Congelar o salário mínimo resolve ou esconde um problema maior?

A proposta de congelamento do salário mínimo por seis anos, apresentada pelo ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, durante a Brazil Conference at MIT em 2025, gerou intensa discussão. A ideia é ajustar o salário mínimo apenas pela inflação do ano anterior, como forma de conter os gastos previdenciários crescentes. Essa medida, segundo Fraga, poderia representar um ajuste fiscal de 1% do PIB, abrangendo os dois últimos anos do atual mandato do presidente Lula e mais quatro anos, caso ele seja reeleito em 2026.

A proposta foi recebida com críticas, especialmente nas redes sociais, onde foi considerada insensível. A Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) repudiou a ideia, classificando-a como elitista e cruel. A Abed argumenta que essa abordagem penaliza a população, enquanto os rentistas continuam a lucrar com altos juros e lucros recordes. No entanto, o debate sobre a sustentabilidade do sistema previdenciário brasileiro é complexo e exige uma análise aprofundada.

Por que a Previdência Social é um desafio?

O sistema previdenciário brasileiro enfrenta desafios significativos. Em 2024, consumiu 52,5% dos gastos primários da União, segundo o especialista em finanças públicas Raul Velloso. Essa proporção cresceu significativamente desde 1987, quando era de 22,3%. A vinculação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo é um dos principais fatores que contribuem para essa situação. Essa prática, incomum em outros países, concede ganhos reais a pessoas que já deixaram o mercado de trabalho, aumentando os custos do sistema.

Quais são as implicações do reajuste do salário mínimo?

O restabelecimento dos reajustes reais do salário mínimo pelo governo atual pode ter um impacto financeiro significativo. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, estimou que isso poderia custar R$ 1,3 trilhão. Embora existam estimativas menores, a economia prevista com a reforma da Previdência de 2019 pode ser comprometida. O desafio é encontrar um equilíbrio entre garantir o poder de compra dos beneficiários e manter a sustentabilidade fiscal.

Como outros países lidam com a questão previdenciária?

Em muitos países, inclusive nas nações ricas, os benefícios previdenciários são ajustados apenas pela inflação, preservando seu valor real. Elevações reais nos benefícios são geralmente atribuídas aos trabalhadores ativos, como parte dos ganhos de produtividade. Essa prática evita sobrecarregar o sistema previdenciário com custos adicionais para aqueles que já não contribuem para o mercado de trabalho.

Qual é o caminho para uma solução sustentável?

A proposta de Arminio Fraga, embora controversa, levanta a necessidade de uma solução definitiva para a questão previdenciária no Brasil. Uma possibilidade seria a revogação do artigo 201, § 2º da Constituição, que garante que nenhum benefício tenha valor inferior ao salário mínimo. Essa mudança poderia ajudar a controlar os gastos, mas enfrenta resistência devido ao temor de que a norma seja considerada cláusula pétrea pelo Supremo Tribunal Federal. O debate continua, e encontrar um caminho sustentável é crucial para o futuro da Previdência Social no Brasil.

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