Como o Efeito Cascata das Tarifas de Trump Afeta o Brasil

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Neste segundo mandato de Donald Trump como POTUS (“President of the United States”), as tarifas deixaram de ser uma ameaça velada para se tornarem uma realidade. Trump sempre se mostrou favorável à tarifação de outros países como estratégia para fortalecer a economia americana. Contudo, em sua primeira gestão, havia imposto tarifas de forma mais concentrada na China, que retaliou com medidas semelhantes, sem provocar grandes impactos globais.

Após a reeleição de Trump, os EUA passaram a aplicar tarifas de forma mais agressiva. Em 1º de fevereiro de 2025, anunciaram a medida contra o Canadá e o México, além de um aumento adicional de 10% sobre produtos chineses.

Após um período de pausas na escalada tarifária, em 2 de abril de 2025, o presidente americano anunciou a imposição de “tarifas recíprocas”, além de um percentual universal de 10% sobre todas as importações e de 25% sobre veículos produzidos por montadoras estrangeiras. Trump batizou a data de “Dia da Libertação” dos EUA, tendo se inspirado na política tarifária do presidente William McKinley (1897-1901), uma das mais emblemáticas em se tratando de protecionismo econômico. Contudo, Trump omitiu um ponto importante, eis que McKinley evoluiu de uma posição de protecionismo absoluto para uma abordagem mais flexível, aberta ao comércio recíproco.

Desde então, o mercado financeiro global – especialmente o americano – tem oscilado como uma gangorra. No dia 4 de abril, o S&P 500 caiu 6%, após uma queda de 4,8% no dia anterior, marcando a maior variação negativa semanal do índice desde o início da pandemia. A baixa nas bolsas americanas nesses dois dias gerou uma perda aproximada de US$ 6,6 trilhões em valor de mercado. O dólar também recuou em relação às principais moedas globais. No Brasil, a moeda americana fechou o dia 3 de abril em R$ 5,62, um dos menores valores de 2025.

Economistas vêm alertando que as tarifas podem prejudicar o crescimento econômico e pressionar a inflação. A abordagem oscilante de Trump tem minado a confiança empresarial e abalado os mercados financeiros.

Em 11 de maio, os EUA e a China anunciaram um acordo que estabeleceu uma trégua de 90 dias na guerra comercial. Durante esse período, ambos cortarão as tarifas em 115%. As taxas americanas sobre produtos chineses foram reduzidas de 145% para 30%, enquanto a China diminuiu de 125% para 10%.

E as consequências diretas para o Brasil? Por enquanto, os impactos mais significativos se concentram no aço, no alumínio e no etanol, gerando preocupação para a economia brasileira.

Foi implementada uma tarifa de 25% sobre todas as importações americanas de aço e alumínio, afetando diretamente o Brasil, um dos principais fornecedores desses metais para os EUA. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimam que essas tarifas podem resultar em uma queda de 2,19% na produção brasileira de aço, retração de 11,27% nas exportações e perdas de até US$ 2,9 bilhões para o setor.

Empresas como ArcelorMittal, Ternium e CSN – grandes exportadoras para os EUA – estão entre as mais afetadas. Já a Gerdau, que possui 11 unidades de produção em território americano, poderá mitigar parte dos impactos negativos devido à sua presença local.

O setor de etanol também está na mira. Atualmente, os EUA aplicam uma tarifa de 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil mantém uma taxa de 18% sobre o produto americano. Essa assimetria levou Trump a considerar medidas de reciprocidade, o que pode impactar as exportações brasileiras.

Apesar disso, o impacto geral das tarifas sobre o PIB brasileiro é considerado limitado. Estimativas indicam que a perda nas exportações totais seria de apenas 0,03%, com um ganho de saldo comercial de US$ 390 milhões devido à redução nas importações.

Entretanto, a tarifa universal de 10% sobre todas as exportações aos EUA pode tornar os produtos brasileiros mais caros no mercado americano, afetando a demanda e, consequentemente, o volume exportado. Isso é especialmente relevante para o café, já que os EUA são o principal destino das exportações brasileiras do produto, e ainda não se sabe ao certo qual será o efeito dessa medida, porquanto os demais países exportadores podem ter uma taxação até superior à brasileira.

O governo brasileiro expressa preocupação com as novas tarifas dos EUA e avalia medidas como acionar a OMC, embora esse processo seja frequentemente ineficaz, por sua morosidade, ou adotar tarifas retaliatórias, que podem aumentar as tensões comerciais, sem garantir resultados positivos. Por isso, negociar diretamente com os Estados Unidos surge como a estratégia mais promissora, como demonstrado no acordo recente fechado entre EUA e Reino Unido, em 8 de maio de 2025. Políticos e diplomatas brasileiros já iniciaram conversas com negociadores de Trump.

Espera-se conseguir reduzir a alíquota sobre a exportação de aço e alumínio de 25% para pelo menos 10%. Além disso, o Brasil busca diversificar suas parcerias comerciais, como evidenciado pelos acordos assinados com a China nos dias 12 e 13 de maio, incluindo um de swap cambial e 36 focados no livre comércio e multilateralismo, visando reduzir a dependência do mercado americano e fortalecer sua posição econômica no cenário global.

O impacto das tarifas não se limita à economia. Politicamente, tais medidas também enfrentam forte resistência. Pesquisa do instituto Ipsos, contratada pelo jornal Washington Post e pela rede de TV ABC News, revelou que 55% dos americanos desaprovam essa iniciativa de Trump. O percentual torna Trump o presidente dos EUA com a pior aprovação nos primeiros cem dias de mandato em 80 anos, indicando que a estratégia pode gerar ainda mais pressões sobre sua administração, aumentando a volatilidade dos mercados.

*Ananda Rodrigues Bandeira, associada do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

O post Como o Efeito Cascata das Tarifas de Trump Afeta o Brasil apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.