Proteção de Doca, destaque na facção e negócios em Cabo Frio: apontada como ‘RH do CV’ ficou 4 anos no RJ antes de ser presa


Bianca Duarte, conhecida como Ayna e Fielzinha do 41, foi presa em Cabo Frio, na Região dos Lagos do RJ, após ser filmada ostentando um fuzil durante um baile funk. Ela costumava postar fotos e vídeos sobre sua vida no crime. Bianca Duarte Franco, de 24 anos, foi presa na última sexta-feira (2).
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Uma jovem maranhense de 24 anos, com raízes no Pará, tornou-se alvo de investigações após viver cerca de quatro anos no Rio de Janeiro sob proteção de um dos maiores traficantes do Brasil. Conhecida por ostentar poder nas redes sociais, ela utilizava as plataformas para destacar sua atuação criminosa.
“Sou bandida”, dizia sem medo.
Esse é um breve resumo da vida de Bianca Duarte Franco, conhecida como Ayna e Fielzinha do 41, que foi presa na última sexta-feira (2) em Cabo Frio, na Região dos Lagos do RJ, por suspeita de integrar uma organização criminosa, além de tráfico de drogas e associação ao tráfico.
Ela foi apontada pela Polícia Civil do Pará como uma espécie de gerente de recursos humanos (RH) do Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro que também atua na Região Norte.
Ao g1, o delegado Gustavo Fossati, titular da Delegacia de Repressão a Facções Criminosas da Polícia Civil do Pará, contou mais detalhes sobre a “carreira” de Bianca no crime.
“A gente não vê muito isso acontecer no Rio, mas no Pará eles têm uma estrutura complexa, com cargos mais definidos. O Comando lá faz cadastro de todos os faccionados. É um registro, com nome, foto, quais os crimes que praticam. A ideia é saber como a facção pode utilizar esse criminoso na estrutura. A pessoa que faz esse registro tem o cargo de orientadora geral. Era o que a Bianca fazia”, explicou o delegado.
“Ela era responsável por pegar os dados, tirar fotos, ver se ele [o candidato a integrar a facção] tem algum contra de algum superior na organização criminosa. Estando tudo ok, ela fazia esse formulário”, disse Gustavo.
Bianca Duarte Franco, de 24 anos, chegou a postar fotos armadas de pistola.
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Ayna ou Fielzinha do 41, como era conhecida na facção, carregava no apelido a ligação com o crime e a “Tropa do 41”, uma referência ao traficante Leonardo Costa Araújo, o Leo 41, chefe do tráfico de drogas no Pará, morto em uma operação da polícia no RJ, em 2023.
As investigações não conseguiram definir como ela atuava quando estava no Pará. Contudo, segundo Gustavo, mesmo há quatro anos no Rio, Bianca continuava fazendo o serviço de registro dos traficantes do CV do Pará.
Na cidade, ela obedecia aos chefes do CV do Pará, que estão nas comunidades cariocas, e às lideranças do Comando Vermelho do Rio de Janeiro.
“Existe um movimento de expansão de território do CV. O Doca, dono da Penha, é que ta fazendo isso. Ele vem arregimentando faccionados de outros estados e tem muitos criminosos do Pará hoje no Rio. As lideranças e muitos outros”, comentou o delegado.
“Já foi o tempo que o criminoso vinha para se esconder. Muitos hoje vêm para a guerra. E ela (Bianca) fazia parte disso. Tirava plantão, participou de confronto. Não era à toa que ela só postava foto com fuzil”, completou Gustavo Fossati.
Apontada como ‘RH do CV’ se orgulhava de ser ‘bandida’ nas redes
Na segunda-feira (5), o juiz Pedro Ivo Martins Caruso D’ippolito, da 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, determinou a prisão preventiva de Bianca. Na decisão, ele reforçou o importante papel de Bianca na quadrilha.
“A custodiada Bianca ostenta posição de destaque na organização criminosa, responsável por coordenar criminosos oriundos de outros estados da federação”, escreveu o juiz.
Proteção do chefão
Procurada pela Justiça do Pará, Bianca passou a morar no Rio e se dividia entre os complexos do Alemão e da Penha, ambos na Zona Norte da cidade. Nas duas comunidades dominadas pelo CV, Bianca ficou sob a proteção de um dos traficantes mais perigosos do país.
Ainda de acordo com os investigadores, a presença dela foi autorizada pelo traficante Edgar Alves Andrade, conhecido como Doca, uma das lideranças do CV e responsável pela expansão do grupo para outras áreas dentro e fora do Estado do RJ.
Na última segunda-feira (5), Doca virou réu pelo ataque à 60ª Delegacia de Polícia (Campos Elíseos), em Duque de Caxias. Segundo as investigações, Doca teria ordenado a invasão à unidade, no dia 15 de fevereiro de 2025, como retaliação à prisão de outra liderança do CV.
Segundo a polícia, Doca tem uma longa lista de crimes nas costas:
mandou matar comparsas envolvidos nas execuções de três meninos em Belford Roxo;
“condenou à morte” bandidos que executaram por engano três médicos na orla da Barra da Tijuca;
tentou sequestrar um piloto de helicóptero da polícia para resgatar presos;
e comanda a Tropa do Urso, responsável por invasões a dezenas de comunidades.
Castigo por vídeo com fuzil
A presença de Bianca nas favelas do Rio começou a chamar atenção dos policiais há algumas semanas, quando um vídeo dela dançando segurando um fuzil foi divulgado em suas redes sociais. A imagem foi feita durante um baile funk no Complexo da Penha.
A cena ganhou destaque na internet e ajudou a Polícia Civil do Pará a localizar o paradeiro da foragida.
Bianca Duarte Franco, de 24 anos, apontada como ‘RH do CV’ se orgulhava de ser ‘bandida’ nas redes
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Logo que percebeu que a exposição poderia ser um problema para ela e para o tráfico da região da Penha, Doca mandou Bianca para a comunidade do Gardênia Azul, em Jacarepaguá, na Zona Oeste.
Presença nas redes
Além do vídeo dançando com fuzil no baile, sua estadia nas favelas cariocas também ficou marcada pela presença dela nas redes sociais.
Em um vídeo postado esse ano, a traficante admitiu que tinha envolvimento com o crime. Ela inclusive reclamou de quem, supostamente, estaria enviando fotos dela armada para a sua mãe.
“Minha mãe sabe que eu tiro plantão, minha mãe sabe que eu sou bandida, sabe que eu trafico, tudo o que eu faço, ela sabe. Sabe que eu ando armada”, disse Bianca no vídeo.
Em outra imagem, é possível ver que ela está em uma pedra, provavelmente em uma região de mata, de colete e balaclava. Dois fuzis também aparecem na foto, que provavelmente foi tirada na região da Gardênia. Na legenda, ela diz:
“Só ódio nessa desgraça de vida.”
Outras fotos também mostram Bianca com armas no ombro e na cintura, além de imagens dela em bailes, sempre armada e bem-vestida.
Negócios em Cabo Frio
Diferente do que pode parecer, Bianca também tomava algumas decisões por conta própria. Uma dessas decisões foi a de ir para Cabo Frio. Segundo as investigações, ela teve uma proposta para levar drogas e traficar na região. Bianca foi para Cabo Frio no feriado do dia 1 de maio.
Apontada como ‘RH do CV’ se orgulhava de ser ‘bandida’
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Ela e uma outra integrante da quadrilha foram para a favela do Morubá, comunidade que também é controlada pelo Comando Vermelho e onde elas passariam a atuar.
Um dia depois de chegar na cidade, os policiais do Pará e da 64ª DP (São João de Meriti) localizaram e efetuaram a prisão de Bianca quando ela saiu da casa onde estava para ir à padaria.
No momento da prisão, Bianca estava acompanhada de duas comparsas: a paraense Layane Tharlita Santos Santana e a brasiliense Kalita Eduarda Ataíde. Ambas presas em flagrante por tráfico de drogas e associação para o tráfico.
Segundo as investigações, Layane também integrava o CV do Pará e atuava como “mula”, responsável por levar drogas de uma favela para outra sem ser percebida. Ela respondia diretamente às ordens de Bianca.
Já Kalita foi apontada como responsável pela venda de drogas no varejo na comunidade do Morubá.
O mundo é dos espertos
A prisão de Bianca foi filmada pela polícia, e a todo momento ela parecia não acreditar. Atordoada pela prisão inesperada, ela tentou questionar um dos policiais que filmava sua prisão.
“Você vai ficar me gravando? Pelo amor de Deus”, disse.
Ao chegar na delegacia, Bianca foi questionada pelo delegado Gustavo Fossati se sabia por que estava sendo presa. Ao responder que não, ouviu uma frase que havia publicado nas redes sociais dias antes:
“Porque o mundo é dos espertos”, disse o policial.
‘O mundo é dos espertos’, postou traficante antes de ser presa
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