Papa agostiniano: veja onde a ordem se espalha pelo mundo

Todos os membros da Ordem constituem um único Instituto religiosoReprodução

A eleição do papa Leão XIV nesta quinta-feira (8) reacendeu a atenção sobre a OSA (Ordem de Santo Agostinho), à qual o novo pontífice pertence. A ordem, instituída oficialmente pela Igreja Católica em 1244, mantém atualmente cerca de 2.600 religiosos em mais de 40 países, distribuídos pelos cinco continentes.

A origem da OSA remonta à bula Incumbit Nobis, emitida pelo papa Inocêncio IV, que unificou grupos eremíticos da região da Toscana, na Itália, sob a Regra de Santo Agostinho.

Doze anos depois, em 1256, a bula Licet Ecclesiae Catholicae, do papa Alexandre IV, consolidou a fusão com outras comunidades, como os Eremitas de São Guilherme, os Britinos e os Bonitas.

No final do século XIII, a Ordem contava com mais de 500 conventos e cerca de 6 mil religiosos, presentes em países como Itália, Áustria, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Hungria, Boêmia e Países Baixos.

A sede da Ordem permanece em Roma, onde funciona a Biblioteca Angelica, fundada pelo frade agostiniano Angelo Rocca no final do século XVI. A biblioteca é uma das mais antigas da Europa aberta ao público.

As províncias são as unidades territoriais maiores da Ordem, com autonomia administrativa e liderança própria, sendo comandadas por um Prior Provincial.

Entre os exemplos de províncias, destacam-se a Província de Santo Tomás de Vilanova, na Espanha, e a Província de Nossa Senhora da Consolação, no Brasil.

Já os vicariatos são estruturas menores, geralmente vinculadas a uma província-mãe, localizadas em regiões com presença missionária recente ou com número reduzido de membros. Um exemplo é o Vicariato de Apurímac, no Peru, vinculado à província espanhola.

As delegações representam uma forma ainda mais incipiente de presença da Ordem, também subordinadas a uma província, funcionando como núcleos iniciais para futura expansão ou consolidação em determinadas áreas.

Além disso, existem federações que agrupam províncias ou vicariatos com o objetivo de facilitar a cooperação regional e o desenvolvimento de ações conjuntas.

Um exemplo é a Federação Agostiniana da América Latina e Caribe, que articula iniciativas comuns entre os países da região.

Europa

Praça de S. Pedro lotada à espera do anúncio do novo papaReprodução/Vatican News

Na Europa, a Ordem mantém frentes ativas em Itália, Espanha, França, Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Holanda, Inglaterra, Escócia, Irlanda, Malta, Polônia e Áustria.

De acordo com informações da Cúria Geral da OSA, a presença mais concentrada permanece na Itália, onde também está a sede do Prior Geral.

África

Na África, os agostinianos atuam em países como Quênia, Tanzânia, Congo, Nigéria, Guiné Equatorial e Argélia, com missões voltadas à educação e ao serviço social.

Essas frentes incluem escolas, paróquias e centros de formação teológica. Segundo informações oficiais, os projetos priorizam “a formação de lideranças locais e o apoio a comunidades em situação de vulnerabilidade”.

Américas

Nas Américas, a Ordem está estabelecida em Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Chile, Argentina e Uruguai.

Brasil

No Brasil, os primeiros registros da presença agostiniana remontam a 1663, na Bahia. A presença permanente, no entanto, foi consolidada em 1899 com a chegada de missionários espanhóis vindos das Filipinas.

A atuação atual se divide entre a Província Agostiniana do Brasil e a Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil.

Ambas mantêm atividades em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso e Ceará, operando colégios, paróquias, centros de formação, missões e iniciativas assistenciais.

Ásia e Oceania

Na Ásia, a atuação ocorre em Indonésia, Índia, Coreia, Japão, Filipinas e Papua-Nova Guiné. Em 8 de março de 2025, o frei Bernardus Bofitwos Baru, do Vicariato Christus-Totus de Papua-Indonésia, foi nomeado bispo, o que, segundo comunicado da Ordem, “reconhece o crescimento eclesial e pastoral da região”.

Na Oceania, a OSA mantém atividades pastorais e educacionais em Papua-Nova Guiné. Além da atuação local, a Ordem possui status consultivo na ONU (Organização das Nações Unidas), por meio de uma representação não governamental voltada a temas de justiça, paz e direitos humanos.

Regra de Santo Agostinho

O modelo de vida dos agostinianos se baseia na Regra de Santo Agostinho, escrita entre 397 e 400 d.C., que determina a vivência em comunidade e o compartilhamento de bens.

A regra orienta que os religiosos vivam com “uma só alma e um só coração voltados para Deus”, como consta nos documentos internos da Ordem.

A influência histórica da Ordem é representada por figuras como São Nicolau de Tolentino, Santa Rita de Cássia e o bem-aventurado Estêvão Bellesini, cujo jubileu de 250 anos de nascimento será celebrado em 2025.

A celebração, conforme anúncio da Cúria Geral, envolverá atos litúrgicos e ações sociais nas províncias em que a Ordem atua.

A eleição de um papa oriundo da OSA ocorre pela primeira vez na história recente da Igreja. Leão XIV, de origem filipina, ingressou na Ordem em 1978 e exerceu cargos de coordenação pastoral e formação religiosa na Ásia antes de sua nomeação como cardeal.

O que é o conclave?

As portas da Capela Sistina foram fechadas na quarta (7) para o início do conclaveReprodução/Vatican News

O conclave é o processo secreto e tradicional pelo qual a Igreja Católica elege um novo papa, líder da Santa Sé e chefe da Igreja.

A palavra “conclave” deriva do latim cum clave, que significa “com chave”, em referência ao isolamento dos cardeais eleitores, que ficam trancados na Capela Sistina, no Vaticano, até a definição do novo pontífice.

Esse sistema foi formalizado em 1274, por meio da Constituição Apostólica Ubi Periculum, promulgada pelo Papa Gregório X, com o objetivo de evitar interferências externas e acelerar as eleições, que, até então, podiam durar anos.

Apenas cardeais com menos de 80 anos na data de início da Sé Vacante – o período em que a Igreja está sem papa – podem votar. O número máximo de eleitores é de 120, embora esse limite tenha sido superado em ocasiões específicas.

As votações ocorrem na Capela Sistina, e os cardeais ficam hospedados na Casa de Santa Marta. Em cada votação, os cardeais escrevem o nome do escolhido em uma cédula que contém a frase Eligo in Summum Pontificem (“Elejo como Sumo Pontífice”).

São realizadas até quatro votações por dia – duas pela manhã e duas à tarde, com exceção do primeiro dia, quando há apenas uma. Para ser eleito, um candidato precisa de dois terços dos votos válidos.

Após cada rodada de votação, as cédulas são queimadas. Se não houver vencedor, adiciona-se uma substância química à queima para produzir fumaça preta, sinalizando que o conclave continua.

A fumaça branca, por sua vez, indica que um novo papa foi eleito, acompanhada do anúncio Habemus Papam. Os cardeais juram manter sigilo absoluto sobre todo o processo, sob pena de excomunhão.

A Capela Sistina é rigorosamente inspecionada para evitar qualquer meio de espionagem. Embora a duração do conclave varie, nos tempos recentes ele costuma durar apenas dois ou três dias.

Caso não haja consenso após 34 votações, são mantidos os dois nomes mais votados para uma decisão final, ainda exigindo dois terços dos votos.

Morte do papa Francisco

Caixão do PapaVatican news

Em 2025, o conclave foi convocado após a morte do papa Francisco, ocorrida em 21 de abril, aos 88 anos, em decorrência de um AVC cerebral seguido por coma e colapso cardiocirculatório. Com sua morte, teve início a Sé Vacante.

O funeral seguiu o Ordo Exsequiarum Romani Pontifici e o corpo foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, o que representou uma exceção, já que, desde 1903, todos os papas haviam sido enterrados na Basílica de São Pedro.

Conclave que elegeu papa Leão XIV

Seguindo as normas do Vaticano, o conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do papa, salvo antecipação permitida por uma norma estabelecida por Bento XVI em 2013. Como todos os cardeais eleitores estavam presentes, o conclave começou no dia 7 de maio, após o término do luto de nove dias, encerrado em 5 de maio.

Dos 252 cardeais vivos no Colégio, 135 tinham menos de 80 anos e, portanto, direito a voto. Destes, 133 participaram efetivamente, incluindo sete brasileiros: Leonardo Ulrich Steiner, João Braz de Aviz, Paulo Cezar Costa, Orani Tempesta, Odilo Scherer, Jaime Spengler e Sérgio da Rocha.

Antes do início formal, foram realizadas congregações gerais, reuniões preparatórias em que os cardeais discutiram os principais desafios da Igreja. Houve manifestações de diferentes correntes ideológicas: 44,77% progressistas, 36,7% moderados e 18,8% conservadores.

A influência do papa Francisco foi expressiva, já que ele nomeou 149 dos 252 cardeais existentes, sendo 108 deles com direito a voto, o que favoreceu candidaturas com perfil reformista.

O conclave foi iniciado com uma missa na Basílica de São Pedro, presidida pelo cardeal decano Giovanni Battista Re. Em seguida, os cardeais se dirigiram em procissão à Capela Sistina, onde foi dada a ordem Extra omnes (“Todos fora”), que marca o início do isolamento.

No primeiro dia houve apenas uma votação, como previsto, e o resultado foi inconclusivo, gerando fumaça preta.

No dia seguinte, duas votações pela manhã também não definiram um vencedor. A eleição aconteceu na terceira votação, no início da tarde do mesmo dia, totalizando três rodadas – um processo considerado rápido, semelhante aos conclaves de 2005 e 2013.

Papa anunciado

Papa foi escolhido nesta quinta (8)Reprodução/Instagram

A fumaça branca apareceu por volta das 14h (horário de Brasília), indicando que um novo papa havia sido escolhido. Minutos depois, os sinos da Basílica de São Pedro foram tocados.

O escolhido foi o cardeal americano Robert Francis Prevost, nascido em Chicago e com 69 anos de idade.

Ele assumiu o nome Leão XIV, em referência a Leão XIII, papa conhecido por sua encíclica Rerum Novarum, que estabeleceu as bases da Doutrina Social da Igreja.

Quem é Leão XIV?

Papa Leão XIV discursou aos fiéisReprodução/TV Globo

Leão XIV é considerado um reformista, alinhado à visão pastoral e de abertura iniciada por Francisco. Atuou por anos na América Latina, o que contribuiu para sua aceitação entre os cardeais do bloco reformista.

Após a eleição, o cardeal decano perguntou se ele aceitava o cargo e qual nome adotaria. Prevost confirmou sua aceitação e escolheu o nome Leão XIV.

Cerca de 30 a 60 minutos após a eleição, o cardeal protodiácono Dominique Mamberti surgiu na varanda central da Basílica de São Pedro e anunciou: Habemus Papam.

Em sua primeira aparição pública, Leão XIV concedeu a bênção apostólica Urbi et Orbi (“à cidade e ao mundo”) e disse: “Quero que essa saudação de paz entre no coração de vocês”, emocionando os fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

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