O que são jogos shareware? Como títulos grátis mudaram a indústria

Você, jovem jogador, tem ideia de como os jogos eram descobertos e distribuídos lá nos anos 1990, em um tempo anterior a internet banda larga e plataformas como a Valve e Epic Games? Apresentamos a você o “shareware”, uma prática muito comum décadas atrás e usada, principalmente, por estúdios pequenos para que seus jogos fossem conhecidos.

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Apesar de ainda existir, os jogos shareware tiveram seu pico na década de 1990 e até chegaram aos anos 2000, permitindo que estúdios indies distribuíssem e tornassem seus títulos conhecidos o máximo possível, já que eles não eram distribuídos por grandes publishers da época.

Neste artigo, vamos explicar como funcionava a distribuição de jogos shareware, quando e como foi seu auge e o legado deixado por esse modelo que democratizou e popularizou gêneros no passado. Vamos dar uma olhada na história dos jogos shareware.


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O que eram e como surgiram os jogos shareware?

Apesar da indústria de games ter surgido na década de 1970, ganhado força nos anos de 1980, foi somente a partir de 1990 que esse segmento começou a tomar a forma que vemos hoje. Naquela época, o desenvolvimento de jogos era mais restrito e mais difícil por conta das limitações tecnológicas, algo que também refletia na distribuição.

 

E não só isso, todo título novo precisava de uma campanha de marketing para divulgação. Aliado a isso, existia a necessidade de confeccionar a edição física, já que existia somente ela décadas atrás. Isso era feito, inicialmente, em disquetes e depois passou para os CDs, ainda na década de 1990.

Tudo isso custava muito e afetava, principalmente, os desenvolvedores pequenos, em um mercado amplamente dominado por grandes estúdios, em sua grande maioria japoneses. Por isso, houve a necessidade de buscar uma alternativa de levar esses jogos menores ao público. A partir daí, surgiu a prática do modelo shareware.

Em games com episódios, como alguns point and click, era disponibilizado o primeiro episódio gratuitamente. Outros tinham um tempo definido para serem testados, mas o mais comum era um trecho específico liberado, algo como as demos fazem hoje em dia.

Porém, vale lembrar, que estamos falando de uma era antes da internet de alta velocidade. Portanto, trocas de disquetes ou CDs entre amigos e revistas, além de BBS (Bulletin Board Systems), eram os meios de distribuição mais comuns usados na época.

Um exemplo de CD com jogos shareware (Imagem: ModDB)

Jim “Button” Knopf, um funcionário da IBM na década de 1980, é considerado um dos pais dos jogos shareware. Junto de Andrew Fluegelman, desenvolvedor do PC-Talk, um software de comunicação usado para estabelecer o método shareware, popularizaram essa forma de distribuição de programas ao longo dos anos, que revelou alguns nomes bastante conhecidos.

Era de Ouro: quando o shareware dominou os PCs

A Apogee Software, que existe até hoje e distribui títulos indies, foi uma das precursoras desse modelo de distribuição de jogos. Logo em seguia, nomes como id Software e 3D Realms, entre outras, apareceram na década de 1990. Através dessas publishers, lendas como Wolfenstein 3D, Doom e Duke Nukem ganharam extrema popularidade em suas versões shareware.

Commander Keen, um jogo de 1990, que teve envolvimento de todas essas publishers em seu desenvolvimento com vários títulos lançados, é considerado um dos primeiros jogos shareware da história. Mas os icônicos games de tiro também estão entre os primeiros:

  • Wolfenstein 3D: lançado em 1992, é considerado o pai dos jogos de tiro em primeira pessoa (FPS) e ficou conhecido na época por ser distribuído no formato shareware;
  • Doom: lançado em 1993, Doom revolucionou e estabeleceu, de certa forma, o gênero de FPS. Ele ficou tão popular sendo distribuído gratuitamente de forma limitada que foi o assunto da vez na época, congestionando redes inteiras de distribuição;
  • Duke Nukem 3D: seguindo a mesma pegada dos antecessores, esse título da Apogee e 3D Realms, que chegou em 1996 aos PCs, trouxe um personagem com personalidade forte, melhorando alguns aspectos e mecânicas do gênero FPS.

Não seria exagero dizer que toda década de 1990 teve diversos sucessos no formato shareware, sendo alguns deles bem famosos: Hexen, Heretic, Scorched Earth, Blake Stone, Rise of the Triad, Jazz Jackrabbit e vários outros.

Impacto dos jogos shareware

Em uma época em que a limitação tecnológica ainda era algo bem real, os jogos shareware trouxeram inovações e mudanças para o mercado de games, principalmente nos PCs, além de ter facilitado a vida de desenvolvedores menores que não tinham condições de expor seus jogos.

Estamos falando de jogos indie em uma época em que esse termo nem existia para identificar games feitos por estúdios pequenos com orçamento limitado. A forma de distribuição também mudou a relação do consumidor com o desenvolvedor, já que os jogos eram acessíveis, mesmo que de forma limitada.

Muitos jogos shareware antigos rodaram em PCs como esse (Imagem: Joshua Woehlke)

Isso, inclusive, mudou toda a indústria e se estende até hoje. Temos demos, betas para testar servidores de um título multiplayer, acesso antecipado que derruba o preço e coloca o jogador para participar do processo de desenvolvimento, além dos free-to-play com microtransações.

Sem contar o aumento nas vendas de hardware de PC com os jogadores tendo acesso a esses jogos, mesmo que seja somente um trecho. Então foi necessário melhorar CPU, RAM, placa de vídeo e placa de som, por exemplo, o famoso upgrade de PC. Os jogos shareware deixaram um impacto tecnológico nesse aspecto.

Declínio, mas não o fim dos jogos shareware

A tecnologia foi avançando e, com o tempo, alguns formatos de distribuição foram sendo deixados de lado. Não foi diferente com os jogos shareware, que começaram a ver seu declínio acontecendo no começo dos anos 2000, principalmente, por conta da chegada da internet banda larga e a pirataria.

O PS1 foi um console com muitas demos (Imagem: eBay)

Apesar de ter sido muito difundido pelos estúdios de jogos de PC, consoles como o PS1 também disponibilizavam trechos de games, mas eram chamados de demos, caindo em desuso o termo shareware a partir de então. Avançando para os anos 2000, com a chegada da internet mais veloz, essa forma de distribuir games gratuitamente foi perdendo espaço, principalmente por conta da pirataria em países emergentes, como o Brasil.

Com a estreia e popularização das lojas digitais online a partir de 2003, sobretudo com o Steam no PC (apesar de não ser o primeiro a fazer isso), foi caindo a necessidade de disponibilizar jogos shareware. Os estúdios precisaram se adaptar e as demos, betas e acessos antecipados são consequências dessa adaptação.

Conclusão

Não resta dúvida de que o modelo de distribuição gratuito de trechos de jogos deixou sua marca na indústria dos games. Os jogos shareware marcaram uma geração e se você é dos anos 1980 ou 1990 com certeza viu revistas nas bancas com aquele CD na capa e diversos jogos dentro, todos demonstrações.

Apesar de ter caído em desuso na forma que foram concebidos, os jogos shareware deixaram um legado e por isso hoje temos outras modalidades de testes e experimentação. Essa prática ainda teve que brigar ferozmente com a pirataria, que já disponibilizava os jogos completos.

De qualquer forma, os jogos shareware deixaram sua marca na indústria de games, seja em seu auge nos anos de 1990, como agora com o seu legado que perdura há décadas.

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