Não sei como te contar, mas a chuteira de cravo é o novo sapato da moda

Diretamente dos campos de futebol, o item mais improvável do uniforme dos jogadores se tornou o novo sapato da moda: a chuteira de cravo. Não, você não leu errado — é com cravos mesmo. Aqueles projetados sob a sola para dar tração na grama e evitar escorregões. A trend, que virou febre no TikTok, atende pelo nome de #bootsonlysummer, onde jovens passaram a usar esse calçado funcional e polêmico em produções casuais e super fashionistas.

Mas não pense que esse movimento surgiu do nada. O hype já vinha sendo construído há algum tempo, impulsionado pelo boom do blokecore e pelo sucesso do Adidas Samba — modelo criado originalmente para treinos de futebol em quadras e superfícies geladas, e que hoje é presença quase obrigatória em qualquer sapateira.

Ficou curiosa? Nesta pauta, a gente te conta tudo sobre a trend que está bombando no TikTok, as celebridades que já aderiram e relembra momentos icônicos do futebol que ajudam a explicar por que a chuteira de cravo, agora, é sinônimo de estilo fora dos campos.

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@renexramirez

Afinal, quem criou a ideia do uso das chuteiras como tênis casual? 🤔 #chuteiras #blokecore #camisadetime #bootsonlysummer

♬ som original – renexramirez

o que significa a hashtag #bootsonlysummer que está bombando no tiktok?

Assim como toda trend passageira do TikTok, é difícil prever o que realmente vai se manter relevante nos próximos meses. Algumas somem tão rápido quanto surgem. Outras nos surpreendem, ganham força e acabam desencadeando uma série de microtendências que, juntas, apontam para uma macrotendência — um movimento mais amplo, complexo e duradouro dentro da moda.

Mas afinal, o que significa a hashtag #bootsonlysummer? Enquanto no Brasil nos preparamos para o inverno, o hemisfério norte se aproxima do verão 2025 — e com ele, uma tendência no mínimo curiosa e polêmica. O termo, que pode ser traduzido como “verão só de chuteiras”, passou a circular nas redes promovendo o uso de chuteiras com cravo como o novo calçado da moda. Nada de campo, treino ou jogo: a proposta aqui é transformar o item esportivo em sapato casual, combinando com jorts, minissaias, calças jeans baggy e qualquer look que antes pedia um tênis.

Mulher em saia branca, acena saindo de carro. Usa camisa estampada e chuteira com cravo discreto.

Foto: Rosalía (Reprodução/Getty Images)

Só na última semana, o interesse pela hashtag cresceu mais de 155%. Nas redes, a trend saiu do campo e começou a ganhar status fashion — impulsionada por usuários e até celebridades, como Rosalía, que apareceu usando chuteiras de cravo da New Balance a caminho de uma prova para o Met Gala. A peça mal era visível sob a saia volumosa, mas deixou claro que o #bootsonlysummer já não é mais só uma trend passageira do TikTok.

Foto: Ronaldinho Gaúcho (Reprodução/Getty Images)

usar chuteira de cravo em look casual é tão novidade assim?

Muitos podem acreditar que a geração Z foi pioneira nesse movimento de usar chuteiras em looks casuais, mas não é bem assim. Quem viveu a infância ou adolescência no início dos anos 2000 sabe: usar chuteira para ir à escola, passear no shopping ou até ir à igreja era mais comum do que se imagina. Todo garoto — e garota (eu me incluo nessa) — sonhava em ter uma Total 90, principalmente se fosse a do Ronaldinho Gaúcho, o bruxo do futebol.

Foto: Ronaldo Fenômeno (Reprodução/Getty Images)

Esse modelo, aliás, esgotou assim que chegou às lojas, impulsionado por ídolos como o próprio R10 e, antes dele, o Ronaldo Fenômeno, que já fazia história com suas chuteiras em campo. Um momento difícil de esquecer foi na final da Copa do Mundo de 1998, quando ele apareceu com as chuteiras Nike Mercurial R9 penduradas no pescoço junto à medalha de prata. A Seleção havia acabado de perder a final para a França e a chance de conquistar o pentacampeonato naquele ano, mas o impacto visual — e emocional — daquela imagem ficou marcado para sempre.

@guiadoscuriosos

Kichute: a história daquela que foi a primeira chuteira de várias gerações de meninos e meninas. Eu usava o meu pra tudo. Até pra jogar futebol! (Agradeço ao colecionador Sérgio Paz pelo empréstimo desse Kichute novinho. Curiosidade: tamanho 28) #kichute #chuteira #futebol

♬ Epic Inspiration – DM Production

Muito antes disso, o uso de chuteiras — ou calçados com visual esportivo e solado de borracha com cravo — já era comum em looks casuais. Nos anos 70 e 80 esse costume não tinha relação com estilo, e sim com praticidade e economia. Para muitas famílias brasileiras, o calçado da criança ou do adolescente precisava servir para tudo: escola, brincadeiras na rua e, claro, futebol.

Foi nesse cenário que um dos modelos mais emblemáticos ganhou espaço: o Kichute. Lançado oficialmente em 15 de julho de 1970 pela São Paulo Alpargatas, o tênis surgiu em meio à euforia nacional pela conquista do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira no México, apenas 24 dias antes. Simples, robusto e resistente, o Kichute era usado tanto para jogar futebol quanto como calçado principal do dia a dia.

Apesar de ter sido criado com foco na prática esportiva — especialmente futebol e vôlei —, ele ultrapassou as quadras e os campinhos. Com seu design preto, sola de borracha com cravos e o clássico cadarço branco, o Kichute virou ícone de uma geração que cresceu sem distinção entre o que era roupa de jogar bola e o que era roupa para viver a vida.

por que a chuteira virou um novo código de estilo nas redes e no street style?

Quando falamos de Brasil, não é nenhuma novidade que a camisa de time sempre fez parte da nossa cultura — especialmente nas periferias, onde o uniforme mais comum era a combinação de camisa de futebol, bermudão da Cyclone e um par de Nike Shox ou Kenner. Como diria o FBC na música De Kenner, para complementar o outfit: “os cria da VIP vão de Kenner, nove em dez no baile tão de camisa do Messi, Cyclone, bigodin finin’, corrente Juliet da mesma cor pra combinar com o Kenner”. A letra sintetiza com precisão um estilo de vida que há muito tempo se expressa por meio da roupa — muito antes do TikTok transformar isso em estética global, como é o caso do blokecore.

@stealthelook

pov: você é viciada em camisas e peças de time e usa elas no dia a dia 😮‍💨✨ #tiktokfashion #camisadetime #moda #fashioninspo

♬ som original – Steal The Look – Steal The Look

O movimento, que começou a ganhar força em 2022, resgatou o visual de pais, tios e irmãos mais velhos — homens comuns que usavam camisas de time com calça jeans, jaquetas esportivas e tênis em qualquer ocasião. Esse estilo despretensioso, típico dos pubs e arquibancadas inglesas, mostra como o futebol sempre foi um fenômeno cultural que ultrapassa o esporte. E foi justamente esse visual cotidiano dos anos 90 e 2000 que viralizou nas redes sociais, como TikTok e Twitter, dando origem a um novo código de estilo.

Foto: Hailey Bieber (Reprodução/Getty Images)

Outro marco importante nesse processo foi o sucesso estrondoso do Adidas Samba. O modelo, resgatado dos arquivos da marca, se transformou em um dos tênis mais desejados dos últimos anos — e abriu caminho para que outras silhuetas com estética esportiva e referências do futebol ganhassem espaço.

É nesse cenário que a chuteira de cravo entra em campo — literalmente e fora dele. Mesmo sendo um item totalmente funcional, feito para jogar bola, não seria nada absurdo imaginar que ela também pudesse virar trend. E virou. O crescimento da hashtag #bootsonlysummer nos últimos dias mostra que, na moda, o improvável pode se tornar inevitável.

Foto: Mazinho, Bebeto e Romário comemoram o gol contra a Holanda na Copa de 1994 com o icônico gesto do “embala neném”, em homenagem ao filho recém-nascido de Bebeto. (Reprodução/Getty Images)

como o hype do brasil se estende até pelo menos 2027

Futebol é mais do que um esporte no Brasil — é parte da nossa identidade cultural e emocional. Quando pensamos no nosso país, é uma das primeiras palavras que vêm à mente. E não só pelo que representa dentro de campo, mas pelo que constrói fora dele: para muitos, o futebol é também um dos primeiros laços afetivos com os pais. Uma paixão em comum, um momento de conexão genuína, torcendo juntos, vibrando com o time do coração — no estádio, na sala de casa ou no radinho de pilha na cozinha. Como diria Jorge Ben, “é coisa nossa”.

Democrático, acessível e popular, o futebol é expressão viva da nossa cultura. E o Brasil tem o privilégio de ser o berço de alguns dos maiores nomes da história do esporte — jogadores que se tornaram ícones globais, dentro e fora das quatro linhas. Não é por acaso que o mundo inteiro olha para cá com admiração. Nossa energia, nosso estilo, nossa espontaneidade… não tem outro igual.

Jogador de futebol brasileiro cabeceia a bola usando chuteira de cravo, sobre campo verde.

Foto: Kerolin em campanha de divulgação do novo uniforme da Seleção Brasileira de Futebol Feminino (Reprodução/Nike)

Hoje, o Brasil está em alta — e esse hype só tende a crescer. Em 2026, teremos mais uma edição da Copa do Mundo Masculina, e o país já respira expectativa por um novo título, sonhando com o tão esperado hexa. E em 2027, vamos ainda mais longe: seremos sede da Copa do Mundo Feminina de Futebol, um evento histórico que coloca o Brasil no centro das atenções não só esportivas, mas também culturais.

O futebol faz parte das nossas raízes, mas vai muito além do campo. Ele dita tendências, influencia comportamentos e movimenta conversas — o mundo está de olho em nós. E o Brasil, mais do que nunca, ocupa um lugar de destaque nesse cenário. 

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