Animais Podem Dar Tanto Apoio Emocional a Quem Precisa Quanto um Humano

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Quero contar uma historinha. No Instituto Perdizes, instituição do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP que presido, um cachorro foi treinado para dar apoio emocional a quem mais precisa: doentes terminais e pacientes com quadros gravíssimos de dependência de álcool e drogas.

Funciona assim: a Daniela, tutora do cão, bate na porta do quarto de um paciente e pergunta e ele se gostaria de receber a visita de um cachorro. Muitos levam um susto. Uma parcela desses doentes foi abandonada por seus familiares; isso quando sequer têm uma família ou amigos com que contar. Por isso, se emocionam de receber essa oferta.

O cachorro entra no quarto, deita a cabeça no colo do doente ou lambe a mão dele. Aquela pessoa que se sentia desesperançada e sozinha, recebe o conforto de um bicho que está ali para lhe dar afeto e lhe fazer companhia. O que nós, médicos, vemos diante dos nossos olhos são cenas comoventes. O doente abraça o cão, chora, agradece a presença dele, sente-se reconfortado.

Esse cachorro que diariamente atua no hospital é o Franc, o meu golden retriever. E a tutora é a minha mulher Daniela. Franc foi treinado para dar suporte a qualquer pessoa que se vê em situações extremas como doenças graves ou terminais, catástrofes climáticas, desastres da natureza como terremotos, furacões ou enchentes.

O Franc conquistou a sua medalhinha de profissional de suporte emocional com galhardia. Mas há todo um contingente de animais, que vão de gatos a hamsters, que atuam cotidianamente trazendo a seus tutores o mesmo que o Franc traz aos doentes: bem-estar emocional.

Segundo a American Psychiatric Association (APA), 1 em cada 5 tutores tem um animal para lhe dar suporte nos momentos em que precisam. Você já deve ter visto muitos vídeos nas redes sociais de pessoas com fobia ou medo de avião viajarem acompanhadas de seus pets para lhe darem conforto.

Uma pesquisa feita pela APA revelou que 84% dos entrevistados afirmam que seus animais de estimação lhes trazem um impacto positivo na saúde mental tanto quanto outro humano e 62% dizem que eles os acalmam e ajudam a reduzir o estresse. Uma revisão de 70 artigos científicos mostrou que os pets também podem ajudar a reduzir sintomas de depressão e ansiedade.

Animais de suporte emocional também podem desempenhar um importante papel no tratamento de algumas questões de saúde mental, ajudando a atenuar sintomas (como é o caso da depressão) e reduzir a solidão. Sabemos que questões mais graves de saúde mental tendem a levar algumas pessoas a se afastarem de seus círculos sociais, e o pet (qualquer um) pode proporcionar o conforto emocional que eventualmente um humano talvez não conseguisse. Além disso, o bicho traz algo essencial a quem sofre com alguma questão de saúde mental: aceitação sem julgamento.

O Franc agora se prepara para iniciar uma nova etapa de sua missão: entregar cartinhas aos doentes do Instituto. Ele estará equipado com um colete que conterá cartas com mensagens positivas para que o paciente possa se distrair e ler algo que o ajude a melhorar a sua autoestima.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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