Karol Conká fala sobre moda, beleza e seus 25 anos de carreira

Karol Conká tem uma carreira marcada por ousadia e autenticidade. Aos 39 anos, ela coleciona não só hits, mas também looks icônicos, centenas de cabelos diferentes e momentos marcantes na cultura pop brasileira. Precursora da geração tombamento, ela foi a responsável por empoderar milhões de meninas e mulheres pretas com suas letras e seu visual potente. Provando que o caminho pode até ser mais difícil para pessoas como ela, mas que se amar e se impor pode mudar tudo, Karol se tornou uma das maiores referências do rap nacional. 

Em 2025, ela completa 25 anos de carreira e nós batemos um papo com a artista sobre sua trajetória na música, na moda e na vida pessoal durante esse tempo, além, é claro, do que podemos esperar para o futuro. Vem ver:

Karol Conká com tranças rosas, vestido de penas branco, preto e verde, e bolsa em padrão geométrico.

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Qual o momento fashion que você mais se orgulha nesse tempo de carreira? 

Karol Conká: “Eu passei por várias fases fashion na minha carreira e é até difícil escolher. Mas eu acho que foi quando eu ganhei um prêmio no Multishow de Música do Ano com Tombei. Eu fui com um look que parecia um avestruz e o cabelo rosa, trançado na lateral, que era inspirado no cantor Ty Dolla. Eu acho que esse foi um dos momentos mais icônicos, porque naquela época gerou bastante burburinho nas redes. As pessoas que não me conheciam comentavam. ‘Quem é essa pessoa? Parece uma Nicki Minaj, uma Lady Gaga’”. 

Karol Conká em pose estilosa com roupas chamativas em estúdio de música.

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Você sempre usou a moda como forma de afirmação e resistência. Em que momento da carreira isso ficou mais forte pra você?

K.C.: “Eu comecei já desde cedo a ter essa noção de que a imagem e a beleza eram ferramentas importantíssimas para minha carreira, principalmente sendo uma mulher preta. A gente aprende desde criança a estar bem vestido, a ter uma boa aparência para não causar nenhum tipo de julgamento ou precipitação preconceituosa. Eu comecei pelo cabelo, que a minha mãe fazia tranças em mim e aquilo fazia sucesso no colégio. E aí fazia algumas modificações nos looks por conta própria mesmo.

Mais tarde eu fui conhecendo o trabalho de stylist, né? Quando eu já estava famosa. Mas antes da fama chegar eu já estava com esse desejo de entender melhor onde eu conseguia me encaixar, qual era o meu estilo, porque eu sempre permeava por vários. 

A primeira vez que eu fui numa fashion week na minha vida foi em Paris. Eu nunca tinha ido em um desfile. Aí fui para Europa fazer turnê e fui convidada para ir na Paris Fashion Week. Cheguei lá e achei incrível. As pessoas sempre me paravam perguntando sobre meu look. Nessa época eu ainda me vestia sozinha — e até hoje também eu monto meus looks, mas  conto com a colaboração de profissionais da área.

O mundo da moda sempre me tratou muito bem e eu sempre fui muito bem abraçada. E não teve como não me sentir pertencente.”

Karol Conká de perfil com cabelo trançado rosa e capa colorida com franjas.

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Como você define o seu estilo hoje e o que mudou na forma como você se expressa com roupas desde o começo da sua carreira?

K.C.: “Eu sempre achei meu estilo autêntico, original. Eu sou uma pessoa atrevida, curiosa, então sempre tem essas coisas no meu look. Hoje eu estou sempre experimentando coisas, não gosto de mesmice. Acho que a minha vida proporciona vários tipos de experiências que me tornam sempre uma nova mulher. Então, agora eu tô numa nova fase, onde eu já não curto mais o paetê e certos looks que eu usava antes. Por exemplo, parecer uma super heroína, que era uma questão que eu fazia por causa do meu filho, que era mais novinho. Eu queria que ele visse a mãe dele como uma heroína no palco. Agora meu filho já tá com 19 e eu tenho trocas incríveis e maduras com ele. Me sinto também numa fase mais madura. Então eu estou naquela fase do menos é mais, só que esse menos continua sendo impactante. 

Eu sou do colorido, só que hoje eu estou mais no monocromático. Eu amo cores vivas, mas não tão misturadas como eu fazia antes. Como eu gosto de estar sempre em movimento, acredito que estou vivendo bem essa fase agora.”

Karol Conká sorrindo com cabelo ruivo e curto, usando camisa vermelha. Ao fundo, há plantas e uma luminária acesa.

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: E já que você teve essa mudança, tem alguma tendência que antes você amava e hoje não acredita que usou?

K.C.: “Eu não tenho arrependimentos, mas tem coisas que eu não uso mais. Por exemplo, nos shows, tinha uma fase que eu usava muito hot pants e não consigo mais, porque eu enjoei de me ver dessa forma. Não tem problema nenhum nas outras pessoas, mas em mim, não. Peças com paetês pequenininhos também me incomodam — acho que é porque meu cabelo enroscava.

E tem uma coisa que eu não usaria mais: o cabelo rosa. Eu fiz por pedido dos meus fãs no começo do ano, em um show de comemoração de 25 anos de carreira, mas foi por uma ocasião especial. 

Inclusive, isso é um detalhe também: eu nunca repito o estilo do cabelo. Eu consigo lembrar de certos momentos da minha carreira através de looks e cabelo. Careca rosa foi lá por 2013, 2014, 2015. Aí depois tem o cabelo comprido. 2021 foi marcado pela troca do cabelo, de uma nova mulher, que era parecido com o da Whitney Houston. Aí depois eu fui careca de novo, só que ruiva. E agora eu tô com o Sisterlocks, que são esses mini dreads que eu estou amando.” 

STL: Falando nisso, qual é o seu top 3 cabelos de todos os tempos? 

K.C.: “O primeiro é o raspado careca, que foi, assim, o boom pra mim. Depois… o cabelinho sidecut, raspadinho aqui do lado. E eu usava e abusava do cabelo! Lembro que eu usava o estilo Grace Jones, então mostrava várias possibilidades de mexer com o crespo mesmo, com ele natural, sem os sintéticos. Ai, são top 3, né? Eu já ia falar 10! Depois eu acho que dá pra dizer que foi o cabelo do dilúvio, aquele cabelo cacheadão. Acho que foi lindo. Ai, meu Deus. E esse de agora! Vamos de top 4.”

Karol Conká

Foto: Karol Conká (Reprodução)

STL: Quando você percebeu o impacto que você tinha em outras mulheres negras com o seu cabelo rosa? E quando foi o momento que você pensou que precisava sair dele? 

K.C.: “O rosa veio em um momento que eu sentia que eu precisava ter algo a mais na minha aparência. Eu tinha lançado um álbum e não gostei do cabelo que me induziram a usar na capa. Eu não me senti confortável. Aí eu me revoltei  e fui raspar e pintar de colorido. Na época, algumas pessoas me falaram ‘Não faz isso, você tem uma testa enorme. Não vai ficar legal, cabelo colorido não combina com mulheres negras.’ Quando eu ouvi isso, aí que penseiÉ agora!’

Eu tinha ouvido de uma pessoa que se eu fizesse isso ia comprometer minha renda e da minha equipe. E pelo contrário: foi um acontecimento. Eu acho que o cabelo rosa raspado foi um ato de rebeldia e também de libertação, de protesto. Lógico que tinham muitas pessoas que tiravam sarro, faziam piadinhas, mas eu não ligava, porque eu sabia da importância que aquilo tinha. 

Mais para frente eu deixei o cabelo crescer, mas continuei no rosa. Aí usei cabelos enormes, cacheado, trança. Foi aí que começou o movimento da geração tombamento. No meu show, com as pessoas indo de cabelo rosa como uma homenagem não só a mim, mas a esse movimento de libertação. Naquela época, a pretinha que tinha o cabelo rosa, era um sinal de que ela não se deixava abater. Ela não ia deitar para o preconceito.

Então era um movimento maravilhoso! Começou com aqueles cabelos coloridos e eu fui percebendo que aquilo era um movimento causado por nós mesmos, todas as pretinhas e pretinhos que não tinham vergonha de se posicionar. 

Depois de uns cinco anos usando o cabelo rosa, eu quis mudar, para ter aquele refresh mesmo. A gente que está sempre com a cara exposta precisa dar uma repaginada, assim como os rótulos de grandes produtos, que sempre dão uma repaginada. Pensei ‘Eu vou fazer isso também, vou repaginar minha aparência e quem sabe trazer um novo movimento.’”

Karol Conká no Lollapalooza

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Quais são suas referências de estilo hoje, né? Você tem um estilo muito autêntico e queremos saber quem te inspira.

K.C.: “Eu me inspiro muito no meu sentimento. Dificilmente eu me inspiro nas coisas, nas pessoas, porque eu gosto do comportamental. Eu me inspiro muito mais no meu estado de humor, nas minhas experiências, vivências. Mas se tem uma pessoa que eu posso falar assim que me inspira é a @folakehuntoon. Ela fala de menopausa, saúde, viver sozinha, solitude. Então, eu acho ela maravilhosa.”

STL: Qual foi a maior lição de estilo que você aprendeu nesses 25 anos de carreira?

K.C.: “Eu aprendi que quanto mais à vontade, mais autêntico vai ser seu look. A gente tem que estar à vontade. E aprendi também que o gosto alheio não pode interferir na nossa vontade de se sentir estilosa. O estilo é meu, eu visto aquilo que eu me sinto bem, aquilo que eu estiver confortável. E também entendi que as pessoas têm o direito de desgostar daquilo que eu gosto — e isso traz mais autenticidade. A gente fica muito à vontade na pele que a gente habita quando a gente está bem resolvido com as questões que a gente tem com a nossa própria moda. Cada um tem o seu estado de humor e a sua opinião momentânea. Então, aprendi muito isso, a me respeitar e respeitar o estilo dos outros também.”

Karol Conká com penteado elaborado e tranças decorativas, usando vestido vermelho e sorrindo levemente.

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Tem algum truque de beleza que aprendeu e todo mundo deveria saber? 

K.C.: “Eu acho que todo mundo deveria investir um pouquinho a mais nos produtos de skincare. Mas não comprar um monte, já fiz isso e é um erro. É um bom produto. Eu faço skincare antes de dormir e quando eu acordo. Passo filtro solar, porque ajuda a não ter manchinhas. Tomo muito cuidado com o pincel de maquiagem e também não fico pegando muito no meu rosto, porque às vezes a mão está com alguma sujeirinha. 

[Além disso,] um bom creme hidratante, um bom demaquilante e um filtro solar: isso ajuda bastante. E também uma boa alimentação. O álcool ajuda a pele a ficar feinha. Então, tem que tomar bastante água enquanto ingere e não pode beber muito. Aí fica com a pele lisinha. Parece uma porcelana. 

Mas eu também faço estética, sou uma grande apreciadora de tratamentos estéticos não invasivos, como o Fotona, que é um laser que estimula o colágeno, e o Liftera. São os meus favoritos.”

Karol Conká

Foto: Karol Conká (Reprodução/Instagram)

STL: Um conselho que você daria para artistas pretas que estão começando na indústria da música.

K.C.: “Eu falaria para elas estudarem bastante sobre quem são, onde elas querem chegar e principalmente estudar os negócios da música. Já tem alguns livros lançados, inclusive essa semana eu recebi um, que é o ‘Negócios da Música: um guia descomplicado para artistas e bandas’, escrito por Alexandre Azeredo. Eu fiquei bem empolgada que é um guia descomplicado, então é fácil de ler, de entender. O conhecimento é ouro na vida de todo artista. E é muito importante estudar o negócio da música.”

STL: O que você planeja para os próximos 25 anos? 

K.C.: “Eu projeto para os próximos 25 anos poder colaborar com artistas novos, porque agora eu tenho bastante bagagem e conhecimento. Pretendo lançar álbuns maravilhosos e seguir o mesmo caminho da Elza Soares, que é cantar até o fim e me tornar a mulher do fim do mundo.”

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