maçã, foram deixados ao relento, durante a noite e madrugada sobre o chão frio da rodoviária, enquanto esperavam por ônibus que, muitas vezes, quando quebram, podem demorar até um dia para chegar. A temperatura era baixa e todos sabem que o terminal não funciona 24h — o que agravou ainda mais a situação.

Esses trabalhadores, que sustentaram a cadeia produtiva da maçã durante toda a safra, estavam sem qualquer estrutura mínima para se proteger do frio.

Ônibus irregulares e uso indevido da rodoviária

Segundo informações oficiais, os ônibus “terceirizados” responsáveis pelo transporte desses trabalhadores não têm autorização específica para atracar nas plataformas do terminal rodoviário, o que já configura uso indevido de um espaço público. Alguns dos terceirizados que são conscientes buscam os trabalhadores nos alojamentos, mas nem todos seguem essa regra específica.

A Rodoviária Pedro Mattos também não opera em regime 24h, o que significa que durante as madrugadas ela permanece fechada. Não há plantão para as linhas que não operam dentro da plataforma do setor rodoviário. E também não há apoio dos contratantes aos trabalhadores que, por escolha de atravessadores e produtores, são largados ali horas — ou até uma dia — antes da chegada prevista para os ônibus.

A grande pergunta: por que deixá-los ali tanto tempo antes da partida?

É essa a questão central que precisa ser respondida pelas empresas contratantes e atravessadores:

Por que esses trabalhadores não permanecem nos alojamentos, com dignidade, até o momento certo de embarcar? E por que os produtores, contratantes e atravessadores não os levam para a rodoviária somente no horário previsto para o ônibus ? É ruim ficar lá com eles esperando ?

A resposta ainda não foi dada. Mas o que se sabe é que essa prática — comum em finais de safra — tem raízes na falta de organização, consciência social e respeito por parte de alguns produtores e atravessadores que, ao fim do ciclo produtivo, tratam os trabalhadores como carga a ser despachada.

Poder público busca conscientizar, mas precisa agir com firmeza

A Prefeitura de São Joaquim, por sua vez, já tem ciência do problema e trabalha na conscientização de produtores e intermediários, reforçando que os trabalhadores não devem ser deixados na rodoviária por horas ou dias, ainda mais sem previsão exata da chegada do transporte.

Porém, isso não é suficiente. É necessário ir além da orientação informal e estabelecer regras claras:

  • A criação de normas que impeçam o desembarque antecipado sem apoio estruturado;

  • A atuação mais rigorosa dos fiscais do trabalho , Ministério Público, Associação dos Produtores AMAP, ABPM e outros orgãos;

  • A Câmara de Vereadores também pode auxilair criando uma legislação mais compromissada e eficaz para evitar tal situação que se repete todos os anos;

  • E, sobretudo, a cobrança pública e moral sobre os contratantes da mão de obra rural.

Eles colheram a maçã. Merecem mais compromisso.

O que se viu em São Joaquim é reflexo de uma prática estruturalmente injusta: quem produz a riqueza é esquecido assim que ela é entregue. Enquanto a fruta chega embalada às prateleiras, quem a colheu é jogado ao chão de uma rodoviária, no frio  esperando por horas por um ônibus que não sabem o horário exato que vai chegar.

O problema seria mais fácil de resolver se essas empresas operassem dentro das especificações e normas do setor rodoviário, a prefeitura poderia até deixar um guarda noturno ou fazer um plantão para atender o descompromisso dos contratantes, mas a questão é que não se sabe como eles operam sem autorização dentro do terminal e para piorar a situação o problema é mais do que cultural.

Em outras regiões e até em partes da própria São Joaquim, produtores conscientes mantêm os trabalhadores abrigados nos alojamentos até o momento exato da partida, como manda o bom senso e o respeito humano.

É hora de transformar esse caso em um divisor de águas.
Não podemos tratar como normal o abandono daqueles que sustentaram com suor e esforço a base da economia de São Joaquim.

A sociedade joaquinense, orgulhosa de sua história, de sua hospitalidade e de seus valores, precisa se levantar contra esse tipo de cena degradante.
Dormir ao relento, em plena madrugada gelada, não é uma condição aceitável para nenhum ser humano — e muito menos para quem passou meses trabalhando para gerar a riqueza que sustenta o município.

Se São Joaquim é reconhecida como terra da maçã, que também seja reconhecida como terra de respeito e justiça para quem a colhe.

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