Como a RAR Agro & Indústria Quer Faturar R$ 1 Bi com Maçã, Queijo, Vinho e Azeite

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O que faz alguém entrar em uma empresa como menor aprendiz e nunca mais sair dela? Ou outro com planos para dois anos na empresa, com tudo certo para continuar os estudos na universidade francesa de Clermont-Ferrand, e ainda hoje sustentar um crachá? O primeiro é o mestre queijeiro Jiovanni Foiatto, 42 anos; o segundo é o engenheiro agrônomo Celso Zancan, 65 anos, respectivamente gerente de produção e diretor de fruticultura na gaúcha RAR Agro & Indústria, com sede em Vacaria, que acaba tomar um “banho de loja”, o que significa uma atualização da imagem, um realinhamento na gestão dos negócios e uma meta a perseguir: chegar à receita líquida de R$ 1 bilhão até 2034, crescendo a uma média anual próxima de 10%.

Em 2024, a RAR Agro & Indústria faturou perto de R$ 500 milhões e prevê para este ano uma receita de R$ 580 milhões. A RAR é a maior produtora de maçãs do Brasil, a maior produtora de leite do Rio Grande do Sul e está entre as 10 maiores do país, além de produzir vinhos – são 30 rótulos, com produção própria e em parceria – e azeite, no mesmo modelo. As cadeias da RAR são totalmente verticalizadas do campo ao varejo, com parte até o consumidor por meio de lojas próprias.

“O segredo está nas pessoas. O produto começa no campo, mas só chega com qualidade na mesa porque tem gente boa em cada etapa”, diz Sérgio Martins Barbosa, presidente executivo, ele mesmo um produto dessa receita de longevidade. Barbosa está na empresa há 30 anos, dos quais os últimos dois no atual cargo.

O crescimento virá da ampliação de área agrícola, expansão da produção de queijos, reforço nas exportações e possíveis aquisições em segmentos complementares à maçã e aos produtos da RAR Gastronomia. “Estamos atentos a oportunidades de aquisição que complementem nossas frentes estratégicas”, afirma ele.

A RAR, que pertence à família Randon, existe desde os anos 1970, criada pelo empreendedor Raul Anselmo Randon. Ele é o fundador do atual Randoncorp, com sede em Caxias do Sul, a cerca de 100 km de Vacaria, conglomerado que é um dos maiores fabricantes de implementos rodoviários e autopeças da América Latina, presente em cerca de 120 países, listado na B3 e com receita de R$ 3,26 bi em 2024. “A nossa cultura vem do seu Raul: contratar pessoas melhores do que você e deixá-las trabalhar. É isso que garante resultado”, diz Barbosa.

Carlos Bado_RAR

Maçãs, queijos, vinhos e azeites são os produtos da RAR

Na boca de Zancan, isso significou ter sido desafiado continuamente no emprego de tecnologias. Não por acaso, se tornou mestre em fruticultura. “A fruticultura é dinâmica e somos cobrados pela busca por tecnologia. Isso te dá plena liberdade de explorar, de ir além e crescer”, afirma Zancan. Foiatto, que morou na Itália e passou cerca de seis meses dentro de uma fábrica de queijos, e hoje sustenta também títulos de administrador e MBA, diz que sua função hoje vai além de mestre queijeiro. “É cuidar de cada processo, de cada passo, para fazer o melhor tipo grana”, afirma.

Nos últimos anos, a empresa tem investido cerca de R$ 60 milhões Iniciado em 2023, o processo de reorganização estratégico da empresa agora tem um modelo de negócio agrupado em três unidades: Rasip Agro (frutas, leite e grãos), RAR Gastronomia (alimentos e bebidas industrializados) e a holding institucional RAR Agro & Indústria.

V.Ondei

Preparação das maçãs, antes de irem para o mercado

“É uma data histórica para nós”, disse Barbosa na quinta-feira (8), quando a empresa apresentou seu plano na sede da companhia. O objetivo da reorganização pretende corrigir distorções de percepção de marca, unificar identidade visual e simplificar a comunicação com o mercado. Por exemplo, uma pesquisa conduzida com 1.300 consumidores das regiões Sul e Sudeste apontou que apenas 10% associavam a marca RAR a alimentos. Já a marca de produto Gran Formaggio, do queijo tipo grana, tinha reconhecimento de 30%. Com base nesse dado, a empresa optou por alinhar todos os rótulos à marca RAR e priorizar a visibilidade dos produtos de maior valor agregado.

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Jiovanni Foiatto, mestre queijeiro

A produção de maçã segue como o principal pilar da empresa. Do faturamento total, cerca de 45% vem da fruta. Atualmente, a Rasip Agro possui 1.350 hectares de macieiras, com plano de expansão para 1.500. “O plantio de apenas um hectare a mais demanda um investimento de R$ 250 mil”São 1.350 hectares plantados com previsão de expansão para 1.500 hectares, concentrados nas variedades Gala e Fuji.

No caso da Gala, que é uma variedade da fruta, os pesquisadores da RAR conseguiram encontrar, por meio de cruzamentos naturais, uma fruta resistente ao fungo glomerella. A doença afeta a macieira durante o verão e pode até matar a planta. Com o clone multiplicado, que significa menos defensivos na lavoura, agora a RAR tem uma marca de fruta exclusiva para esse tipo de fruta.

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Vacas holandesas se alimentam exclusivamente de silagem de milho de alta qualidade

A produção total de maçãs é da ordem de 20 mil toneladas/ano. Com a expansão para 500 hectares de Belgala, que é o nome da Gala melhorada geneticamente, a meta é que ela represente até 30% da produção. Além do mercado interno, a maçã é exportada para Índia, Alemanha, Singapura, Emirados Árabes e outros destinos.

Além das maçãs, a empresa cultiva uvas e oliveiras. São 50 hectares de vinhedos em Vacaria, com vinificação terceirizada na Miolo, e 24 hectares de oliveiras plantadas em encostas na mesma região. A marca de azeite própria é Nossa Senhora das Oliveiras. A companhia também importa azeites do Chile sob sua marca e mantém parceria com produtores locais.

Queijos, vacas e economia circular

Na operação de leite, a RAR mantém o maior rebanho individual do Rio Grande do Sul. São 1.400 vacas da raça holandesa em lactação, dentro de um plantel de 3.500 animais, com produção diária entre 45 mil e 50 mil litros de leite, o que significa uma média por vaca de 30 litros a 35 litros. No Brasil, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a média nacional é de cerca de 6 litros por vaca por dia.

Na RAR, toda a matéria-prima é processada internamente para a produção do queijo tipo grana Gran Formaggio. “Os queijos são maturados por cerca de 1 ano a 1 ano e meio”, diz Foiatto. Uma curiosidade: para cada forma de 35 kg de queijo estocado são utilizados 500 litros de leite de cru, ou seja, ele não passa por pasteurização. Isso requer um altíssimo grau de eficiência de manejo, encontrado em pouquíssimos projetos no país. São 70 pessoas trabalhando apenas no laticínio, mais 90 no centro de confecção dos produtos.

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Vacas em lactação no momento da ordenha

Lançado em 1998, o queijo foi o primeiro tipo grana produzido fora da Itália e de rebanho próprio em larga escala. “Esse leite vem de um rebanho com certificação de bem-estar animal, alimentado com silagem produzida em sistema de fertirrigação com reaproveitamento de dejetos e geração de biogás”, diz Angelo Sartor, CEO da RAR Agro & Indústria. Segundo o executivo, a utilização de biodigestores para geração de biogás substitui 250 mil litros de diesel por ano, o que dá em uma uma da ordem de R$ 1,5 milhão.

Na operação dessa economia circular, os dejetos dos animais são separados e a parte sólida dos resíduos é processada e reutilizada como cama para os animais descansarem. A parte líquida é usada em fertirrigação em cerca de 600 hectares de milho que abastecem a silagem usada na alimentação. “A rastreabilidade é total, do plantel ao produto final”, diz Sartor. Além do queijo tipo grana, a unidade de laticínios fabrica parmesão de oito quilos, queijos ralados, creme de leite e manteiga.

Importações, exportações e franquias

Na unidade de negócios Gastronomia, a RAR tem um projeto de expansão de suas cinco lojas, das quais quatro são franquias. O plano de expansão prevê entre 20 e 50 unidades nos próximos anos. O caminho é o de fortalecer as linhas de vinhos e azeites com parceiros internacionais. Além das bebidas que produz, a linha RAR Masi é resultado de co-branding com a vinícola italiana Masi, que opera unidades na Itália e na Argentina. A RAR é a única empresa brasileira autorizada a utilizar a marca RAR Masi.

A unidade também atua como importadora de queijos duros (Grana Padano, Parmigiano Reggiano, Pecorino Romano) e presuntos curados. A operação de importação processa de três a quatro contêineres por mês. Na linha de charcutaria, a empresa desenvolveu uma tecnologia própria de embalagem a vácuo com shelf life de nove meses sem refrigeração obrigatória, o que ampliou a presença em gôndolas e adegas. O volume de vendas saltou de 5 para 20 toneladas por mês.

Sartor explica que no caso das franquias, o que ocorre agora é uma retomada. “A gente já teve umas experiências, porque franquia é assim: tu abre e fecha, abre e fecha. Fechamos algumas sim e agora estamos com um pouco mais de cautela, mas também vamos em frente neste modelo.” Em 2024, o setor de franquias faturou R$ 273 bilhões no país, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF).

A operação internacional, que começou com o envio de maçãs ao mercado europeu, hoje abrange também o segmento de laticínios, com o grana e onde a companhia quer apostar.  No setor de frutas, a marca  exporta regularmente para países como Alemanha, Inglaterra, Irlanda, Portugal, Emirados Árabes, Singapura e Índia. Mesmo no ano passado, com as enchentes no estado, a empresa manteve sua presença no mercado externo. “A estratégia da companhia é sempre exportar. Mesmo que você tenha pouca fruta, você destina a fruta do mercado interno para o mercado externo. São parcerias de longo prazo”, afirma Sartor. Para as maças, a meta é manter uma média de 20% da produção destinada à exportação.

A operação de laticínios também vem ganhando protagonismo internacional. Em 2024, a empresa iniciou os embarques do queijo tipo grana  para os Estados Unidos, com a meta de capturar até 2% do mercado local desse tipo de produto. “Se nós conseguirmos pegar desse mercado 2%, vamos estar ampliando a nossa linha de produção aqui em aproximadamente 20%”, diz o executivo.  Hoje, ele está presente em 20 pontos de venda no território norte-americano.

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