PEC 6X1: solução para o trabalhador ou risco para a economia?

A proposta de emenda à Constituição (PEC) que visa reduzir a jornada semanal de trabalho de 44 para 36 horas reacendeu debates sobre as condições de trabalho no Brasil. Enquanto seus defensores afirmam que a medida trará benefícios como melhoria na saúde mental e aumento na qualidade de vida dos trabalhadores, os críticos destacam seus possíveis efeitos negativos na economia.

No programa Strike, da BM&C News, Paula Moraes e o economista Bruno Musa exploraram as implicações dessa proposta que divide opiniões, levantando questionamentos sobre sua viabilidade em um país marcado pela baixa produtividade e desafios estruturais.

Os impactos econômicos da PEC 6X1

Bruno Musa analisou como a redução da jornada de trabalho sem ajustes salariais resultaria em um aumento significativo dos custos para as empresas, especialmente para pequenas e médias. Segundo Musa, ao elevar o custo por hora trabalhada, empresas podem optar por repassar os custos para os consumidores, gerando inflação, ou contratar menos, prejudicando o mercado de trabalho.

Ele também apontou que a produtividade do trabalhador brasileiro, estagnada há mais de 35 anos, agrava os riscos. Em um país onde a infraestrutura e a qualificação da força de trabalho são defasadas, reduzir a jornada pode levar a um círculo vicioso de menor produção, inflação elevada e desaceleração econômica.

Pequenas empresas e setor público: quem mais sofre com a mudança?

No Brasil, 80% dos empregos formais são gerados por pequenas e médias empresas, segundo dados do IBGE. Essas empresas, já sobrecarregadas pelos altos custos trabalhistas, seriam as primeiras a sentir o impacto da pec.

Para os pequenos empreendedores, que frequentemente contratam informalmente por falta de recursos, a obrigatoriedade de formalizar novos contratos para compensar a redução da carga horária pode inviabilizar negócios. Além disso, Musa destacou o impacto no setor público, com uma folha de pagamento já inchada e orçamentos limitados. Uma implementação da pec pressionaria ainda mais os cofres públicos, podendo aumentar o endividamento governamental em um cenário de elevado risco fiscal.

Educação e infraestrutura: o cerne dos problemas de produtividade no brasil

Para Musa, a produtividade brasileira não será resolvida com mudanças pontuais como a redução da jornada de trabalho. Ele argumentou que problemas estruturais, como a baixa qualificação da força de trabalho e a precariedade da infraestrutura, são os verdadeiros entraves ao crescimento econômico.

Países desenvolvidos que reduziram a jornada de trabalho, como alguns nórdicos, possuem uma base de trabalhadores altamente qualificados e tecnologia avançada, algo que está longe da realidade brasileira. No Brasil, 29% da população é considerada analfabeta funcional, segundo o IBGE, o que limita o uso de ferramentas tecnológicas e práticas inovadoras. Musa enfatizou que, sem investimentos robustos em educação e infraestrutura, qualquer medida será apenas paliativa, com pouco impacto real na produtividade.

Uma estratégia política? a PEC como cortina de fumaça do governo

Paula Moraes levantou uma questão crítica: a proposta da pec seria uma tentativa do governo de fortalecer sua base política, especialmente entre sindicatos, desviando a atenção de reformas mais estruturais?

Musa concordou, afirmando que o discurso em torno da pec apela para uma narrativa populista, retratando o mercado como vilão e defendendo direitos trabalhistas sem considerar os impactos econômicos. Ele apontou que medidas como essa alimentam a polarização entre empregados e empregadores, perpetuando um discurso ideológico que dificulta o diálogo e as reformas necessárias. Para Musa, enquanto o governo foca em políticas de curto prazo para agradar sua base, o Brasil perde oportunidades de implementar mudanças estruturais que poderiam trazer um crescimento sólido e sustentável.

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